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Quadrinhos contam a história da imigração italiana na Suíça

Niña sentada en un banco, dormida, y con la cabeza apoyada en una mesa.
A história contada sob a perspectiva feminina: as duas personagens principais na história em quadrinhos são Celeste e Léane. Cecilia Bozzoli

A história da imigração italiana para a Suíça contada desde o período do pós-guerra até os dias de hoje: esse é o objetivos do autores de "Celeste, a menina escondida", uma história em quadrinhos produzida a quatro mãos.

Imigração é um tema amplamente tratado na literatura, cinema e fotografia da Suíça nos últimos anos. Agpra as histórias de coragem e aventura de pessoas que saem de seus países à procura de novas terras chegam aos quadrinhos por iniciativa da comunidade italiana de Berna, Neuchâtel e Friburgo, com o apoio do ministério italiano das Relações Exteriores. 

As tiras foram ilustradas pela artista Cecilia Bozzoli. Os textos vieram Pierdomenico Bortune. No início de novembro de 2021, a obra intitulada “Celeste, a menina escondida” foi publicada em Neuchâtel.

Luigi Maria Vignali, diretor do Depto. de Italianos no Exterior no ministério das Relações Exteriores, considera importante o lançamento do livro.  “Se arte é comunicação, o que poderia ser mais comunicativo do que a história em quadrinhos”, ressalta.

Quadrinhos musicais

“Celeste, menina escondida” é um encontro entre passado e presente, no qual as vidas de duas personagens femininas se entrelaçam.

No livor, celeste é a filha de uma trabalhadora sazonal que chega na Suíça nos anos 1960. Léane é uma jovem de origem italiana, nascida e criada na Suíça, perfeitamente integrada na sociedade e hoje cansada de viver na pandemia. Atraída pela execução da Tosca de Puccini, Léane conhece a já idosa Celeste, que mora ao lado.

As histórias contadas por Celeste no gibi são uma oportunidade de descobrir a história que poderia ter sido sua própria experiência familiar. Celeste era uma das muitas “crianças escondidas” no armário. De acordo com as leis vigentes na época na Suíça, os filhos de trabalhadores sazonais não tinham o direito de viver com os pais. “Fiquei sozinha o dia todo. Passei horas e horas à janela… sempre com muito cuidado para não ser descoberta”, lembra Celeste em um dos diálogos.

Desde a chegada dos imigrantes italianos na Suíça até o clima pesado dos anos 1960 e 1970, que culminou com a entrada em vigor da Lei “Schwarzebach” (que restringia a imigração ao país), Cecilia Bozzoli e Pierdomenico Bortune revisam um capítulo importante da história recente da Suíça.

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Familia con maletas en andén de trenes

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Um capítulo particularmente complexo, cheio de sacrifícios, assédios e lutas. Mas, ao mesmo tempo, um período que, para muitos imigrantes – também significava emancipação e integração.

Esse foi o caso da Celeste. E também Guido, outro personagem dos quadrinhos, que alcançou um bom nível profissional como professor de história, apesar de ter vindo de uma família marginalizada nos anos 1960. Seu desenvolvimento pessoal lhe permitiu mais tarde assegurar o futuro profissional dos filhos.

Esta é também, em parte, a história dos autores. O ilustrador, de origem genovesa, chegou à Suíça no início dos anos 1970 em meio à campanha que culminou no plebiscito da Lei Schwarzenbach.

Dos personas sostienen un libro
Cecilia Bozzoli desenhou os quadrinhos e Pierdomenico Bortune escreveu a história. tvsvizzera

Pierdomenico Bortune, por outro lado, já escutou mais relatos das pessoas que viveram a época. A personagem Celeste é, de certa forma, a “avó” de seu parceiro de vida real. A figura do pai de Celeste foi inspirado no seu próprio avô paterno.

Bortune lembra-se que ele era um dos imigrantes com visto temporário na Suíça nos anos 1950.”Tenho imagens um pouco desfocadas do meu avô, mas me lembro da sua solidão”, conta o autor. “Escrever me permitiu recuperar essa história da minha família, que não costumávamos discutir em casa*

Para Silvio Mignano, embaixador italiano na Suíça, que conheceu a realidade da imigração italiana em primeira mão quando serviu como cônsul-geral na Basiléia, o livro é também uma oportunidade de homenagear os homens e mulheres que se sacrificaram para que seus filhos tivessem uma vida melhor. “É uma forma de dar a palavra a todos os imigrantes de primeira geração que muitas vezes viveram trancados em casa, talvez pensando apenas em ficar na Suíça por alguns anos, e que por muito tempo silenciaram.”

Traduzido para o francês

“A história em quadrinhos, com uma tiragem de mil exemplares será primeiramente distribuído nas escolas italianas na Suíça, bem como nas escolas primárias onde o idioma é ensinado”, diz Mariachiara Vannetti, presidente das comunidades de migrantes italianos de Berna, Neuchâtel e Friburgo.

“Os jovens que freqüentam meus cursos não falam muito sobre estas coisas. A história em quadrinhos é uma maneira leve de estimular a memória”, revela Pierdomenico Bortune, professor de italiano em Neuchâtel.

Os autores planejam traduzir a obra para o francês e alemão. “A Suíça talvez precise mais desta publicação do que a Itália, pois nunca debateu o tema”, enfatiza o sociólogo Sandro Cattacin.

O objetivo de Luigi Maria Vignali, no entanto, é divulgá-la também na Itália. “A história da emigração é uma parte muito importante da história do nosso país. Através das remessas, por exemplo, os italianos que emigraram deram um importante impulso à modernização e contribuíram para difundir o espírito italiano no mundo inteiro. É um capítulo fundamental para a compreensão de nosso país.”

Adaptação: Alexander Thoele

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