Prisão do ex-assessor de Bolsonaro acrescenta ingrediente à crise no país
A prisão nesta quinta-feira (18) do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, potencializou a crise em torno do presidente Jair Bolsonaro, que acumula derrotas judiciais em uma situação de instabilidade política agravada pela crise econômica e a pandemia do novo coronavírus.
Queiroz, de 54 anos, foi preso em Atibaia, no interior de São Paulo, em um imóvel pertencente ao advogado de Flávio Bolsonaro, segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP). Segundo a imprensa nacional, o advogado também atua em processos do presidente Bolsonaro.
Queiroz é investigado por suposta participação “em um esquema de desvio de vencimentos de servidores do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro”, ressaltou o MPSP, acrescentando que foi transferido para o Rio de Janeiro.
Segundo responsáveis pela investigação citados pela mídia local, quando a polícia chegou à propriedade, Queiroz estava dormindo e não mostrou resistência para ser preso. Os agentes apreenderam documentos e celulares.
O caso surgiu no final de 2018, quando o Controle de Atividades Financeiras (COAF), do Ministério da Fazenda, descobriu atividade atípica na conta de Queiroz entre 2016 e 2017, de um valor de R$ 1,2 milhões.
Flávio Bolsonaro afirmou no Twitter que encara “com tranquilidade” a investigação sobre o ex-assessor, ex-oficial da Polícia Militar, julgando tratar-se de um novo capítulo para “atacar (Jair) Bolsonaro”.
“Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”, escreveu o filho do presidente.
Em dezembro do último ano, a polícia realizou operações em vários imóveis em nome de Flávio Bolsonaro, dos seus assessores da Assembleia Legislativa no Rio e da segunda ex-mulher do presidente, em uma investigação apelidada de “rachadinha” no país.
Já nesse momento, o senador e primogênito de Bolsonaro, de 39 anos, denunciou uma “perseguição política” com o objetivo de “atingir o presidente”.
Queiroz, que em algumas linhas de investigação, segundo a mídia local, foi vinculado às milícias do Rio, estava fora de localização há meses. Tanto o presidente como seus filhos, assim como o próprio advogado cuja propriedade o abrigava, disseram não saber do seu paradeiro.
– Um novo ingrediente para a crise –
A prisão de Queiroz “não deixa de ser simbólica e joga um ingrediente adicional de instabilidade ao cenário, que está conturbado por uma instabilidade política, por uma crise econômica que se inicia, pela crise sanitária provocada pela pandemia e, claro, por outras denúncias e eventos envolvendo o presidente”, explica à AFP Thiago Vidal, gerente do Núcleo de Análise Política da Prospectiva Macropolítica, em Brasília, da consultoria Prospectiva.
A operação policial ocorre no momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) está avançando em investigações que envolvem empresários, políticos e blogueiros bolsonaristas, acusados de divulgar notícias falsas para promover ataques ao STF e orquestrar manifestações contra instituições democráticas.
Nesta semana, a polícia prendeu vários apoiadores de Bolsonaro, por pedirem pela “intervenção militar” e atacar o prédio do STF.
O general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria do Governo, descreveu como “ultrajantes” as suspeitas sobre qualquer possível golpe por parte do Exército, mas alertou que “ao outro lado” não há a necessidade de “esticar a corda”.
O Congresso tem em suas mãos mais de trinta pedidos de impeachment contra Bolsonaro, embora nenhum tenha sido formalmente aceito até o momento pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
No cenário atual, o presidente também está em conflito com os governadores dos maiores estados do país, a quem critica pela imposição das medidas de quarentena para enfrentar a pandemia de coronavírus, que vê como terríveis para a economia.
Atualmente, o Brasil se tornou o segundo país com mais casos e mais mortes pela COVID-19 no mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Nesta quinta-feira, os registros oficiais indicaram mais de 955.000 casos confirmados e 46.510 mortes.