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Projeto de fusão nuclear recebe apoio da ONU

No seu interior, o reator deve suportar mais de 100 milhões de graus célsius.

A Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) da ONU assinou um acordo para a construção em Genebra do primeiro reator de fusão nuclear do mundo, o ITER.

Quando pronto, o projeto deverá ser o primeiro protótipo experimental a demonstrar a viabilidade científica e técnica da fusão nuclear para a geração de energia. A energia nuclear produzida até agora é criada pela fissão nuclear.

Há muito tempo cientistas acreditam na fusão nuclear como uma possível fonte inesgotável de energia. Porém até hoje sua utilização comercial não foi possível. Graças ao reator de pesquisas ITER, esse sonho pode estar um passo mais próximo da realidade.

Frente a problemas naturais como o aquecimento do planeta e o esgotamento gradual das fontes energéticas, a humanidade espera impacientemente pelo “ovo” de Colombo: uma fonte segura, econômica e ecológica de energia.

A fusão nuclear seria perfeita neste sentido. Isso, pois ele não produz gases ou lixo atômico de longa vida. Ao mesmo tempo ela necessita extremamente de poucos recursos, dos quais existem de forma abundante no planeta.

“Um caminhão de combustível por ano já bastaria para fornecer energia a uma cidade de mais de um milhão de habitantes”, afirma Ambrogio Fasoli, professor de física do plasma da Escola Politécnica de Lausanne (ETH).

O combustível necessário para uma fusão nuclear é um plasma retirado do deutério, um dos isótopos estáveis do hidrogênio, e do trítio, o terceiro isótopo do hidrogênio e o menos abundante. Fusão Nuclear é o processo no qual dois ou mais núcleos atômicos se juntam e formam outro núcleo de maior número atômico. A fusão nuclear requer muita energia para acontecer, e geralmente liberta muito mais energia que consome. A idéia foi retirada de observações solares.

O problema é que, até hoje, todas as fusões nucleares já realizadas com controle pela humanidade liberaram menos energia do que o utilizado para poder provocá-la. Razão: a fusão de núcleos atômicos só ocorre a mais de 100 milhões de graus centígrados, uma temperatura mais elevada do que as encontradas no sol.

Utilização comercial ainda distante

O reator de pesquisa ITER ainda em construção em Cadarache, pequena cidade localizada ao sul da França, deve trazer um avanço. “Estamos convencidos de estar a caminho de produzir com sucesso energia através da fusão”, reforça Carlos Alejaldre, diretor-geral para questões de segurança do ITER.

Concretamente, o reator espera poder fornecer com 500 MW dez vezes mais energia do que consome quando estiver pronto em 2018. A fusão deve poder ser mantida por quatrocentos segundos, como Alejaldre detalha.

Porém mesmo com essas medidas a utilização comercial da tecnologia ainda estaria muito distante. Do ponto de vista dos pesquisadores, o ITER é apenas um passo intermediário. Ele deve fornecer as condições para a construção da plataforma de testes DEMO, que possui todas as funções de uma central elétrica.

Cientistas suíços no projeto

Pesquisadores do país dos Alpes, sobretudo do Centro de Pesquisas de Física do Plasma (CRPP), ligado à ETH de Lausanne, também atuam na procura de soluções para os inúmeros problemas desse complexo projeto.

“No reator do ITER foram incluídos todos os conhecimentos mais atuais da pesquisa de fusão”, afirma Ambrogio Fasoli, professor da ETH. Ele e sua equipe são responsáveis, dentre outros, pela aplicação de know-how sobre a geometria ideal do anel de plasma.

O conhecimento da matéria veio do próprio reator de pesquisas TCV em Lausanne, o maior aparelho experimental da ETH. Outros pesquisadores também desenvolveram “canhões de micro-ondas” extremamente potentes, com os quais o plasma pode ser aquecido o mais que possível de forma homogênea.

Custos elevados

Os custos para o reator estão orçados em 16 bilhões de francos: oito bilhões para a sua construção em Cadarache e oito milhões para o seu funcionamento. No momento uma comissão de especialistas está analisando se os custos não poderão se elevar ainda mais.

Fasoli não considera exagerado o esforço realizado na sua área de pesquisa. Para ele, ele deve ser analisado em relação aos benefícios esperados e o que a humanidade gasta diariamente em outras áreas. “Os custos de Cadarache correspondem mais ou menos ao preço da quantidade de energia consumida hoje diariamente no mundo”, conclui.

Do projeto ITER participam a União Européia, Rússia, Japão, China, Coréia do sul, EUA e Índia. Também o governo helvético quer colaborar. Nesse sentido uma resolução acaba de ser aprovada no Senado. O voto da Câmara dos Deputados ainda está sendo esperado.

swissinfo e Thomas Zimmermann (sda)

Com o projeto ITER (do latim: “O Caminho”) trabalham os maiores programas de fusão do mundo – Europa, Japão, EUA, Rússia, China, Coréia do Sul e Índia – em conjunto na construção de um reator experimental.

O ITER, quando pronto, deverá ser o primeiro protótipo experimental a demonstrar a viabilidade científica e técnica da fusão nuclear para a geração de energia.

Um dos objetivos é produzir pela primeira fez um plasma que queime e possa fornecer energia por mais tempo.

Ao mesmo tempo devem ser testadas e desenvolvidas todas as funções técnicas de uma central elétrica à base de fusão. Destas funções fazem parte bobinas imantadas supercondutoras, a tecnologia do trítio, o transporte do calor/energia gerados assim como componentes substituíveis através de controle remoto.

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