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Direita leva um “tapa na cara” dos eleitores no voto sobre imigração

Pôster da campanha contra a imigração
O jornal Neue Zürcher Zeitung (NZZ) descreveu o resultado do plebiscito como uma "dolorosa derrota" para o Partido Popular Suíço de direita, que venceu um referendo sobre o controle da imigração em 2014, apenas para ver o parlamento enfraquecer sua implementação. Keystone / Laurent Gillieron

A votação de domingo para rejeitar as restrições à imigração da União Europeia é uma clara demonstração de apoio à livre circulação de trabalhadores e um "fiasco" para o Partido Popular Suíço de direita, de acordo com a imprensa local. Mas a votação não garante nada na negociação bilateral com a UE, emendam os analistas.

No domingo, 61,7% dos eleitores suíços rejeitaram a proposta do Partido Popular (SVP/UDC) de arquivar o antigo acordo de duas décadas com Bruxelas sobre a livre circulação de pessoas e recuperar o controle total da política de imigração do país.

O jornal Neue Zürcher Zeitung (NZZ) descreveu o resultado como uma “dolorosa derrota” para o SVP, que ganhou um referendo sobre o controle da imigração em 2014, apenas para ver o parlamento enfraquecer sua implementação.

“A liderança do SVP deu um tiro no pé ao atacar a liberdade de movimento”, acrescentou o diário Tages-Anzeiger, também de Zurique. Essa rejeição dos suíços “deveria dar ao partido uma pausa para reflexão: fundiu dois de seus temas favoritos, imigração e relações com a UE, em uma iniciativa popular. Mas não conseguiu nem mesmo suscitar um debate”.

O jornal Bund, de Berna, afirmou: “Os suíços têm menos problemas com os espanhóis, os europeus do leste e todos os outros cidadãos da UE que trabalham e vivem aqui do que quer fazer crer o SVP. O apoio claro à livre circulação de pessoas mostra que o mal-estar é limitado, seja a concorrência no local de trabalho, a expansão urbana ou as instituições de assistência social”.

Para o tabloide Blick, o maior partido no parlamento havia experimentado “seu maior fiasco desde que [o ex-ministro e guru do partido] Christoph Blocher foi expulso do Conselho Federal em 2007”.

A próxima etapa é delicada

No entanto, o Blick disse que a rejeição “não deve ser interpretada” como apoio às negociações em andamento entre a UE e a Suíça para regulamentar ainda mais seu relacionamento futuro.

A Suíça, que não faz parte da UE, tem uma colcha de retalhos de 120 acordos setoriais bilaterais com o bloco, e os dois lados passaram seis anos negociando um chamado “acordo de estrutura institucional”, também conhecido como “acordo-quadro”, que consolidaria todos em um só documento. As conversações encontram-se atualmente em um impasse.

Em seu editorial de segunda-feira, o diário de língua francesa Le Temps (Genebra) descreveu o “não” como “um plebiscito pela livre circulação de pessoas” e uma confirmação de que “o caminho bilateral é a estratégia certa” com a UE.

Mas a próxima etapa das negociações de longo prazo promete ser muito mais complicada, diz o jornal. A UE quer concluir um acordo-quadro com Berna o mais rápido possível. Mas três questões continuam sendo particularmente problemáticas para a nação alpina: proteção salarial, ajuda estatal e até que ponto os imigrantes da UE podem se beneficiar do sistema social suíço.

“Espera-se que as negociações sejam duras”, disse o editorial. “Entretanto, a posição da Suíça foi reforçada pela clara rejeição da iniciativa [do Partido Popular]. O Conselho Federal, que tem o amplo apoio do povo, deve deixar claro a Bruxelas que não assinará o acordo sob quaisquer condições”, disse o editorial.

A temperatura despencou

O diário La Liberté, de Friburgo, fez eco das dificuldades que se avizinham: “Como o clima, o termômetro político na Suíça caiu de repente alguns graus e o projeto [acordo-quadro] sobre a mesa não convence mais muita gente”.

O NZZ disse que a rejeição esmagadora de domingo das restrições à imigração da UE não “garantiu o caminho bilateral”.

“A situação na política europeia é paradoxal”, diz o editorial do diário conservador zuriquenho. “A Suíça confirmou pela enésima vez a livre circulação de pessoas e os acordos bilaterais. No entanto, há uma falta de consenso básico entre Berna e Bruxelas sobre o futuro do relacionamento”.

“Para a UE, provavelmente só há uma lição a ser aprendida no domingo: a Suíça precisa sempre de duas ou até mais tentativas. É um parceiro entediante, mas confiável a longo prazo”.

De acordo com uma pesquisa online Link externopublicada em 28 de setembro, um em cada três cidadãos suíços deseja mais esclarecimento sobre o acordo-quadro com a União Europeia (UE).

Uma em cada cinco das pessoas entrevistadas quer novas negociações com a UE sobre o acordo-quadro, enquanto 18% dizem que a minuta atual deve ser eliminada. Apenas 16% afirmam que o acordo deva ser ratificado em sua forma atual, de acordo com a pesquisa online de 15.000 pessoas realizada pela Tamedia.

swissinfo.ch/ets

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