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Piora a situação social dos estudantes na Suíça

Estudantes na cafeteria da Universidade de Genebra. Keystone

As bolsas de estudo são irrisórias para o ensino superior: 90% dos estudantes precisam trabalhar ou contar com ajuda dos pais para se manterem.¨

Um estudo publicado pela Secretaria Federal de Estatisticas constatou que a situação social dos estudantes piorou nos últimos anos.

“Enquanto aumenta a cada ano o número estudantes no ensino superior suíço, a situação social deles piora”, afirmou quarta-feira (17/01), em Berna, o secretário de Estado para a Educação e Pesquisa, Charles Kleiber, ao apresentar os dados recolhidos em 2005 pela Secretaria Federal de Estatística (OFS).

Segundo esse estudo, somente 16% dos estudantes recebem bolsas de estudo para o ensino superior (universidades, politécnicas e escolas superiores profissionais).

Mesmo para essa pequena parte dos estudantes, as bolsas não cobrem a despesa média de 1.650 francos suíços por mês, para cada estudante. Se o jovem ainda reside na casa dos pais, as despesas mensais são de 1.300 mensais. Se esuda em uma cidade distante e tem de pagar aluguel, a média é de 1.900 francos mensais.

Pais e trabalho

Comparativamente, as bolsas de estudo representam apenas 10% do orçamento dos universitários na Suíça. Os pais arcam, em média, com 50% das despesas dos filhos. Apenas 10% dos estudantes dispensam a ajuda do pai ou da mãe.

Para fechar o orçamento, os 40% restantes saem do trabalho exercido pelos próprios estudantes. 77% deles trabalham nas horas vagas (a média na União Européia é de 66%).

“Para um estudante, a necessidade de trabalhar não é mais uma exceção mas uma regra. Na última década, a porcentagem de estudantes obrigados a trabalhar aumentou de maneira preocupante”, assinalou Charles Kleiber.

Em 1973, a porcentagem de estudantes que trabalhava era de 17%. Em 1995 ainda era de 32%.

Disparidade social

Considerando esses dados, não é de estranhar o fato da grande disparidade social no acesso ao ensino superior na Suíça.

A proporção de estudantes em pelo menos um dos pais tem um diploma universitário passa do dobro daqueles em que os pais concluíram apenas o ensino obrigatório.

“A precariedade da situação social dos estudantes ameaça o princípio da igualdade de oportunidades de estudo e a qualidade da formação”, afirmou Charles Kleiber.

Segundo o secretário de Estado, está em jogo a liberdade de escolha dos estudantes: tendo de trabalhar, muitos estudantes optam por estudos “compatíveis” com a atividade profissional porque menos exigentes.

Por não poder arcar com despesas de alojamento, muitos jovens escolhem universidades mais próximas da casa dos pais e não em função do tipo de estudo que gostariam de fazer. Esse fator é ainda mais preocupante com o processo de concentração dos estudos superiores.

Harmonização das universidades

A adesão da Suíça ao Espaço Europeu do Ensino Superior, lançado em 1997, em Bolonha, poderá piorar futuramente a situação social dos estudantes.

“Na universidade suíça, com um novo ciclo de formação e de diplomas (bachelor e master), os estudos deverão ser mais concentrados e ainda mais exigentes. Para os estudantes, será mais difícil encontrar tempo para trabalhar”, observa Charles Kleiber.

Para o secretário de Estado, o poder público precisa levar seriamente em consideração os resultados desse estudo e adotar medidas corretivas.

Ele propõe reformar e reforçar o programa de bolsas de estudo que sofreram cortes nos planos federal e cantonal nos últimos anos.

“O sistema de bolsas de estudo é atualmente muito problemático. É preciso consultar os 26 cantões (estados) para saber quanto concedem aos estudantes”.

Estudantes satisfeitos

Os estudantes mostraram-se satisfeitos com a publicação do pesquisa pela Secretaria Federal de Estatísticas (OFS). Há anos que os estudantes reclamavam um estudo desse tipo.

“Esses resultados refutam o mito de que os estudantes são todos privilegiados, ricos e preguiçosos”, reagiu Rahael Imobersteg, co-presidente da União Suíça dos Estudantes Universitários (UNES).

“Na Suíça, tem se agravado a disparidade no acesso ao ensino superior. Para reduzir essa desigualdade há um meio bem conhecido: a bolsa de estudos, mais do que qualquer outro fator, acrescentou Rahel Imobersteg.

Para possibilitar aos jovens uma formação conforme sua própria capacidade e não segundo sua origem social, a UNES pede que o Parlamento adote uma política de financiamento da formação “mais adequada às necessidades dos estudantes”.

swissinfo, Armando Mombelli

A Suíça tem 10 universidades, 2 escolas politécnicas federais e 7 escolas superiores especializadas (HES).
Em 2005, havia mais de 110 mil estudantes matriculados nas universidades e escolas politécnicas.
50 mil estudantes estavam inscritos nas HES.
As mulheres representam 48% dos estudantes matriculados e os estrangeiros 23%.

– Segundo a pesquisa da Secretaria Federal de Estatísticas (OFS), realizada em 2005 junto a 20 mil estudantes, as depesas médias mensais por estudante são de 1.650 francos suíços.

– Em média, 50% do financiamento provém dos pais, 40% de um trabalho nas horas vagas e 10% de uma bolsa de estudos.

– O sistema de bolsas é da competência dos cantões. Atualmente há muita disparidade de recursos entre os cantões (estados).

– 36% dos estudantes têm pelo menos um dos pais com formação superior. É duas vezes mais do que os estudantes em que os pais concluíram apenas o ensino obrigatório.

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