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Suíços são contra a construção de novos minaretes

Uma proporção incomum de suíços participou do plebiscito para dizer "não" aos minaretes. Keystone

Os eleitores suíços aceitaram por 57,5% dos votos uma iniciativa popular exigindo a interdição de construir novos minaretes nas mesquitas na Suíça.

Em contrapartida eles rejeitaram a interdição de exportar material de guerra por 68,2% dos votos. A participação foi de quase 53%.

Apoiada pela União Democrática do Centro (UDC, direita conservadora) e a União Democrática Federal (UDF, direita conservadora), mas combatida por todos os outros partidos, pelo governo e pelo Parlamento, a iniciativa antiminaretes seduziu claramente o eleitor suíço, cuja participação foi de quase 53%, mais elevada do que a média habitual.

Os resultados definitivos são claros: 57,5% dos eleitores aprovaram a inicitiva que proibe a construção de novos minaretes. Apenas em três estados (cantões) a iniciativa foi rejeitada, em resultado surpreendente. A aprovação de uma iniciativa popular exige a dupla maioria, dos eleitores e dos estados (cantões), o que foi claramente o caso: a iniciativa foi aprovada em 22 dos 26 estados. Só foi rejeitada em Genebra, Vaud, Neuchâtel e Basileia.

A edificação de tais monumentos poderá ser interditada na Suíça. A última pesquisa da Gfs sobre a questão indicava, portanto, uma rejeição da iniciativa por 53%, contra 37% de aprovação e 10% dos eleitores ainda estavam indecisos. Porém constatou-se um progresso do bloco do “sim” entre a primeira e segunda pesquisa, fato raro para uma iniciativa lançada na Suíça.

Considerando que os minaretes não são indispensáveis à prática do Islã e que estes seriam muito mais o símbolo de um Islã conquistador, os partidários da iniciativa organizaram uma campanha julgada agressiva, mas que mostrou-se eficaz.

Já outros partidos, entretanto, recomendaram a sua rejeição, argumentando que tal interdição atentaria contra o princípio da liberdade religiosa e que terminaria por estigmatizar os cerca de 4% de muçulmanos que vivem na Suíça.

Além disso, o governo também tornou pública sua opposição à iniciativa mais cedo do que o costume. Desde o momento em que o texto foi acolhido, ele se opôs, insistindo posteriormente sobre o fato de que interditar os minaretes humilharia inutilmente o mundo muçulmano e que a imagem da Suíça no mundo estaria seriamente arranhada.

Segunda iniciativa refutada


A Suíça continuará a exportar material de guerra. A iniciativa popular do Grupo por uma Suíça sem Exército (GsSA, na sigla em francês), que pedia a interdição da Suíça exportar material de guerra, munições e know-how militar ao exterior, foi rejeitada por 68,2% dos votantes.

Em meio à crise econômica, a ameaça de perda de empregos – mais de 10 mil segundo a indústria de armamento – foi mais levada em consideração do que as considerações humanitárias. As medidas de compensação propostas pelos autores da iniciativa para atenuar o choque nas regiões atingidas pelos possíveis cortes não convenceram.

Mais de 1,797 milhões de cidadãos consideraram, finalmente, que as mais recentes medidas tomadas pelo governo federal irão impedir os abusos. Assim o “sim” tornou-se majoritário nas urnas. Mais de 837 mil votantes, pelo contrário, seguiram a esquerda e apoiaram a proibição sugerida pela iniciativa.

Esta teria acabado com a exportação e o trânsito de material de guerra, mas também de bens militares específicos – como aviões de treinamento ou simuladores. As armas de caça e de esporte, aparelhos destinados aos trabalhos de desminagem humanitária e os bens exportados temporariamente não teriam sido atingidos.

“Sim” ao financiamento aéreo



A terceiro e última iniciativa submetida ao eleitor – a taxação do querosene utilizado para os vôos internos na Suíça – foi aprovada por 65% dos votos. Nenhum estado (cantão) se opôs à nova destinação para os 40 milhões de francos gerados pelo imposto aplicado ao querosene de aviação. Essas receitas servirão futuramente ao financiamento da aviação e não mais da circulação rodoviária, como era o caso até então.

Pouco contestada durante a campanha, essa modificação da Constituição helvética foi aceita por mais de 1,61 milhões de suíços. Outros 867.514 votaram “não”. Apenas os verdes, o Partido Evangélico e o Partido Cristão-Social recomendavam votar contra essa iniciativa.

Os campeões do “sim” foram os eleitores de Genebra: 72,5% decidiram apoiar a proposta de transferir o dinheiro para beneficiar a aviação, seguramente influenciados pelo seu aeroporto de Cointrin. Eles foram seguidos pelos zuriquenses (69,2%) e os eleitores do cantão de Nidwalden (69,1%).

Os outros cantões da Suíça francesa se mostraram menos entusiastas pela idéia: 64,3% eleitores em Friburgo aprovaram, 64,2% em Vaud e 60,8% em Neuchâtel. O cantão do Valais ficou em 55,5% de votos favoráveis, pouco antes de Schwyz (57,5%) e Jura (58,1%). A taxa de fotos favoráveis no cantão de Berna chega a 65,7%.

swissinfo.ch e agências

Os eleitores suíços votaram hoje em três propostas de modificação da Constituição:

Iniciativa popular contra a construção de minaretes. Contexto: o governo federal e a maioria do Parlamento recomendavam o “não” à proposta. Justificativa: ela fere os direitos básicos e não resolveria nenhum problema, além de criar outros.

Iniciativa pela proibição da exportação de material de guerra. Contexto: ela não apenas sugeria o fim do comércio, mas também solicitava mais esforços por parte do governo suíço na luta pelo desarmamento e controle de armas. O governo federal e o Parlamento rejeitavam a iniciativa sem apresentar uma contraproposta.

Iniciativa relativa ao financiamento especial do tráfego aéreo. As receitas da taxação do consumo de combustível de aviões são destinadas em parte aos cofres federais e, em parte, à manutenção das estradas. Com a modificação do artigo 86 da Constituição Federal, o governo e o Parlamento querem criar condições para que essas receitas sejam destinadas aos cofres públicos e ao tráfego aéreo.

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