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Bancos estrangeiros também sofrem pressão

O HSBC, o maior banco estrangeiro ativo na Suíça, é bastante discreto. Keystone

Os bancos estrangeiros que operam na Suíça não costumam aparecer nas manchetes dos jornais, mas são vítimas discretas dos ataques contra o centro financeiro suíço, pois também perdem em atratividade. O número dessas instituições no país está diminuindo.

Quando se quer tomar o pulso do centro financeiro suíço, é importante não esquecer dos bancos estrangeiros, que costumam ficar de fora da cobertura da mídia. Exceto quando se trata de roubo de dados comprados por governos estrangeiros.

É o que aconteceu com o banco HSBC em Genebra, em 200,7 e mais recentemente na filial de Zurique do banco Coutts. Neste último, informações relativas às contas de cerca de 1.000 cidadãos alemães foram vendidas por 3,5 milhões de francos ao estado alemão de Renânia do Norte-Vestfália.

A Associação dos Bancos Estrangeiros da Suíça é formal: seus membros devem ser considerados como bancos suíços. A maioria em mãos de acionistas estrangeiros, esses bancos não são considerados filiais nem sucursais de bancos estrangeiros na Suíça, pela lei do país.

860 bilhões de francos suíços

Segundo os especialistas do ramo, mais de 140 instituições desse tipo escolheram a Suíça por causa de sua discrição, da qualidade da mão de obra disponível e das facilidades legais oferecidas pelo país.

Às vezes negligenciados, estes bancos pesam significativamente no centro financeiro suíço: juntos eles formam 11,5% do total de ativos de bancos que operam na Suíça. Eles gerenciavam, antes da crise de 2008, cerca de 950 bilhões de francos. Hoje, esses fundos têm diminuído, mas ainda chegam a 860 bilhões de francos.

Por que então tendem a subestimar a sua importância? Marion Pester, do DZ Privatbank (Schweiz) AG, acredita que isto é, em parte, devido à “grande heterogeneidade desses bancos”. Seus interesses e modelos de negócios variam muito, especialmente em função do país de origem deles.

Falta de atratividade

Uma maior participação desses bancos na praça financeira traria benefícios para a Suíça. “Nas negociações com outros países, a Suíça poderia aproveitar os conselhos e a experiências desses bancos em seus países de origem”, diz Marion Pester.

Segundo a Associação dos Bancos Estrangeiros da Suíça, nenhum pedido de nova licença foi feito no ano passado. Entre 2011 e 2012, o número de bancos que operam na Suíça diminuiu de 154 para 145. Os bancos estrangeiros que decidem deixar a Suíça geralmente entregam sua licença.

Poucas são retomadas, um sinal que tende a demonstrar a falta de atratividade do país, no momento. Com o enfraquecimento do sigilo bancário e o fim da distinção entre fraude e evasão fiscal, a Suíça perdeu muito do seu encanto, diz a maioria dos especialistas do setor.

Uma hipótese relativizada por Stephan Fuchs, especialista da Ernst & Young e colaborador do “barômetro bancário E & Y”. Nas últimas décadas, a questão do sigilo bancário ocupou principalmente os bancos suíços, deixando de fora os bancos estrangeiros. Estes seriam mais procurados, tradicionalmente, por empresas atrás de financiamento do que por ricos clientes particulares.

Serviço especializado

Até agora, um fraudador do fisco alemão preferia ir diretamente ao balcão de um banco suíço e não ao de um banco alemão com sede na Suíça, no qual ele não tinha confiança. “Um empresário alemão que tem clientes em diversos países dá preferência a uma subsidiária suíça do seu banco principal”, diz Stephan Fuchs.

No entanto, se os bancos estrangeiros preferem continuar na Suíça, é também por causa do excelente serviço que encontram em termos de software (software bancário) e back office (funções administrativas relacionadas com a produção), diz um ex-banqueiro, que pediu anonimato. Apesar de serem concorrentes no mercado, os bancos estrangeiros às vezes colaboram nas áreas de informática e back office, serviços geralmente terceirizados.

Stephan Fuchs confirma esta tendência: “A Suíça tem uma longa tradição em matéria de bancos. O pessoal de back office tem uma vasta experiência, pois os bancos oferecem uma ampla gama de serviços na Suíça. A formação na área também contribui para a excelência do serviço”.

Redução de custos

Quando agrupadas, essas atividades proporcionam vantagens claras em termos de custo. A terceirização também será necessária no futuro para os bancos suíços, estima Stephan Fuchs. Com sua ética de trabalho, confiabilidade e precisão dos seus serviços, é possível que a Suíça se torne um local estratégico para os bancos que desejam terceirizar, no futuro, seus serviços de informática e back office.

Ainda assim, o mercado de gestão de fortunas pessoais na Suíça estaria totalmente saturado, segundo Stephan Fuchs. “Eu acho que outros bancos vão desaparecer nos próximos anos. No entanto, não está claro se serão os bancos estrangeiros ou os bancos suíços que serão afetados”.

A concorrência cada vez maior na praça financeira suíça manifesta-se também no Brasil.

Enquanto a Suíça espera em vão que instituições financeiros dos países BRIC venham se instalar na Suíça, o Credit Suisse tem intenção de criar 800 empregos em São Paulo, segundo o jornal Neue Zürcher Zeitung de 13 de julho de 2012.

Vários bancos de investimento que não são mais apreciados na Europa decidiram concentrar suas atividades na capital paulista. Pessoal de Wall Street também foi enviado para São Paulo.

Várias dezenas de bancos estrangeiros aguardam licença ou procuram comprar um banco brasileiro para entra no mercado. Entre eles estão o Banco Industrial e Comercial da China, que já alugou escritórios em São Paulo antes mesmo de obter a licença bancária.

Se os bancos tanto querem ter negócios no Brasil é devido à rentabilidade excepcional que o país propicia: a taxa “spread”, ou seja, a diferença da taxa entre ativo e passivo (depósitos e créditos) chega a 35% no Brasil, enquanto está em 2,7% na Alemanha.

Os bancos estrangeiros trabalharam muito tempo na Suíça sem serem incomodados pelos governos de seus países de origem. O sigilo bancário e a evasão fiscal eram ignorados. Hoje isso mudou.

Muitas medidas foram tomadas contra a praça financeira suíça pelos países em que seus bancos têm sucursais na Suíça. A pressão sobre os bancos estrangeiros aumentou.

Alguns exemplos de medidas tomadas para lutar contra a evasão fiscal:

  

França: Taxação dos exilados fiscais (filiais na Suíça:

Crédit Agricole, Société Générale, BNP, etc.)

Alemanha: utilização de dados roubados (Deutsche Bank, DZ Privatbank, Dresdner – comprada par LGT, etc.)

Espanha: Anistia fiscal até novembro de 2012, depois haverá pesadas sanções (Santander, BBVA, etc.)

Itália: Controles reforçados nas fronteiras, interdição de transações em líquido a partir de 1.000 euros, mantém a Suíça em uma lista negra (Banca della Svizzera Italiana, PKB, Banca Popolare di Sondrio, etc.)

Adaptação: Fernando Hirschy

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