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Por que imigrantes flertam com a direita nacionalista?

Chris Iseli/ AZ

O termo "democracia direta" ganha um novo significado na Suíça quando a pessoa se naturaliza. Ela pode, por exemplo, escolher o partido que irá apoiar. Porém será que o Partido do Povo Suíço (direita nacionalista, SVP, na sigla em alemão), responsável por diversas iniciativas contra a imigração, também convencem os suíços naturalizados?

Essa é a primeira semana da sessão de primavera no Congresso suíço. A porta do plenário da Câmara dos Deputados se abre e o presidente do SVP, Toni Brunner, surge e logo aperta a minha mão.

O SVP, a força motriz por trás das iniciativas em prol da expulsão de estrangeiros criminosos, da proibição de construção de minaretes ou pela limitação da imigração no país, esta aprovada nas urnas em 9 de fevereiro de 2014. Esse partido teria a fama de ser xenófobo. Seria correto julgá-lo assim?

“Não, de forma nenhuma”, afirma Brunner. Ele se inclina e a expressão do rosto se torna séria. Estrangeiros seriam “bem-vindos” no partido, ressalta o político. A adesão ao SVP oferece aos imigrantes a possibilidade de “sentir a democracia e poder participar.”

Brunner acrescenta que o partido tem recebido um forte apoio de cidadãos estrangeiros radicados na Suíça, especialmente jovens imigrantes da segunda geração. Mesmo sem dispor de estatísticas nacionais do partido, ele está convencido dessa tendência. “Eu sei, pois muitas vezes participo da fundação de grupos locais.”

Atraente para estrangeiros

Um dos suíços de origem estrangeira que apoia o partido é a deputada-federal Yvette Estermann. Ela cresceu em um sistema totalitário na antiga Tchecoslováquia e chegou em 1993 à Suíça.

Em 2010 ela criou o grupo político “Nova Pátria Suíça”, cujo principal objetivo é abordar estrangeiros – naturalizados ou não – interessados em mostrar o seu engajamento pelo país de acolho.

Mesmo o grupo declarando ser apartidário e fazer apenas poucas menções ao SVP no site, ele não esconde seguir a linha partidária. Em junho de 2011, 140 pessoas estavam presentes primeiro simpósio. O evento teve a participação do conhecido jornalista e editor e expoente da direita nacionalista, Roger Köppel. Seu discurso foi dedicado ao tema “Imigração sim, mas com limites”.

Apoio

O plebiscito de 9 de fevereiro de 2014 torna mais difícil a imigração para a Suíça: 50,3% dos eleitores e uma maioria dos cantões aprovaram a iniciativa “Contra a imigração em massa” do SVP. Ela exige quotas para trabalhadores estrangeiros que vivem e trabalham na Suíça, a preferência para suíços no preenchimento de vagas e a limitação do direito de estrangeiros de acesso às prestações sociais.

Portanto, o que leva estrangeiros na Suíça a apoiar uma iniciativa popular nessas bases ou o partido responsável por ela? O cientista político Gianni D’Amato, da Universidade de Neuchâtel, considera que a posição está relacionada à necessidade de se sentir “reconhecido e aceito”. 

Segundo D’Amato, o SVP oferece “uma imagem forte” em relação ao que significa ser suíço. “Todavia é uma imagem um pouco antiquada. Em princípio, é a da Suíça dos anos 1950 e 1960, quando tudo ainda estava em ordem.”

O SVP necessita de membros originários da imigração, explica. “O fato dos estrangeiros fazerem parte do partido funciona como uma legitimação e garantia de que a sua política não caia em chavões de xenofobia.”

Mudanças

O duplo cidadão croata-suíço Niko Trlin apoia o partido pelo fato de sentir que ele é um dos poucos que se engaja por valores suíços. “Eu quis contribuir para que a gente possa continuar a gozar do bem-estar que temos aqui na Suíça”, declara.

Porém ele vê como algumas pessoas reagem com espanto ao descobrir sua origem croata. “Eu entendo, mas na minha perspectiva não é bom estar gritando do outro lado do rio se quiser mudar as coisas em matéria de estrangeiros. Tenho que estar no meio da ação.”

As últimas campanhas do partido foram, a seu ver, “um pouco exageradas”. Apenas imigrantes fracassados e exemplos de má integração foram apresentados. “Mas 95% deles fazem uma ótima contribuição ao país.”

Confirmação

Yvette Estermann é deputada-federal desde 2007. Ela é uma das poucas pessoas naturalizadas no Parlamento suíço (uma moção que obrigaria parlamentares a declarar outras nacionalidades não foi aprovada em 2008. Por essa razão não há estatísticas). Ela se naturalizou em 1999. Um ano depois aderiu ao SVP em Kriens, no cantão de Lucerna.

A decisão de entrar no partido não foi difícil, lembra-se Estermann. Ela estava fascinada pela figura do líder político do partido, Christoph Blocher, durante debates em que participava na televisão. “Eu sempre pensava: ele faz declarações tão claras e, ao mesmo tempo, é tão tangível”. Assim começou a se informar sobre o programa partidário e assim veio a “confirmação”. 

O programa do SVP para os anos de 2011 a 2015 está escrito em um documento de cem páginas, repletas de estatísticas, citações e imagens da Suíça. Os valores do partido estão descritos em detalhe. “Quem vota no Partido do Povo Suíço deve saber o que ele defende”, explica o texto introdutório. “O SVP é claro no seu discurso e tem uma política clara e constante.”

Alguns desses valores como a soberania, democracia direta e responsabilidade são compartilhados pela maioria dos partidos suíços. Outros não como a recusa de aderir à União Europeia ou a luta contra a criminalidade através da expulsão dos estrangeiros criminosos.

Quem analisar a fundo pode considerar que muitas das considerações do partido em relação aos estrangeiros são de conotação negativa. “Hoje a nacionalidade é verdadeiramente distribuída como confete”, por exemplo. Ou também: “Apesar de não existir estatísticas completas da criminalidade jovem para todo o país, muitos dos jovens criminosos possuem atualmente um passaporte suíço. Todavia os especialistas consideram que 75% desses jovens criminosos têm origem estrangeira.”

Existem então “bons e maus estrangeiros”? “Não. Mas como em todos os lugares existem pessoas boas e más, sejam estrangeiros ou suíços. E os criminosos são os que não cumprem as leis ou que colocam a sua própria cultura acima da legislação do país”, responde o presidente do SVP, Toni Brunner. “Nós esperamos de todos aqueles que aqui vivem respeitem a Constituição suíça.”

Mais suíços que os suíços

Respeitar os valores suíços é evidente para Estermann. Em 2008 ela apresentou no Parlamento uma moção exigindo que todos os seus colegas parlamentares cantassem o hino suíço na abertura de cada sessão (quatro por ano). “Muitos disseram para mim: mas logo você?”, lembra-se. Muitos elogiaram a iniciativa. “Você está ensinando aos suíços como se tornar suíço”.

Não faz diferença qual partido eles apoiam: estrangeiros naturalizados e estrangeiros têm o direito, assim como todos os cidadãos suíços, de participar da construção do futuro do país. Quando ele ouviu que eu me tornei suíça há pouco tempo, Toni Brunner ganha uma luz no rosto e aperta mais uma vez a minha mão. “Gratulações. Seja bem-vinda”, diz.

“A naturalização não deve ser fácil, mas quando você se torna suíço, isso é um privilégio”, considera Brunner. “Naturalizar-se significa poder participar do processo político. E essa luta vale a pena, mesmo se dura cinco ou dez anos.”

Adaptação: Alexander Thoele

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