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Empresa suíça administrará aeroporto no Brasil

O consórcio que engloba a Flughafen Zürich AG também participou do leilão do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, que terminou arrematado por lance 293,9% superior ao lance inicial. Getty Images

Um dos maiores aeroportos do Brasil, localizado no estado de Minas Gerais, será administrado a partir do ano que vem pela empresa suíça Flughafen Zürich AG, que já administra o Aeroporto de Zurique.

Considerado um dos mais eficientes do mundo e vencedor, pelo décimo ano consecutivo, do prêmio World Travel como melhor aeroporto da Europa. Os suíços, com 24% de participação no capital, integram o consórcio que venceu na sexta-feira (22) o leilão de concessão do Aeroporto Tancredo Neves, situado em Confins, nos arredores de Belo Horizonte, à iniciativa privada. No mesmo dia, em leilão vencido por outro consórcio, também foi privatizada a gestão do aeroporto Antônio Carlos Jobim, no Galeão (Rio de Janeiro).

Integrado também pela empresa brasileira Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), com participação de 75%, e pela alemã Flughafen München GmbH (1%), o Consórcio Aero Brasil apresentou um lance vencedor de R$ 1,82 bilhão, valor com ágio de 66% sobre o lance inicial, estipulado pelo governo brasileiro em R$ 1,09 bilhão.

O consórcio ficará agora responsável pela administração do aeroporto mineiro pelos próximos 30 anos. A participação total do grupo na administração de Confins, no entanto, se limitará a 51%, já que os outros 49%, por determinação do governo, caberão obrigatoriamente à Infraero, empresa estatal responsável pela gestão dos aeroportos brasileiros.

Lance estratosférico

De acordo com as regras do leilão, impostas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), um mesmo consórcio não poderia arrematar os dois aeroportos, mas a oferta de lances nos dois leilões era permitida. Assim sendo, o Consórcio Aero Brasil também participou do leilão do aeroporto carioca do Galeão que, no entanto, terminou arrematado por impressionantes R$ 19 bilhões (ágio de 293,9%) pelo Consórcio Aeroportos do Futuro, formado pela brasileira Odebrecht, com 60% de participação, e pela cingapuriana Changi (40%), que já administra o aeroporto de Cingapura, também apontado como um dos melhores do mundo.

O cronograma estabelecido pela Anac prevê que as assinaturas dos contratos de concessão entre o governo e os consórcios vencedores dos leilões de Galeão e Confins acontecerá em 17 de março do ano que vem. Nos 120 dias subsequentes, os aeroportos continuarão sendo administrados exclusivamente pela Infraero, e então será iniciado um período de administração conjunta entre a empresa estatal e os consórcios com duração prevista de três meses, prorrogáveis por mais três. Somente ao final desse período os vencedores do leilão assumirão integralmente a gestão dos aeroportos.

Segundo a Anac, os consórcios deverão efetuar o pagamento da primeira parte da outorga pela concessão da gestão dos aeroportos somente doze meses após a assinatura dos contratos. O pagamento total da outorga ao governo brasileiro será feito em prestações, quitadas ao longo do período de concessão. O investimento total estimado para a manutenção de Confins durante o período da concessão à iniciativa privada é de R$ 3,5 bilhões.

Apesar de sua importância para a malha aérea nacional, Confins é atualmente um aeroporto com dimensões e ofertas de serviços que o situam aquém do padrão desejado pelo governo, sobretudo com a aproximação de grandes eventos internacionais como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Para atender à demanda olímpica, o consórcio vencedor se torna por contrato o responsável pela construção até 2015 de um novo terminal para embarque e desembarque em Confins, com capacidade para a circulação de 1,7 mil passageiros/hora.

Gestão internacional

Confins, em Minas Gerais, será o décimo aeroporto na América Latina a ter sua gestão parcialmente executada pela empresa suíça Flughafen Zürich AG, que hoje está presente nos aeroportos de Bogotá (Colômbia) e Curaçao, além de outros três aeroportos chilenos e quatro hondurenhos.

Segundo informe divulgado pela empresa, que também administra o aeroporto de Bangalore, na Índia, “a estratégia da Flughafen Zürich AG concentra-se em contratos de gestão e na colaboração com fortes parceiros locais em mercados emergentes como a América do Sul e Central, Europa Oriental, Ásia Central e Sul da Ásia”.

Para participar da disputa por Confins, era exigido que cada integrante dos consórcios concorrentes no leilão comprovasse experiência de gestão em ao menos um aeroporto com fluxo mínimo de doze milhões de passageiros ao ano. Isso permitiu a participação da Flughafen Zürich AG, já que o Aeroporto de Zurique tem um movimento anual de 22,8 milhões de passageiros.

Em 2013, até o fim de outubro, haviam passado por Confins, segundo a Infraero, 8,2 milhões de passageiros. A previsão do governo brasileiro é que, ao final da concessão, essa movimentação no aeroporto mineiro atinja o patamar de 43 milhões de passageiros ao ano, com uma expectativa de receita total de R$ 5,1 bilhões ao longo dos 30 anos.

Incrementar a arrecadação

Procurados pela reportagem, os representantes da Flughafen Zürich AG que vieram ao Brasil para o leilão dos aeroportos preferiram não se manifestar publicamente. Em nota divulgada em Zurique, a empresa suíça afirma que Confins “está se posicionando para se tornar um grande hub doméstico” e fala dos futuros desafios de gestão: “Além do comprometimento patrimonial de 65 milhões de francos suíços, que estão espalhados principalmente nos primeiros doze anos de concessão, a Flughafen Zürich AG irá prestar serviços de gestão e nomear o pessoal-chave, baseada em uma operação abrangente e contrato de serviços administrativos”.

Nos bastidores do leilão, realizado na sede da Bolsa de Valores de São Paulo, os comentários davam conta de que a expectativa interna no Consórcio Aero Brasil, assim como no mercado brasileiro como um todo, é que a Flughafen Zürich AG possa também incrementar a arrecadação de Confins com a realização de atividades extra-aviação no aeroporto. Os suíços têm credencias para isso, uma vez que 36% das receitas totais do aeroporto de Zurique no ano passado – cerca de CHF 350 milhões ou R$ 900 milhões – foram provenientes desse tipo de atividade.

Sócio majoritário da empresa suíça, o Grupo CCR é formado pelas mega-construtoras Camargo Correa e Andrade Gutierrez, entre outras. O conglomerado já administra algumas importantes rodovias brasileiras e participa atualmente da gestão de aeroportos em países como Equador e Costa Rica. Mas, é a primeira vez que administrará um aeroporto no Brasil.

“É com grande orgulho e satisfação que oficializamos esta importante conquista, que marca o início das operações aeroportuárias da CCR no Brasil. O aeroporto de Confins é de suma importância para o tráfego aéreo doméstico e internacional, seja pela Copa do Mundo, por outros grandes eventos que o país vai receber, ou mesmo para atender da melhor forma a crescente demanda interna que tem se consolidado nos últimos anos, com mais praticidade e conforto aos nossos usuários”, diz Renato Vale, presidente do Grupo CCR, em nome do Consórcio Aero Brasil.

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