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“Uma das qualidades dos suíços do estrangeiro é a abertura de espirito”

A ministra Doris Leuthard durante a conversa com jovens suíços do estrangeiro durante o congresso da OSE em Genebra. Philipp Zinniker (OSA)

Aproximadamente 400 suíços do estrangeiro encontraram-se no final de semana em Genebra para debater a cidadania e encontrar fórmulas para aumentar a participação política dos jovens. O ponto alto do 93° Congresso dos Suíços do Estrangeiro foi o discurso da ministra suíça Doris Leuthard e o anuncio da criação do Parlamento dos jovens suíços do estrangeiro. 

A escolha do local para organizar o congresso anual deu o caráter internacional ao evento. O centro de convenções está poucos passos distante da mítica Praças das Nações em Genebra, o centro que reúne em um só quarteirão a sede europeia das Nações Unidas e várias outras organizações internacionais. 

Para os 390 membros presentes da chamada 5° Suíça, a comunidade de suíços do estrangeiro, o encontro não é apenas a possibilidade de rever amigos, mas sobretudo, debater questões que dizem respeito às suas vidas, mesmo como cidadãos “expatriados”. Neste ano, a Organização dos Suíços do Estrangeiro (OSE) escolheu o tema “Formação de cidadãos: garantia de uma democracia viva”.

E como a questão da cidadania atinge os interesses dos suíços do estrangeiro? A OSE responde com os atuais números da participação eleitoral. Se nos anos 1950 a taxa era de 60%, hoje caiu para 40% entre 1970 e 1990. Porém a queda continua. “Em 2011, apenas 30% dos jovens adultos votaram nas eleições federais”, escreveu a organização.

Os suíços do estrangeiro não acompanham a tendência. Segundo a OSE, o número de cidadãos inscritos nos registros eleitorais das representações diplomáticas suíças aumenta constantemente. Atualmente 142 mil suíços exercem seus direitos políticos, mesmo no exterior. Todavia mesmo esse número é baixo em relação ao potencial da comunidade: 750 mil suíços vivem no exterior, o que corresponde a aproximadamente dez por cento da população do país. Por essa razão, um dos temas que dominou a reunião do Conselho dos Suíços do ExteriorLink externo, o órgão deliberativo da comunidade, foi o voto eletrônico.

Experiências em Genebra

O congresso é, tradicionalmente, o momento em que expatriados – muitos dos quais vivendo há décadas no exterior ou mesmo já na segunda ou terceira geração – utilizam para se informar e também para exigir seus direitos.

Na primeira palestra, Anja Wyden Guelpa, chanceler de Estado do cantão de Genebra, abordou a questão da baixa participação eleitoral dos jovens. “A realidade é que o grupo que mais vota está na faixa de 70 a 75 anos”, disse, baseando-se em uma pesquisa de opinião. “Por que os jovens não votam?”, levantou a questão. “Eles não se sentem tangidos pela política”, respondeu a política nascida em 1973, encarregada de chefiar o aparato administrativo desse pequeno cantão (estado) localizado no extremo oeste do país. 

Para contrapor a tendência, Anja Quelpa informou que o governo cantonal aplica há cinco anos uma série de programas como cursos de educação cívica e ações como trazer classes escolares ao Parlamento cantonal para participar de debates com políticos locais. E finalmente defendeu mais interatividade com os jovens, especialmente através de canais modernos como as redes sociais. 

Visão de uma ONG e imprensa

“Ajudar as pessoas a conhecer os seus direitos e permitir que elas se defendam”, disse Manon Schick. Convidada pela ASO para abordar a questão dos direitos humanos e educação cívica, a diretora-geral da Anistia Internacional na Suíça considera limitado os instrumentos tradicionais. “Uma forma pratica de levar os jovens a debater o tema não é simplesmente dar-lhes livros ou fazer uma apresentação em tela, mas sim permitir que elas utilizem instrumentos práticos para defender os direitos humanos”, afirmou. 

Como exemplo concreto, a representante citou experiências com crianças. “Contamos em uma escola que o iPhone de muitas delas é produzido em países onde esses direitos não são garantidos. Assim os escolares decidiram escrever um artigo no jornal da escola para debater o problema.”

Para complementar o tema, o diretor da swissinfo.ch discutiu o papel da imprensa. “Como podem as mídias tradicionais auxiliar no reforço da democracia?”, perguntou Peter Schibli. Ele listou a oferta editorial do serviço internacional da Sociedade Suíça de Radiodifusão e Televisão (SRG SSR), dentre outros, os dossiês para esclarecer a politica helvética (votações e das eleições de outubro de 2015) e a plataforma da democracia direta. “Formação de cidadãos não tem fronteiras”, afirmou. 

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Marcel Lewandowski

Este conteúdo foi publicado em Membro do Conselho de Suíços do Estrangeiro (CSE), Marcel Lewandowski é o único representante do Brasil presente no 93° Congresso dos Suíços do Estrangeiro em Genebra. Em entrevista à swissinfo.ch, o paulistano fala sobre a comunidade helvética e a contribuição suíça à formação do Brasil.

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O jornalista Arthur Honegger, até pouco meses correspondente da Televisão Suíça (SRF) nos Estados Unidos, se autodeclarou “suíço do estrangeiro” graças a sua experiência de sete anos no posto. No seu trabalho, viu “como é importante estar informado”. O jornalista considera que hoje se tornou ainda mais difícil se informar, apesar da “grande quantidade de canais disponíveis através da internet”. Porém sua experiência levou a questionar até o nível de informação dos cidadãos na Suíça, “Me questionava sobre o meu papel ao escutavar a conversas nos bares e nos lares sobre a realidade em outros países”. Para ele, é importante mostrar as diferentes facetas da realidade ao público e ajudá-lo a compreender as informações. “Isso é especialmente importante quando sabemos que existem estruturas profissionais de formação de opinião em países como a Rússia ou a China.”

Campus da Democracia

O desafio de aproximar os jovens do processo político na Suíça foi o tema de Hans Stöckli, presidente da Nova Sociedade Helvética. O parlamentar (senador pelo Partido Socialista) lembrou que uma iniciativa no Congresso federal lançou em 21 de março de 2015 o chamado “Campus pela Democracia”. Seu principal objetivo é promover a formação política dos jovens e sua participação no processo democrático. “A democracia não cai do céu”, justificou.

Importância dos suíços do estrangeiro

Aproximadamente 750 mil pessoas fazem parte da comunidade de suíços do estrangeiro. Destas, 142 mil estão registradas nas listas eleitorais nas representações diplomáticas e podem, portanto, votar. 

O número corresponde à população de um cantão médio na Suíça como Schwyz, com 152 mil habitantes em 2014.

Os partidos suíços têm grupos voltados especificadamente para a comunidade. O Partido do Povo Suíço (UDC, na sigla em francês) tem 400 membros. O Partido Socialista, 130 membros. O Partido Liberal teria 111 membros na seção internacional. 

Logo após, quatro jovens suíços do estrangeiro subiram ao pódio para dar um exemplo de debate político. Divididos em dois campos – um a favor e o outro contra – duplas debateram dois temas polêmicos na Suíça: o serviço militar para as mulheres e a nacionalidade suíça para todas as pessoas que nasceram em território nacional. Em um exercício de dialética, os jovens utilizaram diversos argumentos, dos aspectos fisiológicos da mulher até os direitos de igualdade garantidos pela Constituição, para defender a sua posição. O publico aplaudia as melhores posições. 

Na questão da nacionalidade, dois jovens defenderam a nacionalidade para as pessoas que trabalham e vivem na Suíça, sem levar em conta outras nacionalidades. Seus opositores ressaltaram que o passaporte não deve ser o único instrumento para definir a nacionalidade de uma pessoa, mas sim sua ligação intrínseca com o pais. 

No final do debate, representantes do grupo anunciaram a criação do Parlamento dos jovens suíços do estrangeiro. Como resultado de um acampamento de uma semana em Genebra, uma dezena de jovens trabalharam na elaboração do estatuto. Uma assembleia geral será realizada em outubro próximo para eleger seus membros. Um modelo existe na forma dos 40 parlamentos jovens atuantes em diversos níveis políticos na Suíça, seja comunal ou cantonal. 

Mensagem do governo suíço

A ministra Doris Leuthard, chefe do Departamento Federal de Meio-Ambiente, Transportes, Energia e Comunicação, fechou o congresso da OSE.

Tradicionalmente um representante do governo federal se dirige aos suíços do estrangeiro durante o evento. Jovial, a política de 52 anos e membro do Executivo desde 2006, lembrou a importância da comunidade de suíços dos estrangeiros para a Suíça. “Vocês são a nossa antena para o mundo”, disse.

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Remo Gysin: “Devemos nos comprometer com a mobilidade internacional”

Este conteúdo foi publicado em O novo presidente da Organização dos Suíços do Estrangeiro (OSE) tem como objetivo reforçar a mobilidade internacional. Remo Gysin critica a suspensão em curto prazo do voto eletrônico em nove cantões, uma decisão do governo federal helvético swissinfo.ch: Quais serão suas prioridades como representante da OSE nos próximos anos? Remo Gysin: Em primeiro lugar, as…

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“Uma dessas qualidades é própria dos suíços do estrangeiro: a abertura de espirito”, lembrou Leuthard, afirmando que essa abordagem será necessária para resolver questões fundamentais como aplicação da iniciativa de imigração de massa, aprovada como proposta de mudança constitucional nas urnas por uma apertada maioria em 9 de fevereiro de 2014. “O governo federal sabe que a Suíça está passando em um momento sensível das relações com a União Europeia”, afirmou a política, apontando algumas soluções. “Uma opção é a revisão da Leis dos estrangeiros. Ao mesmo tempo queremos avaliar com a União Europeia os acordos de livre circulação de mão-de-obra.

Um dos suíços do estrangeiro presentes no congresso levantou diretamente à ministra uma questão relativa ao tema. “O governo federal verifica as possibilidades para aplicar as medidas aprovadas no plebiscito popular de limitação da imigração, porém não verificamos da parte da União Europeia nenhuma disposição de aceitar as posições suíças.  Como o governo federal quer realmente aplicar esse artigo constitucional? Ha mais de um ano o governo discute, sem chegar a nenhuma conclusão…”. Leuthard respondeu, lembrando que todo o governo está trabalhando para encontrar uma solução. “Não podemos pensar o que poderá acontecer em 2017, por isso estamos avaliando a situação hoje”, disse a ministra, que pediu paciência aos cidadãos. “Não sabemos ainda se haverá negociações em um breve futuro.”

Outra pergunta levantada pelos presentes foi a redução da tiragem da Revista Suíça. “Essa decisão para economizar alguns poucos milhões de francos nos faz sentir como cidadãos de segunda classe. Leuthard explicou que o corte de despesas – por questões conjunturais – levou todos os departamentos federais a tomarem medidas, por vezes, “dolorosas”. Mas relativizou a perda para a mídia da 5° Suíça. “Consideramos que as pessoas hoje se informam através da internet, economizando custos de produção, transporte e distribuição.”

Congresso dos suíços do estrangeiro

O 93° Congresso dos Suíços do Estrangeiros ocorreu entre 14 e 16 de agosto de 2015 no Centro Internacional de Conferencias de Genebra. 

Aproximadamente 390 participantes, originários de diversos países, participaram dos debates propostos. O tema escolhido em 2015: “Formação de cidadãos: garantia de uma democracia viva”. Dentre os palestrantes convidados: Doris Leuthard, ministra dos Transportes, Energia, Comunicações e Meio Ambiente e atual presidente da Confederação Suíça; Anja Wyden Guelpa, chanceler de Estado do cantão de Genebra. 

Na reunião do Conselho dos Suíços do Estrangeiros, realizada tradicionalmente um dia antes do congresso, os delegados escolheram Remo Gysin como novo presidente da OSE. 

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