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"A Suíça não tem nada a temer"

Para Tareq Ramadan, el resultado del voto del pasado 29.11 en Suiza revela una suerte de descontento por la creciente visibilidad musulmana. swissinfo.ch

Tariq Ramadan é considerado um dos mais influentes pensadores europeus do Islã. Nascido em Genebra no seio de uma família egípcia, este doutor em lei muçulmana e filosofia ocidental avalia os resultados do referendo de domingo.

Este conteúdo foi publicado em 03. dezembro 2009 - 12:34

swissinfo.ch entrevistou o professor Tariq Ramadan om seu escritório na Universidade de Oxford, Inglaterra.

swissinfo.ch: Como o senhor avalia a decisão do povo suíço

Tariq Ramadan: A reação dos suíços é muito interessante. Muitos analistas se detêm ao símbolo da proibição dos minaretes, mas não na substância. É evidente que a verdadeira questão abordada no referendo é sobre o Islã e a presença de imigrantes muçulmanos na Suíça. Considero que o grande problema é a nova visibilidade muçulmana. Essa presença cada vez mais visível é o que a Europa, em geral, acaba por não aceitar.

swissinfo.ch: Os minaretes então não seriam o problema?

T.R: Está claro que não. Desde que, em um determinado momento, a direita populista tentou usar como símbolo do seu combate o ritual muçulmano de abate, o “halal”, mas logo se deram conta que ele é similar ao utilizado pelos judeus para a alimentação “kosher”, e desistiram. Finalmente, eles escolheram a luta contra os minaretes como um símbolo visível do Islã.

swissinfo.ch: E qual é a razão para essa rejeição?

T.R: O elemento central do medo e da rejeição passa pela globalização econômica e o temor que ela impõe aos povos. Creio que isso seja algo central na atual crise de identidade europeia.

swissinfo.ch: Porém são muitos os países europeus que parecem ter um conflito com a imigração muçulmana.

T.R: A rejeição ao Islã e à imigração árabo-muçulmana toma na Europa diversas características, em função dos interesses particulares de cada nação. Os franceses falam do véu nas escolas; os holandeses se centram na intolerância contra os homossexuais e na Suíça são os minaretes. Também a Espanha não está alheia ao conflito, já que o Partido Popular trata os muçulmanos como elementos exógenos e inaceitáveis. E não se esqueça de que o Papa Benedito XVI lembra constantemente as raízes latinas e gregas da Europa, esquecendo a importante contribuição islâmica.

swissinfo.ch: O voto suíço não lhe surpreendeu, quando o governo, partidos e os meios de comunicação pediram claramente que o eleitor rejeitasse a iniciativa?

T.R: Não me surpreendi muito. E permita-me dizer que eu não acredito que a mensagem da classe política tenha sido neutra e nem favorável aos muçulmanos. O problema é que os partidos majoritários e democráticos vão no reboque dos movimentos populistas de direita, que são aqueles que realmente ditam a agenda política. Os demais partidos reagem como podem a esse fato consumado.

swissinfo.ch: Incluindo os movimentos de esquerda?

T.R: Penso que até mesmo os partidos progressistas, ao falar do Islã, dizem sempre "MAS". Eles dão assim a entender que o Islã é, por definição, uma fonte de conflitos. Quase sempre os políticos ressaltam que "mas" estamos contra as mutilações genitais femininas, "mas" somos contra as piscinas separadas ou também "mas" contra os matrimônios forçados. E assim com os mais diferentes temas.

swissinfo.ch: Vários observadores destacam que, na Suíça, forças políticas como as feministas ou a esquerda teriam dado um apoio incomum à iniciativa contra os minaretes.

T.R: Assim é. Pois até pessoas que se consideram progressistas votam hoje contra os muçulmanos e isso me parece muito preocupante. Penso que o verdadeiro perigo não é a direita, mas sim a normalização do discurso da direita entre os partidos políticos tradicionais. Veja você, na França ocorreu algo significativo e é o que se demonstrou com as teses do Front National (partido da extrema direita) possam ser aceitas por até 73% dos eleitores, desde que eles não saibam que as ideias vêm do Front National. Ou seja, a mesma ideia na boca de Marina Le Pen (líder desse partido) é aprovada por apenas 20% do eleitorado, mas na boca de outros políticos pode subir até a 73% deles, o que demonstra que o problema não são as ideias anti-muçulmanas, mas sim quem as diz.

swissinfo.ch: A questão das piscinas já causou conflito na Suíça. Qual é a sua opinião sobre esse tema?

T.R: As piscinas separadas para mulheres muçulmanas não estão relacionadas somente com questões legais, mas também psicológicas e sociais. Embora eu acredite que os muçulmanos não devam exagerar nas suas reivindicações e compreender que existem certos limites e que a opinião pública europeia teria dificuldade de aceitar. Também digo aos muçulmanos: uma menina de oito anos não pode ir à escola com um lenço islâmico na cabeça! São más interpretações da religião, pois antes da puberdade não é possível aplicar essas medidas.

swissinfo.ch: O senhor acredita que da parte dos muçulmanos falta um pouco de autoanálise? Ou vocês estariam comunicando mal os seus pontos de vista?

T.R: Penso que é imperativo uma mudança de atitude dos muçulmanos. Uma mudança de discurso e uma severa autoanálise. Creio que o que acontece na Suíça é um sinal de alerta para nos despertarmos, que nos obriga a ser mais responsáveis e ativos.

swissinfo.ch: A Suíça deve se preparar para uma crise similar ao que seguiu a publicação das caricaturas de Maomé em 2005?

T.R: Não acho que a Suíça deva ter medo de uma reação violenta por parte do mundo árabe-muçulmano. O caso das caricaturas de Maomé foi muito distinto, pois lá eram atacados os próprios fundamentos da religião, o que não é o caso agora com os minaretes. Eles não são imprescindíveis à prática religiosa e nem à oração. Do universo muçulmano houve um clamor claro de não decretar nenhum boicote à Suíça e nem reagir com violência.

Rodrigo Carrizo Couto, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

Tariq Ramadan

Filósofo suíço nascido em Genebra em 1962 no seio de uma família de origem egípcia. Seu avô materno foi Hassan Al Banna, fundador do movimento da Irmandade Muçulmana.

Ele estudou filosofia na Universidade de Genebra, obtendo um doutorado com uma tese sobre a obra do filosofo alemão Friedrich Nietzsche. Posteriormente estudou direito islâmico na Universidade de Al-Azhar o Cairo, Egito.

Tariq Ramadan é autor de vários livros e é considerado de forma quase unânime como “o mais influente pensador europeu do Islã".Sua obra é muito popular entre os muçulmanos na França, Bélgica e Suíça.

Em 2004, o governo dos Estados Unidos negou-lhe um visto para ensinar na Universidade de Notre Dame em Indiana. Em julho de 2009, um juiz americano declarou as alegações contra Ramadan como “infundadas”.

Tariq Ramadan é uma pessoa polêmica. Numerosos intelectuais, pensadores, jornalistas e políticos europeus lhe acusam de ser “um maestro do discurso duplo” e de manejar o que definem como uma “agenda oculta”. O célebre filósofo francês Bernard Henri Lévi o definiu como “um polemista temível”.

Ele foi incluído na lista dos “100 personagens mais influentes do mundo” pela revista americana “TIME”. Tariq também foi consultor para temas islâmicos de diversos governos europeus e docente em universidades do Reino Unido, Suíça e Holanda, entre outros países.

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O referendo de 29/11

No último domingo, 29 de novembro, pouco menos de 58% dos eleitores (participação de 55%) aprovaram uma iniciativa popular que prevê a proibição da construção de novos minaretes.

A iniciativa surgiu de uma proposta do partido da direita conservadora União Democrática do Centro (UDC), que representa 29% dos cidadãos suíços e é majoritário no Parlamento helvético, e da União Democrática Federal (UDF, direita cristã).

Na Suíça vivem cerca de 400 mil muçulmanos, em grande parte originários da Turquia, Albânia e dos territórios da ex-Iugoslávia

O resultado do referendo causou uma grande comoção em toda a Europa e no mundo árabe e muçulmano, trazendo para a Suíça uma atenção midiática sem precedentes.

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