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Não há previsões confiáveis de terremotos, dizem peritos

Continua a procura de vítimas nos escombros de L'Aquila. Reuters

Giampaolo Giuliani havia previsto o terremoto na Itália. Peritos suíços e alemães dizem que o chamado "prognóstico de radônio" usado por ele não é confiável.

Segundo as autoridades italianas, a catástrofe no centro do país deixou um saldo de mais de 170 mortos, 1.500 feridos e 100 mil desabrigados.

O terremoto de 5,8 a 6,2 graus na escala Richter, na região de Abruzzo, perto de Roma, desencadeou uma discussão sobre a confiabilidade das previsões desses fenômenos.

Giampaolo Giuliani, assistente técnico do Laboratório Nacional de Gran Sasso, constrói em seu tempo livre instrumentos com os quais mede os níveis de radônio – gás radioativo liberado por rochas que contêm urânio ou tório e difundido para a superfície.

Radônio e terremotos



“Há três dias, vimos um forte aumento no nível de radônio de fora da região de segurança. E este aumento significa um forte terremoto”, disse o pesquisador ao jornal italiano Corriere della Sera, na segunda-feira, horas após o abalo sísmico.

Com base em medições realizadas durante muitos anos, Giuliani acredita que elevadas concentrações de radônio, sob determinadas condições, são um indicador de um terremoto iminente.

Florian Haslinger, do Serviço Suíço de Terremotos, vê essa afirmação com ceticismo, embora não descarte uma ligação entre radônio e terremotos.

Faltam provas cientícas



“Desde os anos de 1960 é conhecido que o radônio é um acompanhante potencial de terremotos. Ele pode ser liberado à superfície em volumes maiores através microfissuras decorrentes do abalo. Mas não há comprovação científica de que o radônio seja um precursor de terremotos”, disse Haslinger ao jornal Neue Zürcher Zeutung (NZZ).

A mesma opinião é partilhada por Domenico Giardini, do Instituto de Geofísica da Escola Politécnica Federal de Zurique. “Às vezes, aparelhos de medição apontam grandes anomalias de radônio, sem que aconteça algo. Por isso, esse método é inútil para a defesa civil, porque não se pode colocar a cada vez a população em pânico”, disse ao NZZ.

Nem mesmo o fato de terem sido registrados na região desde janeiro abalos com uma magnitude de até 4 graus na escala Richter é um indicador seguro para Giardini. “Tais séries frequentemente desaparecem. Além disso, sabe-se que a região de Abruzzo é sismicamente ativa.”

Pesquisador sério



Também outros pesquisadores estão convencidos de que terremotos são imprevisíveis. O geólogo alemão Rainer Kind, do Centro de Pesquisas Geológicas de Potsdam, diz que o “método radônio” usado por Giuliani é impróprio para fazer previsões concretas.

Kind disse à imprensa alemã que considera Giuliani um pesquisador sério, “mas ele previu um terremoto para o dia seguinte, o que não ocorreu”. Kind disse que seu colega foi leviano ao tornar públicos seus prognósticos. O acontecimento de fato de um violento terremoto um pouco mais tarde foi um acaso, acrescentou.

Previsões na Suíça



Também a Suíça corre o risco de ser atingida por terremotos. Em 1356, um abalo sísmico destruiu grande parte da cidade de Basiléia; em 1946, houve um forte terremoto no cantão do Valais.

Segundo Haslinger, estatisticamente um terremoto como o que Basiléia pode se repetir a cada 700 até 1.000 anos. “No Valais, a terra treme a cada 60 até 100 anos a 6 graus na escala Richter. Mas não se pode dizer se o próximo terremoto acontecerá amanhã ou daqui a 20 anos”, disse ao jornal Tagesanzeiger.ch.

Perguntado se a Suíça está bem preparada para enfrentar um terremoto, Haslinger respondeu. “Em comparação com outros países europeus, a Suíça está bem. Há conceitos da defesa civil, da Central Nacional de Alarme e do Serviço de Terremotos. Está tudo bem regulamentado o que é preciso fazer em caso de terremoto”, disse.

swissinfo com agências e jornais

O maior terremoto na Itália ocorreu em 1908, em Messina, na Sicília, causando a morte de 70 mil pessoas.

O segundo maior do século 20, em novembro de 1980, matou 3 mil pessoas em Nápoli e em outras cem cidades italianas.

Quatro anos antes, quase mil pessoas morreram em Friaul, no nordeste do país, em consequência de um abalo de 6,5 graus na escala Richter.

A maior catástrofe de um terremoto na Europa ocorreu em novembro de 1755 em Lisboa: cerca de 80 mil pessoas morreram.

Além dos terremotos de Lisboa e Messina, ainda outros três causaram mais de mil mortes: em dezembro de 1857 em Nápoli (11 mil), em novembro de 1940 em Vrancea, na Romênia (4 mil), bem como o terremoto de 1356 em Basileia (300 a 1000 mortos).

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