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Exposição de “arte degenerada” abre ao público

A woman looks at artworks on a wall
São 160 obras em exibição, a maioria das quais foram confiscadas de coleções alemãs pelos nazistas em 1937 e 1938 Keystone/Peter Klaunzer

Uma exposição em Berna exibe obras confiscadas pelos nazistas como "arte degenerada". Os visitantes podem ver peças da polêmica coleção Gurlitt, deixada para o museu suíço pelo filho de um colecionador de arte nazista.

Otto Dix, Leonie, 1923
Otto Dix, Leonie, 1923, Litografia colorida sobre papel, Kunstmuseum Bern, Legado de Cornelius Gurlitt 2014. Proveniência em esclarecimento/Atualmente não há indícios de arte saqueada © 2017, ProLitteris, Zurique. Kunstmuseum Bern

Quando Cornellius Gurlitt foi encontrado por funcionários da alfândega transportando € 9.000 em dinheiro em um trem saindo de Zurique para Munique, em 2010, ninguém poderia imaginar como essa história acabaria.

O valor estava abaixo do limite legal, mas levantou suspeitas suficientes para a polícia alemã vasculhar a casa de Gurlitt em 2012.

O apartamento do filho recluso de um dos comerciantes de arte de Hitler continha milhares de obras de arte inestimáveis. A descoberta gerou uma série de acontecimentos que acabaram levando à exposição inaugurada na quinta-feira, 2 de novembro, no Museu de Belas Artes de Berna.

A história por trás do tesouro contaminado que está sendo exibido é complexa e extraordinária.

O que há na exposição?

Em exibição estão cerca de 150 obras de arte originais da coleção Gurlitt. Há algumas pinturas, bem como obras em papel que representam vários movimentos artísticos, incluindo o simbolismo, o expressionismo e o construtivismo. As obras estão à mostra para o público em geral pela primeira vez, e cada peça é apresentada com informações básicas sobre sua origem.

Nenhuma das obras em Berna tem alguma pergunta em aberto sobre se foram tiradas à força de famílias judias durante a Alemanha nazista.

Todas as obras de arte da exposição de Berna vieram originalmente de vários museus; as peças foram confiscadas pelos nazistas por serem consideradas “arte degenerada”, um termo usado pelo partido de Hitler para descrever a arte moderna como supostamente “não-alemã”, judia ou comunista.

“As obras foram manipuladas pela família Gurlitt”.

Uma outra exposição, associada a de Berna, mostrará no Bundeskunsthalle de Bonn, na Alemanha, obras da coleção Gurlitt que foram retiradas de proprietários privados pelos nazistas e peças cuja proveniência – ou propriedade original – ainda não foi esclarecida.

Nina Zimmer, diretora do Museu de Belas Artes de Berna, disse em uma coletiva de imprensa que o objetivo principal dos curadores era “apresentar as peças como obras de arte em seu próprio direito e não apenas utilizá-las para ilustrar eventos históricos”.

Tarefa gigantesca

Uma marca esfregada, ou o traço de um carimbo são muitas vezes os únicos indícios que os pesquisadores do museu têm para descobrir de qual museu as obras de arte foram originalmente tomadas pelos nazistas.

Nikola Doll, responsável da pesquisa de proveniência no Museu de Belas Artes, disse para swissinfo.ch que o museu não tinha sua própria equipe de pesquisa de proveniência até maio de 2017. A equipe agora está examinando mais fundo as obras da coleção Gurlitt.

Grieche und Barbaren, 1920
Paul Klee, Grieche und Barbaren, 1920, Transferência de óleo e aquarela sobre papel branco com base em papelão. Legado de Cornelius Gurlitt 2014. Proveniência em esclarecimento. Kunstmuseum Bern

“Atrás de algumas obras há vestígios de algo que foi apagado, esfregado”, explicou Doll. “As obras foram manipuladas pelos proprietários anteriores, a família Gurlitt. Queremos descobrir, pelo menos, de onde foram confiscadas”.

Ela explica como os pesquisadores técnicos usam luzes e microscópios para tentar identificar manchas quase invisíveis de marcas na parte de trás da obra de arte. Eles então entram em contato com museus e colecionadores para perguntar, por exemplo, se uma pequena marca de selo vermelho de alguns centímetros de diâmetro poderia constar em alguma obra de suas coleções no passado.

Esta investigação detalhada permitiu que a equipe esclarecesse uma dúvida na proveniência da obra “Soldaten in Tolmein”, um desenho colorido de Oskar Kokoschka, peça agora exibida em Berna.

Disputa por um Cézanne

Uma pintura da coleção, “La Montagne Sainte-Victoire” de Paul Cézanne, está atualmente no centro de uma disputa com os descendentes do artista, que reivindicam a propriedade, embora os pesquisadores já tenham declarado que a obra não havia sido saqueada.

Marcel Brülhart, vice-presidente da fundação do Museu de Belas Artes e do Centro Paul Klee, disse que sua instituição aceitou a propriedade de Gurlitt porque “queria assumir a responsabilidade associada a ela”. No final do ano, o relatório completo sobre a pesquisa de proveniência da coleção Gurlitt será publicado pela German Lost Art FoundationLink externo.

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A coleção de Gurlitt

Este conteúdo foi publicado em Inúmeras obras de arte foram adquiridas pelo pai do colecionador, Hildebrand Gurlitt, durante o período do nazismo. O ministro de Propaganda do III. Reich, Joseph Goebbels, havia confiado a ele a tarefa de vender no exterior as obras de arte qualificadas na época como “degeneradas” e que haviam sido confiscadas de colecionadores judeus perseguidos. Hildebrand…

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A exposição “Gurlitt: Status Report, Degenerate Art – confiscated and sold” acontece de 2 de novembro a 4 de março de 2018 no Museu de Belas Artes de Berna.

Adaptação: Fernando Hirschy

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