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Escrutínio traz terceira grande mudança no cenário político

Mesários contam os votos durante as eleições federais na Suíça. Keystone / Peter Klaunzer

O novo Congresso suíço já está formado. No final de semana, eleitores dos três últimos cantões votaram nos seus representantes para o Senado. Até que ponto a política muda? Analisamos.

As eleições de 2019 foram diferentes. Para compreender a razão, é preciso analisar o que ocorreu ao longo de três décadas. Desde os anos 1990 os escrutínios eram marcados por uma crescente polarização; o Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão), o Partido Socialista (SP) e o Partido Verde (PV) ganharam terreno. Já as forças de centro perderam. Assim os extremos se ampliaram no cenário político.

Porträt Claude Longchamp vor dem Bundeshaus
O historiador e cientista político Claude Longchamp é um dos analistas políticos mais conhecidos na Suíça. Nos últimos trinta anos analisou e comentou os resultados de eleições e plebiscitos para a televisão suíça SRF. Longchamp foi um dos fundadores e diretores do instituto de pesquisas de opinião Gfs.bern, do qual hoje é presidente do conselho de administração. swissinfo.ch

Mas dessa vez, tanto o SVP (direita nacionalista) como o SP (esquerda) perderam. O Partido Liberal (FDP), como força de centro também se enfraqueceu. Já o Partido Cristão-Democrata (CVP) teve apenas perdas marginais de votos.

O fato é que todos os partidos presentes no governo da Suíça perderam assim a força entre os eleitores. O PV e o Partido Verde Liberal (PVL), por outro lado, não têm ministros no gabinete federal e cresceram de forma substancial.

Dilema para partidos do governo

As mudanças trazidas pelas últimas eleições foram uma novidade na Suíça. Porém não surpreendem se for levado em consideração a situação na Europa. Em vários países, partidos da oposição conquistam eleitorado desde a crise do mercado financeiro global. Hoje, colocam os partidos governamentais sob forte pressão.

Uma ruptura sem precedentes. Foram as eleições mais voláteis desde a introdução da representação proporcional em 1919, como mostram os resultados para o Conselho Nacional (Câmara dos Deputados): mais de 17 por cento dos assentos foram ocupados por parlamentares de outros partidos. 

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mulheres

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Onda verde favorece partidos ecologistas suíços

Este conteúdo foi publicado em Os suíços decidiram quem ocupará o parlamento do país durante os próximos quatro anos.  O Partido Popular Suíço (SVP), direita populista, está do lado perdedor e, de acordo com a terceira projeção nacional da SRG, perdeu 3,8 pontos percentuais dos votos no Conselho Nacional, a Câmara dos Deputados, mas continua sendo o partido mais forte, com 25,6% dos…

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A situação no Conselho de Estados (Senado) é um pouco mais estável, mas segue o mesmo padrão. Dez dos 46 assentos mudaram de partido, um recorde para a casa. 

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Os ganhadores das eleições foram os partidos ecológicos (acréscimo de 4 assentos). Já o Partido Socialista perdeu três asssentos. 

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Em suma, o ano eleitoral de 2019 está no topo de uma série de marcos históricos. As maiores convulsões do cenário político ocorreram em 1935 e 2011. Nesses dois anos, respectivamente, 13 e 15 por cento dos assentos do Conselho Nacional mudaram de partido, um recorde.

Crises impulsionam mudanças

Em 1935, a primeira dessas rupturas foi causada pela Grande Depressão em 1929. Ela trouxe um declínio no desempenho da economia, desemprego e problemas sociais. Como resultado, surgiu um terreno fértil para novos partidos, dentre eles o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), mais conhecido como Partido Nazista.

Na Suíça, os quatro principais partidos perderam votos nas eleições de 1935. Os mais afetados foram o FDP, seguido pelo Partido dos Agricultores Suíços (que hoje chamado SVP) e o Partido Cristão (hoje, CVP). Os sociais-democratas, o partido mais forte da Suíça desde 1931, também foi um dos perdedores.

Já a vitória de novas forças políticas foi considerável. Eram partidos como os Independentes, os Autônomos, os Jovens Agricultores e os Fronte Nacional, uma força da extrema-direita.

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materiale di propaganda di diversi partiti e candidati

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Como se posicionam os partidos no espectro político suíço?

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Como resultado, os políticos passaram a exigir um novo sistema de governo. Este deveria refletir melhor o novo equilíbrio de forças no Conselho Federal (o corpo de sete ministros que governa o país). O resultado foi o primeiro passo para a chamada “Fórmula Mágica”: ela prevê a participação permanente de quatro partidos governamentais no governo.

Segunda ruptura

O segundo choque comparável ocorreu em 2011. A força motriz foi o desastre nuclear ocorrido na Central Nuclear de Fukushima no Japão, que despertou o cidadão para os riscos da energia nuclear. Como reação, o clamor popular exigiu o abandono imediato dessa fonte energética. O Conselho Federal tomou as rédeas e propôs mudanças. As mulheres no Conselho Federal – com quatro ministras, a maioria – decidiram, por fim, que a Suíça iria abandonar a energia nuclear.

Nas eleições federais, em outono de 2011, os partidos representados no governo viveram uma grande derrocada.  O grande perdedor foi o FDP, que não conseguiu tomar uma decisão sobre a importante questão.

Os novos partidos saíram vitorisoso: o Partido Burguês-Democrático (BDP), que concorria pela primeira vez às eleições, e o Partido Verde Liberal (segunda). Ambos atingiram mais de cinco por cento dos eleitores. Os jovens votaram em massa nos verdes-liberais.

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Uma equação política baseada numa fórmula mágica

Este conteúdo foi publicado em A divisão de assentos no governo federal suíço é regida há mais de meio século pela chamada “Fórmula Mágica”.  Quando a Suíça moderna foi fundada em 1848, o governo era constituído exclusivamente por membros do mesmo partido. Foi apenas em 1891 que um segundo partido passou a ser representado no Conselho Federal, o corpo de…

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Políticos negligenciaram questão do clima

A terceira grande mudança ocorre agora, no final de 2019. O protesto de rua a favor do clima atingiu seu primeiro clímax na primavera. Diversas greves e manifestações estudantis eclodiram no país. Consequência nas urnas: resultados recordes para o PV e os verde-liberais.

Situação permanece volátil

O que aprendemos?

1 – No início de todas grandes mudanças no cenário político da Suíça: crises econômicas, tecnológicas e ambientais. Todas têm um impacto direto sobre os resultados eleitorais, pois afinal, o país, sobretudo devido às suas conexões globais, não está imune às influências externas.

2 – Percebe-se que os intervalos entre duas mudanças encurtam. Grandes rupturas não são um fenômeno único, mas se tornam quase uma regra.

3 – A estabilidade do sistema político helvético está sob pressão. O cenário político passa por mudanças radicais, o que não ficará sem consequências para o sistema de governo. A Fórmula Mágica foi programada para durar. Ela exige como condição sine qua non uma correlação de força dos partidos mais estável e uma aceitação maior destes pelo eleitorado.

Manter sua estabilidade política: esse é o desafio central, também para a Suíça.

Regula Rytz
Regula Rytz, presidente do Partido Verde (PV), um dos ganhadores das eleições em 2019. Keystone / Peter Klaunzer

Os últimos resultados

A eleição mantém praticamente o status quo no Conselho dos Estados (Senado). O Partido Cristão-Democrático (CVP, na sigla em alemão) e o Partido Liberal (FDP) forma uma maioria conjunta. E se o Partido Socialdemocrata (SP) e o Partido Verde (PV) se harmonizarem, também seria possível formar uma maioria com ajuda do CVP ou FDP. O Partido do Povo Suíço (SVP) permanece isolado, uma vez que não encontra outros partidos para formar uma maioria.

Adaptação: Alexander Thoele

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