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Suíços palpitam, mas recusam ingerência do Estado

Thomas Kern / swissinfo.ch

Embora a imprensa da Suíça dê mais destaque à ingerência dos cidadãos nos assuntos do Estado, com o voto contra a compra de 22 caças Gripen pelo Ministério da Defesa, os jornais suíços abordam a recusa da intromissão do governo na fixação dos salários como uma reação lógica e sem surpresa.

A recusa dos suíços em instituir o que seria o maior salário mínimo do mundo teve grande repercussão na imprensa nacional e internacional.

Para o colunista do Tages Anzeiger, Andreas Valda, “os salários mínimos são negociáveis” e a rejeição maciça do salário mínimo é “um fundamento para as condições liberais do mercado de trabalho”. O jornalista do jornal de Zurique lembra a relutância tradicional dos eleitores na interferência do Estado nas questões do mercado do trabalho, citando a recusa dos suíços da iniciativa popular que pretendia instituir seis semanas de férias, há dois anos.

Para o jornal da Suíça francesa, Le Temps, a rejeição de 76,3% dos eleitores a um salário mínimo de 4000 francos é uma clara derrota da esquerda do país, “que não conseguiu mobilizar nem mesmo o total de suas tropas, que representa cerca de 30% do eleitorado”. O jornal de Genebra diz que a próxima luta anunciada pela esquerda será a igualdade salarial entre homens e mulheres.

O reputado jornal suíço Neue Zürcher Zeitung diz que a decisão do povo contra a iniciativa do salário mínimo foi muito clara, citando uma declaração do ministro da Economia, Johann Schneider-Ammann, para quem o resultado foi uma “mensagem forte” para o governo, o meio empresarial e a parceria social do país. “É por este caminho de sucesso que queremos ir”, cita.

O jornal La Liberté, de língua francesa, considera que “a prudência saiu vitoriosa” e que a clara derrota da esquerda pôs um termo às tentativas sindicais de reger os salários em nível nacional. O jornal diz que o alívio dos patrões é tangível. “Os suíços não querem a ingerência do Estado na fixação dos salários”, citou o jornal.

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Voz da razão

A decisão dos suíços revelada nas urnas no domingo 18 chamou principalmente a atenção dos vizinhos do norte, a Alemanha, que também vem debatendo a questão com muito ardor. Para o correspondente do Frankfurter Allgemeine Zeitung, os suíços teriam recusado o salário mínimo por causa do seu alto valor e da rigidez do sistema que não permite uma distinção entre setores e regiões.

Já o Die Welt chamou a iniciativa da União Sindical Suíça, o maior sindicato do país, de “populista”, intitulando “A Suíça tomou a decisão certa”, revelando a atmosfera contra projetos semelhantes na Alemanha. Para o jornal alemão, os suíços teriam escutado o conselho dos especialistas na questão.

O New York Times, por sua vez, observa que a maioria dos suíços não considera os baixos salários um problema, ou pelo menos como um problema no qual o Estado tivesse que intervir, lembrando que o mínimo de 22 francos suíços por hora proposto na iniciativa é bem mais que o dobro pago nos Estados Unidos.

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