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Longo no limbo, o dossiê europeu está ganhando terreno em Berna

Ursula von der Leyen
A Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen "está pronta para fazer sua parte para o que parece ser uma operação de resgate do acordo institucional", segundo o jornal Le Temps. Keystone / John Thys

Ruptura ou continuidade? As previsões e análises se multiplicam na mídia suíça poucos dias antes da visita do presidente da Confederação à Bruxelas. Guy Parmelin deve se reunir nesta sexta-feira com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para esclarecer a posição de Berna sobre o acordo-quadro negociado em 2018 entre a Suíça e a União Europeia.

Como aponta o correspondente do jornal Tages AnzeigerLink externo de Bruxelas, “Ursula von der Leyen tentará descobrir se o governo suíço ainda está apoiando o acordo-quadro. Em nenhuma circunstância Bruxelas assumirá responsabilidade por qualquer falha. Será apenas uma decisão da Suíça. Em caso de insucesso, não existe um plano alternativo [do lado de Bruxelas]”.

“O fato de Ursula von der Leyen querer manter essa reunião mostra uma vontade de estender a mão à Suíça”, nota o jornal Le TempsLink externo, acrescentando que a Presidente da Comissão Europeia “está pronta para fazer uma operação de salvamento do acordo institucional”.

Guy Parmelin irá na mesma direção? Em entrevista ao periódico Le Matin DimancheLink externo, o presidente da Confederação deixou escapar: “Não vou jogar como fez o Boris Johnson”, especificando que a situação suíça não é comparável com o Brexit porque a Suíça não quer “sair de um acordo, mas encontrar uma solução para desenvolvê-lo. “

Clarear o breu

Para obter mais precisão, teremos que esperar. O governo realizou uma reunião de emergência na segunda-feira para definir os termos da discussão que Guy Parmelin levará a cabo. Nada de oficial vazou da reunião, mas o Conselho Federal deve dar continuidade ao debate na quarta-feira, em sua reunião semanal.

A maior parte da mídia observa que o colégio governamental está longe de ser unânime quanto a que caminho a seguir com Bruxelas. Recentemente, o Conselho Federal até deu a impressão de querer, sem dizer, enterrar o acordo-quadro ganhando tempo. É essa imprecisão suíça que Ursula von der Leyen pretende dissipar.

Considerando os iminentes riscos de deterioração das relações entre a Suíça e a União Europeia, os apoiadores de um acordo com Bruxelas levantaram suas vozes após meses ou até anos de silêncio.

Voltar com graça para o acordo-quadro

Primeiro os cantões, depois as cidades, mobilizaram-se nas últimas semanas para exigir “relações de boa qualidade e estáveis ​​com a UE”, sublinhou o Le Temps. Em um apelo lançado também pelos círculos econômicos que “mostrou uma coesão raramente vista”, analisou Le Temps, citando um comunicado de imprensa conjunto das associações guarda-chuva Economiesuisse e do Sindicato dos Empregadores da Suíça. “É do interesse de nosso país garantir o caminho bilateral para o futuro”, declararam as entidades.

Um argumento similar também foi martelado pelo presidente dos metalúrgicos da Swissmem. Martin HirzelLink externo disse sem rodeios: “Sem um acordo-quadro, a Suíça perderá empregos porque nossas empresas vão investir mais no exterior.”

As pessoas e entidades que vêem com maus olhos qualquer aprofundamento das relações com a União Europeia já não são as únicas a se fazerem ouvir. No entanto, continuam duvidando das vantagens de um acordo duradouro e dinâmico com Bruxelas.

Nada a ganhar com o acordo

Heinrich FischerLink externo acredita que uma alternativa ao acordo-quadro é certamente possível. De acordo com o presidente do conselho de administração da Hilti Aktiengesellschaft, a Suíça já tem um bom pacote de tratados feitos sob medida com os acordos bilaterais I e II e o Acordo de Livre Comércio de 1972: “Eles não se esvaziarão imediatamente e não deixarão de serem aplicáveis caso não assinarmos o acordo-quadro tal como está”.

“Queremos continuar bilateralmente, mas não a qualquer custo”, especifica Heinrich Fischer, membro da Kompass – Europa, grupo que faz uma pressão hostil ao acordo-quadro. “Para tal, ao contrário do Reino Unido, aceitamos a nossa parte justa nos pagamentos do fundo de coesão, livre circulação de pessoas, benefícios para os 300.000 passageiros transfronteiriços, tráfego da UE com o nosso investimento de 25 mil milhões de francos nas linhas ferroviárias transalpinas e muito mais”.

O peso dos países do leste

Não dá para ter certeza se a força dos países localizados no leste europeu é suficiente para limitar as consequências da falta de acordo com Bruxelas. Como aponta o correspondente do Tages Anzeiger, com base em um relatório de uma reunião na última sexta-feira na Suíça, “os embaixadores dos países da Europa Oriental foram particularmente críticos. A Suíça tem acesso ilimitado ao mercado interno e, ao mesmo tempo, mantém a sua contribuição para a política de coesão. Do ponto de vista da UE, a Suíça tem atrasos aqui desde 2014”.

Segundo Le Temps, o ministro das Relações Exteriores, Ignazio Cassis, tentou reverter ao acordo de livre comércio de 1972 propondo modernizá-lo e dobrando ou mesmo triplicando a ajuda de coesão para os países da UE: “Mas dentro do colégio, Ticino se viu totalmente isolado, sem apoio neste plano”.

No fim, é um vereador federal  oriundo da UDC – o grande partido da direita soberanista – que vai finalmente visitar Bruxelas. No comando da economia, Guy Parmelin defenderá a posição do governo, não a de seu partido, do qual ele conseguiu se libertar no passado.

Ruptura ou continuidade

Em artigo dedicado às relações entre Londres e Bruxelas, a The EconomistLink externo resumiu a questão de uma só vez: “Os países vizinhos do maior bloco econômico do mundo devem aceitar sua supremacia ou tentar lutar contra isto. Suíça e Turquia são os melhores representantes dessas duas opções. Os suíços, que fizeram uma complexa rede de acordos com a UE, às vezes reclamam quando a UE entra em seus negócios, mas sempre acabam aceitando a intrusão”.

A reunião de sexta-feira dirá em que medida a Suíça pretende manter esta opção, uma vez que a outra postura, a da Turquia, foi excluída pelo Conselho Federal.

Adaptação: Clarissa Levy

Adaptação: Clarissa Levy

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