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Suíça pode cumprir metas de Kyoto com certificados

Trânsito é responsável por 31,9% das emissões de CO2 na Suíça. Keystone

A Suíça poderá atingir suas metas de redução das emissões de gases do efeito estufa até 2012 se considerar nos cálculos os "poços de carbono" e a compra de certificados de emissão estrangeiros.

É o que diz um relatório apresentado pelo Ministério de Meio Ambiente (BAFU), em Copenhague. Organizações não governamentais cobram uma política ambiental mais corajosa de Berna.

A Suíça comprometeu-se no Protocolo de Kyoto a reduzir em 8% suas emissões de gases do efeito estufa entre 2008 e 2012 em comparação com o nível de 1990.

“Com base nas perspectivas atuais, porém, esta meta só poderá ser alcançada se forem incluídos nos cálculos os sumidouros de carbono, bem como a compra de certificados de emissão estrangeiros”, diz o relatório apresentado pelo BAFU, na segunda-feira (14/12), na conferência da ONU sobre o clima, em Copenhague.

Em 1990, a Suíça emitia 52,71 milhões de t de CO2 (6,73 t per capita) e, no período de 2008 a 2012, pretende ficar abaixo de 48,57 milhões de t anuais, conforme os direitos de emissão atribuídos pela ONU.

Para isso, o país precisa anualmente reduzir suas emissões internas em 1,85 milhão de t, comprar direitos de emissão de 2,2 milhões de t no exterior e “afundar” 350 mil t em suas florestas. Daí teria uma média de 48,31 milhões de t de emissões por ano.

Este é o cenário de referência para a proposta de revisão da Lei de CO2, que o governo já enviou ao Parlamento. Um cenário que Paul Filliger, da seção de clima do BAFU, considera “realista”, se as medidas adicionais surtirem o efeito desejado.

Essas medidas compreendem estímulos fiscais (imposto de CO2 sobre combustíveis fósseis, comércio de emissões, saneamento energético de edifícios), mas também medidas voluntárias das empresas e pessoas físicas.

Cenários alternativos

O ministério calculou também dois cenários alternativos. Se, por exemplo, houver um maior crescimento do PIB, um recuo dos preços dos combustíveis fósseis, temperaturas mais baixas no inverno e um efeito reduzido das medidas adicionais, as emissões totais do país superariam a meta em 2 milhões de toneladas/ano.

Uma inversão desses fatores, que serve de base ao terceiro cenário, mais otimista, permitiria à Suíça emitir 1,5 milhão de toneladas de gases do efeito estufa a menos do que o limite estabelecido pelo Protocolo de Kyoto.

O relatório do BAFU deixa claro como a redução das emissões em uma área pode ser neutralizada pelo aumento em outras. De 1990 a 2007, por exemplo, a redução de CO2 no setor de construção civil foi anulada pelo aumento no trânsito. Juntos, esses setores respondem por 62% das emissões na Suíça (veja link à direita).

Filliger explica à swissinfo.ch que, até 2008, o forte crescimento econômico do país fez com que as emissões voltassem a aumentar levemente em algumas áreas, como no processamento industrial e na agricultura (aumento dos rebanhos).

Medidas adicionais

Ao mesmo tempo, o aumento do consumo de madeira, algo desejado, diminuiu as áreas de florestas que funcionam como “sumidouros de carbono”, acrescenta. Há dez anos, estimava-se que as florestas suíças pudessem contribuir para a redução de 1 a 1,5 milhão de t de CO2. Hoje essa estimativa gira em torno de 300 mil toneladas/ano.

Para o período pós-Kyoto até 2020, a Suíça quer reduzir suas emissões em, no mínimo, 20% – sob determinadas condições até 30% — em relação a 1990. Para isso, a revisão da Lei de CO2 prevê várias medidas.

Por exemplo: manter o imposto de CO2 sobre combustíveis fósseis (36 francos por tonelada de CO2); destinar 200 milhões de francos por ano desse imposto para o saneamento de edifícios; fixar um limite médio de emissão para carros novos; obrigar os importadores de combustíveis a compensar pelo menos um quarto de suas emissões; melhorar o sistema de comércio de emissões.

Críticas de ambientalistas

Para o Greenpeace, essas medidas, mesmo que sejam aprovadas pelo Parlamento, não serão suficientes. No começo deste mês, a ONG leu diante do Palácio Federal, em Berna, os nomes de 12 mil suíços que pedem uma política ambiental mais corajosa.

“Represento a voz de mais de um milhão de pessoas que reconheceram a urgência da situação e querem que os políticos sejam corajosos e responsáveis, e se engajem por uma proteção eficaz do clima”, disse o ativista Theo Gubler.

Em um estudo publicado no final de novembro, o Greenpeace mostrou que se uma política ambiental como a da Suíça (20% de redução das emissões de gases do efeito estufa até 2020) fosse aplicada em todo o Planeta, já em 2100 haveria um aquecimento de 3°C da atmosfera terrestre, contra os 2°C considerados suportáveis.

“Rastro ecológico” gigante

A organização ambientalista pede que a Suíça se comprometa em Copenhague a reduzir em 40% suas emissões até 2020. E que Berna contribua com 1,7 bilhão de francos anuais com o fundo internacional do clima, financiado pelos países industrializados. Reivindicações semelhantes são feitas por outras ONGs suíças.

“Uma redução de 20, 30 ou 40%. Nada é impossível, se o Parlamento aprovar as respectivas medidas”, diz Filliger. E se a sociedade fizer a sua parte. Apesar de serem campeões mundiais em reciclagem, os suíços têm um “rastro ecológico” de gigantes por causa de seu padrão de consumo (leia mais na coluna à direita).

Segundo cálculos publicados pelo jornal SonntagsZeitung, cada suíço consome, em média, recursos correspondentes a 56.000 m2 da superfície terrestre, ou seja, sete vezes mais do que um indiano.

Para uma “Suíça sustentável”, conforme prevista na Constituição desde 1999, somente seria permitido um “rastro ecológico” de 18.000 m2. Até mesmo ambientalistas exemplares, como o deputado verde Bastian Girod, consomem mais que o dobro disso (40.000 m2), ou seja, 40 vezes mais do que um agricultor do Afeganistão.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

O “rastro ecológico” (ecological footprint) é uma unidade de medida usada por pesquisadores para transformar tanto o consumo de recursos naturais quanto as emissões de CO2 em unidade de área.

O rastro mostra qual é a superfície de terra ou água necessária para cobrir a demanda de recursos de um país, de uma pessoa ou de uma decisão de consumo.

Um rastro sempre é relacionado à “biocapacidade” de uma região, ou seja, à sua capacidade de regeneração de recursos naturais e eliminação de emissões danosas nessa área.

Somente quando a biocapacidade de uma região é maior do que o “rastro ecológico” de seus habitantes, estes vivem de forma sustentável.

Segundo cálculos da rede Global Footprint Network, desde o final dos anos de 1980, a humanidade tem um rastro ecológico maior do que a biocapacidade de Terra.

Segundo a ONG, na prática, nenhum dos 60 países analisados encontra-se a caminho de prestar sua contribuição para impedir uma perigosa mudança climática e manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C.

Por isso, os três primeiros lugares do ranking permanecem desocupados (veja link abaixo). O Brasil foi apenas o “menos pior” e marcou pontos sobretudo devido à redução do desmatamento à metade no ano passado.

O ranking:

4. Brasil: 68,0 pontos
5. Suécia: 67,4
6. Grã-Bretanha: 65,3
7. Alemanha: 65,3
8. França: 63,5
9. Índia: 63,1
10. Noruega: 61,8
11. México: 61,2
12. Portugal: 59,7
13. Suíça: 59,4

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