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Suíça como mensageiro diplomático

“Sem a Suíça, a situação poderia ser pior”

Sem os bons ofícios da Suíça, a situação no Golfo Pérsico poderia se deteriorar, diz o embaixador iraniano em Berna, Mohammad Reza Haji Karim Jabbari, em entrevista à televisão pública suíça, SRF. 

Jabbari também diz que os diplomatas suíços ajudam a aliviar as tensões na região e que a Suíça propõe planos e iniciativas “que podem ser muito úteis”. 

SRF: Uma dessas iniciativas é o canal de comércio humanitário que a Suíça gostaria de estabelecer. Com o acordo dos EUA, bens humanitários e medicamentos poderiam ser importados para o Irã. Qual é a importância dessa iniciativa para o senhor? 

M.R.H.K.J.: Nós apreciamos o papel da Suíça aqui. As empresas suíças estão investindo no Irã e, nos últimos 20 meses, o governo suíço tem tentado trabalhar para um canal de comércio humanitário de produtos farmacêuticos. 

Para alcançar este objetivo, ela conduziu extensas negociações com o governo dos EUA. No entanto, os EUA estão desempenhando um papel hipócrita e, infelizmente, isso ainda não produziu nenhum resultado. 

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Procissão fúnebre

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A Suíça medeia a comunicação entre EUA e Irã

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SRF: Assim, não há medicamentos no Irã por causa do embargo? 

M.R.H.K.J.: Há pelo menos uma escassez de medicamentos e suprimentos médicos. Mandamos recentemente à Suíça uma lista dos produtos que estão faltando. 

Por um lado, os EUA afirmam que o comércio humanitário não é afetado pelas sanções. Mas por outro, eles estão bloqueando as transferências de dinheiro. A raiz da escassez de medicamentos reside no bloqueio do nosso sistema bancário. 

SRF: Após o assassinato do general Qasem Soleimani pelos EUA, assistimos apenas a ataques de retaliação limitados por parte do Irã, especificamente em duas bases dos EUA no Iraque. Haverá mais? 

M.R.H.K.J.: O assassinato do Major-General Soleimani pelas forças dos EUA é um crime de guerra. Assim, os EUA desconsideraram as regras, regulamentos, normas e princípios internacionais. 

O que o Irã fez depois foi não só retaliação, mas autodefesa. Mas nós não queremos guerra na região. Não é nossa intenção contribuir para a escalada. Mas estamos preparados para responder a qualquer tipo de ataque por qualquer meio. 

SRF: Como aconteceu o abate do avião de passageiros ucraniano? 

M.R.H.K.J.: Foi, de fato, um triste acidente. Aconteceu apenas horas após o ataque de mísseis iranianos a uma base militar americana no Iraque. Infelizmente, a presença de tropas dos EUA na região está gerando cada vez mais sofrimento e tensão. 

No entanto, os militares iranianos assumiram a responsabilidade pelo acidente. O Irã irá agora cumprir as suas obrigações morais, legais e internacionais. Antes de mais nada, estamos concentrados em aliviar a dor e o sofrimento das famílias afetadas. 

SRF: Por que o espaço aéreo em Teerã não estava fechado naquela noite? 

M.R.H.K.J.: Não conheço os detalhes técnicos. Mas, em geral, posso dizer que o incidente aconteceu apenas horas depois do ataque dos mísseis ter terminado. Foi um erro humano. 

SRF: Depois que o avião foi abatido, muitas pessoas estão novamente se manifestando no Irã. Alguns acusam o governo iraniano de mentir e outros até preveem o fim do regime. Como o senhor vê isso? 

M.R.H.K.J.: Os iranianos são livres para dizer o que pensam, livres para criticar. Esse é um direito constitucional deles. O governo iraniano nunca tentou restringir este direito. 

Ao mesmo tempo, houve este incidente causado por erro humano. O exército forneceu informações claras e transparentes. É claro que há sempre pessoas que têm opiniões diferentes. Elas têm o direito de expressar as suas opiniões.

SRF: Então, os responsáveis serão levados à justiça? 

M.R.H.K.J.: Sim. O líder da República Islâmica, o presidente, o chefe de justiça e os comandantes do exército já confirmaram isso. Também já houve detenções. Os responsáveis serão levados à justiça. 

SRF: O senhor espera mais confrontos no futuro ou uma desescalada? 

M.R.H.K.J.: Não vejo razão para uma escalada ou guerra na região. Acreditamos que os países em torno do Golfo Pérsico podem encontrar novos arranjos para a segurança e a paz. Mas para que isso aconteça, todas as forças estrangeiras devem deixar a nossa região. 

Sem a presença intimidadora dos EUA, podemos chegar a um acordo. Se Donald Trump ameaça destruir patrimônios culturais iranianos, ele nos ameaça com crimes de guerra; se a população iraniana passar fome, é um crime humanitário, e o assassinato de Soleimani é um ato de guerra. Aqui nós nos defenderemos, é claro.


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Nosso homem em Teerã, o mensageiro de Trump

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Adaptação: Fernando Hirschy

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