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Artista plástico Carlos Bracher expõe na Suíça

Bracher em Basileia diante de um de seus quadros de Brasília (Lourdes Sola, swissinfo.ch

A reunião de 36 telas do artista plástico brasileiro Carlos Bracher mostra os seus 50 anos de carreira dedicados à pintura. A exposição já passou por Moscou, Bruges, Bruxelas, Luxemburgo, Dusseldorf ,Frankfurt e chega agora a Basileia, onde poderá ser visitada até 22 de novembro.

Ao longo desses anos, Bracher dedicou-se exclusivamente à pintura e seus trabalhos têm grande influência do impressionismo, estilo presente em suas obras, não só pelo uso da luz, mas também pelo movimento conferido às telas pelas pinceladas soltas.

Das primeiras obras, dos anos 60, às mais recentes, pode-se perceber a passagem de Bracher para o expressionismo, um trabalho mais intuitivo, menos preso à representação da realidade e mais ligado à interpretação do artista.

Inspiração na vida

“Sou um artista pós impressionista e só”, define-se Bracher. Essa influência permanece como uma linha tênue em todos os seus trabalhos, inspirados na observação da vida. Há telas de marinas, paisagens, retratos e até mesmo uma série sobre siderurgias. “Parece uma coisa meio antiga, mas ainda hoje pinto do natural. Busco inspiração na vida”, explica.

Ele tem ao seu redor uma fonte inesgotável de inspiração. Bracher mora em Ouro Preto, Minas Gerais, patrimônio histórico tombado pela UNESCO. Na exposição, há três telas com paisagens da cidade mineira: cenas da Rua Direita, da Igreja São José e do Museu da Inconfidência. Outras cidades mineiras também estão na mostra, como São João Del Rey e Tiradentes, além da cidade de Brasília.

Ele admite que o que mais gosta de pintar são os retratos, mas as pinceladas sempre apagam os contornos exatos do desenho. “Faço o desenho inicial, mas depois ele desaparece e surge a minha expressão na tela”, explica.

Linha de Monet

Apaixonado por Claude Monet, Bracher acredita na evolução contínua e harmoniosa do seu trabalho artístico, assim como caminhou o artista francês. “Cada passo tem um progresso, mas há uma continuidade sem sobressaltos “, diz. “É diferente quando se compara, por exemplo, com Picasso: um transgressor, que absorvia diferentes estilos de maneira mais abrupta. Sempre com muito talento, claro, mas são caminhos diferentes”, afirma.

“Tenho tido uma atitude mais ligada ao estilo de Monet”, conta. Das primeiras telas em exposição nos anos 1960, o trabalho de Bracher mudou. Ganhou cores, menos detalhes e mais expressão do artista, num caminho de evolução dos últimos 50 anos. Essa passagem teve alguma influência de Van Gogh, outro artista inspirador de Bracher, que dedicou ao artista holandês cem telas por ocasião do centenário de sua morte em 1990.

O vale-tudo perigoso

Ao longo desses anos, manteve-se fiel às telas, tintas e pincéis para se expressar no mundo das artes. Não aderiu a outros materiais.  Para Bracher, as artes plásticas seguem um caminho perigoso. “Há um vale-tudo no mundo das artes e acho que a pintura parece ter se ferido nesse câmbio de coisas”, diz.

Para o artista,  a arte de pintar tem um segmento histórico que traz referências substanciais para as criações atuais e futuras. “A influência de Monet, Picasso, Modigliani e muitos outros constroem esse segmento histórico do mundo da pintura. Quando qualquer coisa e tudo vira arte, a pessoa pode conhecer os artistas e os trabalhos, mas a presença do estilo deles não pode mais ser percebida na obra ”, explica.

Bracher refere-se às exposições contemporâneas, onde vasos sanitários, instalações com roupas jogadas ou até mesmo lixos recicláveis são obras de arte.

“Uma coisa é a cultura, a informação que o artista pode ter; ele conhece Monet, Picasso, mas a influência da pintura maravilhosa desses artistas não aparece na criação. O ato da criação é bem diferente da simples informação e cultura”, diz.

”Uma obra abstrata, por exemplo, de alguém que fez esse caminho ao longo da história da pintura, carrega consigo essa influência e isso fica evidente,“ conta. Para ele, muitas vezes, o abstrato pelo abstrato não resulta  numa pintura que sensibilize porque perdeu o fio condutor lá atrás.

“A arte se perdeu. Não há grandes artistas e há uma falta de talento. Há  um mundo de informações e de pirotecnia e não há mais um mundo de essencialidade”, diz. Em sua passagem por Basileia, o artista visitou um dos grandes museus da cidade, o Kunstmuseum,  e saiu encantado com obras de Wassily Kandinsky, Paul Cézanne, entre outros que pode apreciar. “Quando visito algumas bienais saio do lugar com um desencanto e um vazio e me pergunto o que fui fazer lá”, compara. 

Raízes

Esta é a primeira vez que Bracher expõe na Suíça, mas tinha um bom motivo para mostrar sua arte por aqui: seus bisavós eram do cantão de Berna e emigraram para o Brasil em 1880, inicialmente para Curitiba, depois para São Paulo e Minas Gerais. Nascido em Juiz de Fora, Bracher cresceu numa família de músicos, escritores e pintores. Adora viver em Ouro Preto e, sempre que possível, estar ao lado da esposa e das filhas. “Sempre fui muito família”, conta. Mesmo longe de Minas Gerais, Bracher não perde o estilo mineiro pois gosta de uma boa prosa, com muita filosofia e poesia.

Carlos Bracher nasceu em 1940 em Juiz de Fora, Minas Gerais e desde 1972 mora em Ouro Preto, cidade fundada no final do século XVII e patrimônio histórico da UNESCO.

Em 1967 venceu um dos maiores prêmios de arte no Brasil – Prêmio de Viagem ao Exterior, do Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Fez várias exposições individuais no Brasil e exterior.

Dedicou uma série a  Van Gogh , “Homenagem a Van Gogh”, exposta no Brasil, Europa, Japão e China.

Uma de suas séries é sobre Brasília, em comemoração aos 50 anos de fundação da cidade.

A exposição de Basileia tem o apoio da Embaixada do Brasil em Berna.

A Fundação Brasilea fica na Westquaistrasse 39, em Basileia.

+41 61 262 3939

A mostra pode ser visitada às quartas e sextas-feiras, das 14 às 18 horas, e às quintas-feiras, das 14 às 20 horas

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