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“Estamos prontos para receber os suíços”

Arena Amazonas, onde a Suíça joga dia 15 de junho contra Honduras. Keystone

Arthur Virgílio Neto, prefeito de Manaus, cidade que irá sediar o jogo da Suíça contra Honduras, fala sobre a polêmica construção da Arena da Amazônia, a crítica do técnico Ottmar Hitzfeld por ter que jogar em Manaus e apresenta sua visão para a cidade após a Copa.

A Copa do Mundo 2014 está quase começando e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, garante, em entrevista para swissinfo, que a cidade está pronta para receber os torcedores. Em rápida visita à Suíça, ele fez questão de lembrar que a capital do estado do Amazonas, ao contrário das críticas e reprovações recebidas por alguns nos últimos meses, tem todas as condições para sediar os jogos da Copa.

A seleção suíça tem data e hora marcada para entrar na Arena da Amazônia, estádio construído em Manaus especialmente para a Copa. No dia 25 de junho, a seleção suíça enfrentará Honduras.

swissinfo.ch: Qual o objetivo de sua visita à Suíça?

Arthur Virgílio Neto: Estamos visitando os países cujos times irão jogar em Manaus. Já estivemos na Inglaterra, Portugal, na Itália e agora na Suíça. Vamos aos Estados Unidos. E por uma questão de praticidade visitamos as embaixadas de Camarões, Croácia e Honduras. Tem sido bom conversar com a mídia nesses países, tirar dúvidas das equipes que vão competir, dar garantia que temos condições de oferecer uma boa infraestrutura para os times. Para nós é muito importante provar que Manaus é capaz de receber um grande evento. Isso significa uma possível e desejável inserção de Manaus nas cidades que podem praticar o turismo de eventos.

swissinfo.ch: Dia 25 de junho, Manaus irá sediar o jogo entre Suíça e Honduras e deve receber cerca de 5 mil turistas suíços ao longo do mês. O que a cidade fez para atender esse público?

A.V.N.: Eu assumi o governo quando faltavam 17 meses para a Copa. Claro que pensamos na Copa, mas muito mais nos habitantes de Manaus, que merecem melhor qualidade de vida e maior infraestrutura. Há mais de 12 anos que não se investia no sistema viário da cidade. A infraestrutura está melhorando. Agora temos feito várias mudanças neste sentido. A cidade está bonita, agradável. Tem uma natureza estonteante, que fala por si só.

swissinfo.ch: Para a prefeitura de Manaus, quais tem sido os maiores desafios neste período de preparação para a Copa do Mundo?

A.V.N.: Manaus nunca sediou um evento deste porte. O primeiro desafio é provar que somos capazes de fazê-lo e com êxito. Se conseguirmos passar por essa etapa, estamos convencidos que outros eventos virão. Digo sempre que a Copa de 1994 nos Estados Unidos não alterou a economia americana em absolutamente nada. Pensamos então que fosse alterar a economia do México. Também não houve grandes mudanças. Para nós, muda muito.

swissisnfo.ch: A Arena da Amazônia foi inaugurada no início de março, com atraso de dois meses e problemas com falta de ar condicionado e vazamento nos banheiros. Como os problemas estão sendo resolvidos?

A.V.N.: Quando você faz uma obra grande, raramente não é necessário fazer retoques. Mas eu não tenho nenhuma responsabilidade sobre a Arena. Eu era contra ela ser construída. Eu preferiria a ampliação do estádio Vivaldo Lima, que já havia ali. Sou sempre a favor da solução que poupe reservas para que possamos investir no essencial, que é infraestrutura, saneamento, educação. Mas já que foi feito, minha sugestão ao governador é que o estádio seja passado para a iniciativa privada para que possa recuperar o máximo de recursos gastos ali para os cofres públicos. E a iniciativa privada poderá promover shows, eventos esportivos ali.

swissinfo.ch: Existe alguma proposta concreta da iniciativa privada para a Arena da Amazônia?

A.V.N.: Estamos focando na solução dos problemas mais urgentes. Cada dia, uma agonia. E neste caso, a agonia do dia é fazer a Copa bem feita. A Arena da Amazônia está completa. Alguns ajustes foram feitos. O Maracanã, por exemplo, foi inaugurado incompleto. E alguns estádios ainda ficaram prontos depois. Se levarmos em conta a média, está tudo bem.

swissinfo.ch: Como o senhor reage às críticas que afirmam que o Arena da Amazônia será um elefante branco?

A.V.N.: Eu não ligo muito. Quando joga um clube de grande porte em Manaus, o estádio lota. Ou seja, a figura do elefante branco não existe porque os campeonatos brasileiros e torneios internacionais acontecerão ali. Eu apenas acredito que seria melhor se estivesse nas mãos da iniciativa privada porque se caso queimar uma lâmpada, por exemplo, basta ir comprar. Não é necessário fazer o pedido, encaminhá-lo, aguardar aprovação, como é o caso da gestão pública. Eu prefiro que empreendimentos privados sejam a tônica da economia brasileira. Isso dá mais dinamismo. Mas ainda que fique nas mãos do estado, o estádio não é será um elefante branco na medida em que toda semana já temos sediado jogos com times importantes.  A Arena é cara para os clubes locais porque são frágeis.

Keystone

swissinfo.ch: Ottmar Hitzfeld, técnico da seleção suíça, afirmou que a escolha de Manaus como local de jogo é ‘quase irresponsável’, já que os jogadores terão que enfrentar as altas temperaturas e alta humanidade local, sem falar nos aspectos logísticos. Como o senhor reage a tal afirmação?

A.V.N.: Com tranquilidade. Eu quando jovem, fui competidor. Competia e pronto. Nunca perguntava quem era meu adversário, onde seria o jogo. As regras são aquelas acertadas. O competidor de verdade, compete. Ele vai para ganhar. O Brasil, por exemplo, preferiria não ter jogado a Copa de 1954 na Suécia. Era bem melhor se fosse num país vizinho. Mas foi lá e ganhou. O Brasil também já perdeu uma Copa para o Uruguai no Maracanã em 1950 com um grande time. O Brasil já ganhou no frio, já perdeu no calor. Amanhã, a FIFA resolve fazer um torneio no Polo Norte. O Brasil tem a escolha de jogar ou não jogar. Eu sou a favor de que jogue, que vá 3 meses antes e se prepare. A seleção da Inglaterra, por exemplo, está indo para Miami, que reproduz aproximadamente as condições de Manaus, para se preparar. A seleção da Suíça vai para Porto Seguro, que também reproduz as condições de Manaus.

Manaus foi escolhida por várias razões. Uma delas é que o senhor Joseph Blatter tem uma sensibilidade grande e disse que seria impensável uma Copa no Brasil sem a Amazônia.

A preocupação do técnico suíço é muito justa na medida em que se eu fosse técnico também estaria preocupado com o clima, mas procuraria me adaptar e jogar. A Suíça tem um bom futebol. Não é à toa que ela é cabeça de chave. Mas agora está na hora de jogar mais e falar menos.

swissinfo.ch: Uma lista de projetos que fariam parte ‘do legado da Copa’ entrou nas agendas de discussão dos gestores públicos e passou a pautar reportagens e debates: obras de mobilidade urbana, incremento da rede hoteleira, revitalização de áreas degradadas, melhorias no transporte público. Até mesmo um projeto de geração de energia solar, que seria instalado no entorno da Arena da Amazônia, foi previsto no pacote. O que foi realmente implementado?

A.V.N.: No Brasil, temos um pacto federativo muito torto. A maior parte dos recursos está nas mãos do governo federal, o que não deixa de ser uma fonte de pressão política. Menos recursos, mas ainda substanciais, estão nas mãos dos estados, e recursos menores ainda, nas mãos do município. Restaurei o prédio do Mercado Municipal, uma joia do período áureo da borracha, em 7 meses e 23 dias. O Fan Fest foi feito em 8 meses e 21 dias. Para mobilidade urbana, não tive acesso aos recursos federais, nem teria tempo de fazer algo que envolvesse tecnologia mais avançada. Fizemos adaptações. Esse projeto de energia solar é uma ‘viagem’.

swissinfo.ch: Próximo à Arena da Amazônia tem um região bem carente…

A.V.N.: Em Manaus, você vai sempre encontrar abundancia junto da pobreza.  De um lado um prédio de pessoas afluentes e do outro lado a pobreza. Se algum visitante me procura, mostro o que tem, o bom e o ruim, com muita clareza. Tudo que eu faço de esforço pela Copa não é só pelo orgulho de sediar o evento, mas para apresentar uma Manaus organizada para bilhões de pessoas pelo mundo e para cerca de 80 a 100 mil pessoas que passarão por lá e poderão fazer uma boa propaganda da cidade. 

swissinfo.ch: Qual o legado que a Copa vai deixar para Manaus?

A.V.N.: O grande legado é podermos inserir Manaus no campo das cidades que podem sediar grandes eventos. Dar um pontapé no turismo. Conseguimos agora uma linha da companhia aérea Tap que voa direto para Manaus, que vai facilitar a entrada e saída de europeus na cidade.

swissinfo.ch: E depois da Copa, do ponto de vista do polo econômico, quais são seus planos para Manaus?

A.V.N.: Temos o polo incentivado, que sustenta nossa economia. Mas queremos complementá-lo com o turismo, com a industrialização do pescado. Temos uma commodity, que está cada vez mais valorizada, que é a água potável. E também atrair mais empresas, inclusive as suíças. Por exemplo, companhias do setor fármaco-químico para pesquisa e desenvolvimento. Também já tivemos um polo relojoeiro pujante, que tinha como base capital suíço. Gostaríamos de ver esse polo ser revivido. Queremos convencer os investidores a retomar esse experiência.  Por isso, vamos fazer um workshop na Suíça no final deste ano para poder apresentar as oportunidades às empresas, fazer as contas, mostrar as vantagens.

Foi construída no mesmo local ocupado pelo Estádio Vivaldo Lima.

Arquiteto: Ralf Amann (Escritório alemão GMP)

Capacidade: 42 mil

Investimento: R$ 499,5 milhões (previsão); R$ 669,5 milhões (real)

61 camarotes

98 banheiros

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