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Projeto de uniforme escolar fracassa na Basiléia

O uniforme não é clássico o suficiente para ser um bom uniforme, acreditam os escolares na Basiléia. Keystone

Um projeto-piloto para introduzir uniformes escolares em uma escola primária da Basiléia fracassa e será interrompido depois de seis meses de aplicação. Motivo: os escolares não gostaram dos modelos.

Os jovens não querem voltar a utilizar as roupas normais, mas preferem avaliar o teste de conjuntos mais simples de uniformes, que será realizado com os escolares mais jovens no próximo ano letivo.

A experiência, que chamou muita a atenção em toda a Suíça, um país onde o uniforme escolar é uma raridade reservada aos internatos estrangeiros, tinha como principal objetivo melhorar o ambiente e o relacionamento interpessoal ao acabar com a corrida pela moda e o consumo excessivo.

Porém os uniformes testados não foram considerados clássicos o suficiente pelos próprios jovens.

Duas classes de escolares entre 14 e 14 anos na Escola Pública de Leonhard, Basiléia, participaram da experiência, utilizando um conjunto de uniforme formado por 14 diferentes peças.

A coleção havia sido escolhida por um júri, do qual também fizerem parte vários dos escolares. Uma designer local, Tanja Klein, desenhou o material, que incluía conjuntos de esporte, calças jeans estilo trabalhador, camisetas e até bonés.

As roupas terminaram sendo muito diferente daquilo que a maioria das pessoas – especialmente de outros países – vêem como sendo um típico uniforme escolar: calças escuras ou saias, camisas brancas, gravata e blazer.

“Os escolares não são contra a utilização do uniforme, porém os modelos concebidos por Tanja Klein foram vistos pela maioria como não sendo clássicos o suficiente”, declara Christian Griss, diretor da escola.

Muitos jovens afirmaram que o novo uniforme não acompanhava o seu estilo e que iriam preferir ter algo mais tradicional, assim como é comum nas escolas britânicas.

Identidade

Alexander Grob, do Instituto Psicológico da Universidade da Basiléia e também orientador no projeto-piloto de uniformes, não se mostra surpreendido pelo fracasso do primeiro teste.

“Eu acredito que os jovens gostam de mostrar que pertencem ao mesmo grupo. Se eles utilizam o mesmo pulôver ou as mesmas calças, por exemplo, eles serão identificáveis para os amigos e afirmam, dessa forma, que estão na mesma escola”.

Mas Griss também não está seguro de que os uniformes clássicos fariam mais sucesso. “Eu nunca vi nenhum desses rapazes ou moças andando de blazer”, contou o diretor ao jornal NZZ am Sonntag.

O projeto-piloto tinha como principal objetivo descobrir que tipo de roupa os escolares estão dispostos a utilizar. Porém o diretor também lembra que, se a questão do estilo já foi debatida, falta ainda discutir se a idéia de adotar uniformes na escola é boa ou ruim.

Na Suíça não existe a tradição de uniformes escolares. Vários parlamentos cantonais já se mostraram contra a idéia. Os mais críticos afirma que uniformes não correspondem à cultura local e que também impedem o desenvolvimento pessoal da juventude.

Pressão da moda

Um dos mais fortes argumentos de defesa do uniforme escolar é que a sua utilização permitiria aos jovens de se libertar da pressão da moda e das marcas.

Cada conjunto do uniforme utilizado no projeto-piloto custou 730 francos suíços (US$ 592), dos quais os pais pagaram apenas 100 francos. O resto terminou sendo patrocinado por várias empresas e instituições como a Associação de Fabricantes Têxteis da Suíça.

Os especialistas estimam que, sem subsídios, o uniforme custaria 30% menos do que comprar a mesma quantidade de roupas nas lojas comuns.

A administração da Escola Pública de
Leonhard quer continuar o projeto do uniforme. Porém dessa vez o teste será realizado com grupos de escolares mais jovens e utilizando um número mais reduzido de peças. Para Grob, essa estratégia promete melhores resultados.

“Quanto mais cedo você introduz o uniforme, melhor a sua aceitação entre as crianças”, conclui.

O júri irá agora trabalhar em modelos mais simples. A esperança dos participante do projeto é de que, em um ou dois anos, uniformes escolares serão tão comuns nas ruas da Suíça.

swissinfo, Scott Capper

Cada vez mais jovens caem nas tentações do consumo, se endividando para comprar produtos de status como roupas de marca, telefones portáteis e equipamentos eletrônicos.

Especialistas estimam que cada criança suíça e jovem dispõem de 600 milhões de francos de mesada por ano.

Em uma recente pesquisa realizada com 1000 jovens, 760 afirmaram estar dispostos a se endividar para manter o nível de consumo.

Nas escolas públicas da Suíça não existe a obrigatoriedade de utilização de uniformes escolares.
Apenas as escolas privadas e internatos, com um grande número de escolares estrangeiros, têm uniformes.
Uniformes escolares são comuns na Grã-Bretanha, Irlanda e Chipre.
Nos Estados Unidos os uniformes são apenas comuns nas escolas privadas, mas não nas públicas.
Fora da Europa, uniformes são a norma na Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Japão e em várias ex-colônias da Grã-Bretanha.

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