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Suíços só dizem não a propostas e iniciativas

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Os eleitores suíços rejeitaram claramente as três propostas levadas às urnas no domingo, 17 de junho.

Três quartos dos eleitores recusaram tanto a reforma no sistema de saúde do país quanto a iniciativa relativa aos acordos de política externa. Mais de dois terços foram contra a proposta de facilitar a aquisição da casa própria.

O resultado não foi nenhuma surpresa e confirmou as pesquisas de opinião realizadas nas vésperas do domingo.

Quanto a reforma do sistema de saúde, o cientista político Claude Longchamp disse que os ficaram irritados por súbitas mudanças da parte de políticos e organizações de saúde durante a campanha. Longchamp também disse que os partidários não conseguiram explicar a complexa questão.

Para o cientista político, o fracasso da iniciativa sobre os tratados internacionais foi uma resposta às tentativas anteriores de grupos conservadores próximos ao Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão) que procuram ganhar influência através de mudanças em questões institucionais.

“O SVP costuma ter sucesso principalmente com questões contra os estrangeiros”, explicou.

A iniciativa de conceder incentivos fiscais para a aquisição da casa própria fracassou por causa da oposição dos governos dos 26 cantões suíços. Eles temiam uma queda considerável das receitas fiscais, já que os eleitores já tinham se manifestado nas urnas por uma iniciativa semelhante em março.

“Managed Care”

Já existem cerca de 90 redes de assistência gerenciada no país, particularmente nas regiões urbanas de língua alemã, mas o objetivo final do governo e do parlamento era ter cerca de 60% da população coberta pelo chamado “Managed Care”.

Para isso, o governo criaria grupos de médicos, terapeutas, hospitais e farmácias. Este foi sem dúvida o assunto mais polêmico no período que antecedeu a votação.

Estas redes negociariam com as empresas de seguros de saúde para obter melhores preços. As pessoas que não quisessem fazer parte das redes ou insistissem em um acesso ilimitado aos serviços médicos teriam que pagar contas mais altas.

Os defensores do Managed Care argumentaram que o sistema resultaria em cortes de gastos de cerca de mais de um bilhão de dólares por ano e ajudaria a melhorar a qualidade dos cuidados de saúde. O setor sofreu aumentos nos custos de cerca de 50% nos últimos 15 anos, segundo especialistas.

No entanto, os opositores disseram que a proposta resultaria em um sistema dualista, em detrimento da população menos abastada e dos médicos especialistas. Um argumento fundamental apresentado foi que os pacientes perderiam o acesso a um médico da sua escolha.

Também foi apontado que o impacto dos sistemas de cuidados gerenciados em outros países têm sido altamente controverso.

Política externa

A segunda questão levada a voto – uma iniciativa de um grupo de pressão conservador, o “Ação para uma Suíça Independente e Neutra”, queria dar aos eleitores a palavra final sobre os tratados de política externa.

O grupo, próximo ao partido nacionalista SVP, queria que todo tratado fosse submetido a votação obrigatória em todo o país. Observadores disseram que se tratava de mais uma tentativa dos adversários ao estreitamento dos laços da Suíça com a União Europeia que limitaria os poderes do governo e do parlamento.

Enquanto os apoiadores da iniciativa realçavam a democracia direta como um elemento crucial, os opositores – que incluiu a maioria dos partidos políticos, o governo e a comunidade empresarial – disseram que a campanha isolacionista estabeleceria um sistema pesado que retardaria as negociações e prejudicaria a economia da Suíça e sua reputação como parceiro internacional confiável.

Atualmente, apenas acordos importantes, incluindo a adesão a organizações internacionais, são decididos nas urnas. Em outros casos, a votação pode ser exigida para contestar uma decisão parlamentar a um referendo, que precisa a coleta de pelo menos 50.000 assinaturas dentro de 100 dias.

A comunidade empresarial gastou cerca de 5 milhões de francos em sua campanha para derrotar a iniciativa.

Casa própria

Na terceira questão, a associação dos proprietários de imóveis tentou convencer os eleitores a apoiar sua demanda por incentivos fiscais de até 10 mil francos por ano, durante dez anos. O objetivo era oferecer incentivos financeiros para a aquisição da casa própria.

Os defensores da proposta, incluindo o Partido Radical, o SVP e a comunidade empresarial, fizeram uma campanha dizendo que a aquisição da casa própria era um direito legítimo de todos.

Os opositores, – os outros principais partidos, o governo e os cantões – argumentaram que apenas os ricos poderiam se beneficiar da iniciativa e as autoridades fiscais perderiam uma quantidade substancial da receita.

A Suíça tem tido tradicionalmente uma taxa relativamente baixa da casa própria em comparação com outros países europeus.

Uma iniciativa semelhante foi rejeitada por 56% do eleitorado em março.

Managed Care: 76% não, 24% sim, oposição de todos os cantões

  
Tratados internacionais: 75,2% não, 24,8% sim, oposição de todos os cantões  

Poupança para casa própria: 68,9% não, 31,1% sim, oposição de todos os cantões

 
Índice de participação: 38,5%

Cerca de 5,1 milhões de cidadãos, incluindo 92.000 expatriados suíços registrados, puderam participar nos três votos federais de 17 de junho.

Outras questões de nível local também foram programadas em muitos cantões no mesmo dia.

É o segundo de uma série de até quatro escrutínios nacionais programados para este ano.

Como parte de estudos em curso sobre o voto pela internet, cerca de 165.000 cidadãos, incluindo os suíços do estrangeiro, puderam depositar seu voto online.

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