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“Precisamos de membros para realizar nossos projetos”

Raphael Fessler
Perpetuando um trabalho de resgate da memória e de dons: Raphael Fessler (à direita) com o prefeito de Nova Friburgo, Renato Bravo. swissinfo.ch

Mais de 150 suíços tomaram o rumo das comemorações do bicentenário de Nova Friburgo. Uma viagem organizada por uma associação suíça que comemora também neste ano de 2018 os seus 40 anos de existência.

Entre a Suíça e o Brasil, swissinfo.ch conversou com o presidente da “Association Fribourg-Nova Friburgo”, Raphael Fessler, para entender como funciona e quais são os objetivos dessa associação que já dura tantas décadas.

swissinfo.ch: O que é a Associação Fribourg-Nova Friburgo (AFNF)?

Raphael Fessler: A AFNF é uma associação que reúne cerca de 300 pessoas, especialmente do cantão de Friburgo. Ela foi criada em 1978, portanto completa neste ano de 2018 os seus 40 anos. Ela seguiu o sucesso da publicação em 1973 da tese do historiador Martin Nicoulin, “A Gênese de Nova Friburgo”. Sentimos na época que tínhamos que criar um movimento para não nos perdermos de vista, como aconteceu de 1818 até a década de 1970.

swissinfo.ch: Por que ter uma associação?

R.F.: O objetivo principal é justamente manter os laços, já que esses laços foram interrompidos por muito tempo. Mas manter os laços significa promover ações na Suíça e no Brasil para conscientizar as pessoas dessa parte da nossa história na Suíça e a parte dessa história no Brasil. Assim, há muito trabalho a fazer, porque para os moradores do cantão de Friburgo, quando falamos de Nova Friburgo isso soa como algo um pouco abstrato e principalmente muito distante, por isso temos que realmente dar visibilidade a essa história. Esse é um dos papéis da associação, revelar, ensinar essa história às pessoas, e isso começa na escola, quando falamos sobre a história do cantão e do país.

Porque, no final das contas, não se trata apenas da história de um cantão. Esta história diz respeito a 11 cantões suíços, 10 na época, já que agora temos o cantão do Jura. 11 cantões suíços, é quase metade do país. Portanto, 2000 suíços que partem em direção ao Brasil é mesmo um acontecimento excepcional, especialmente quando eles não são do mesmo cantão, mas realmente de 11 cantões. Eu acho que a maioria dos suíços não tem conhecimento dessa história, e este ano, na ocasião do bicentenário da criação de Nova Friburgo, o papel da associação é ainda mais importante, porque ela deve comunicar muito sobre a existência desta cidade chamada Nova Friburgo, que está repleta de nomes suíços como os das pessoas na Suíça.

swissinfo.ch: Quais eram esses onze cantões?

O rei do Brasil na época, que queria povoar o seu grande país, fez um apelo aos suíços, mas ele deixou bem claro que ele queria que fossem católicos. É por isso que os 11 cantões são principalmente cantões católicos. Assim, temos Friburgo com 800 pessoas que saíram, na 2ª posição temos Jura, depois temos Valais, Vaud e na Suíça de língua alemã temos Argóvia, Solothurn, Lucerna, Schwyz, algumas pessoas de Neuchâtel e alguns genebrinos, mas muito poucos. Então, é uma história que não está relacionada unicamente ao cantão de Friburgo. É claro, quando falamos de Nova Friburgo nesses outros cantões, eles nos dizem que é nossa história e não a deles. Por isso, eu diria que é quase uma pena que a cidade tenha sido chamada de Nova Friburgo, eu teria preferido que se chamasse Nova Suíça. Teria sido mais abrangente para ilustrar melhor a realidade daquela época.

swissinfo.ch: O que a associação faz na Suíça e no Brasil?

R.F.: Ela tenta recrutar membros, porque a associação trabalha com membros que pagam uma cotização de 50 francos por ano. Por isso é preciso mais membros, quanto mais membros, mais podemos realizar. Agora, devo dizer que nos últimos dez anos nós colocamos muita ênfase em desenvolver projetos no Brasil, e acabamos negligenciando na Suíça a questão do recrutamento de jovens para a associação. 

Mas é claro que não podemos gastar a mesma energia no Brasil e na Suíça, e é verdade que nos últimos 10 anos colocamos muita energia, muito de nossos meios em Nova Friburgo em realizações como a Casa Suíça. Mas será necessário que os próximos que irão cuidar da associação reavaliem o recrutamento, pois os membros que tinham 40 anos em 1978 agora estão com 80, assim, perdemos alguns membros a cada ano por morte, e devemos ser capazes de recrutar e fidelizar membros mais jovens.

É claro que podemos sonhar em ter 5000 membros, e com 5000 membros podemos financiar grandes projetos. Atualmente, para todos os projetos que realizamos em Nova Friburgo, precisamos bater nas portas do estado, dos municípios e empresas, e é sempre muita energia para pouco resultado. Buscar dinheiro não é nada fácil e nem um pouco emocionante, mas fazemos isso, e ainda conseguimos bastante apoio, mas é claro que gostaríamos de uma associação forte, em número de membros e assim também forte em meios financeiros. Mas agora ainda não é o caso.

swissinfo.ch: Quem pode se tornar membro da AFNF?

R.F.: Qualquer um pode se tornar membro da Associação Fribourg-Nova Friburgo, mesmo quem mora em Genebra, Zurique, ou não tem um passaporte suíço. Todos podem se tornar membro da Associação Friburgo Nova Friburgo.

swissinfo.ch: No Brasil, há uma outra associação desse tipo, não?

R.F.: Há uma associação irmã que se chama Associação Nova Friburgo-Fribourg que funciona um pouco diferente. Talvez seja uma maneira de funcionar no Brasil, mas ainda não há nenhum membro contribuinte. Existe um comitê, que é bem dinâmico quando há um projeto, mas se não há projeto, o comitê fica adormecido, em “stand-by”. Já pedimos várias vezes ao comitê que fizesse um registro dos membros, eles devem ser em torno de vinte, e que contribuíssem para a associação. O objetivo é que eles se reforcem como a gente.

No Brasil, também, qualquer um pode se tornar membro da associação, mas notamos uma coisa: os descendentes de suíços preferem se reunir por famílias. Os Thürler fazem a festa deles, os Daflon a deles, e várias famílias constituem sua própria associação, como os Sanglard, por exemplo, do cantão do Jura. Quando a gente pede para essas famílias se reunirem numa grande associação, fica mais difícil. Eu acho isso uma pena.

swissinfo.ch: Qual é a participação da AFNF na festa do bicentenário de Nova Friburgo?

R.F.: Para 2018, a associação promove algumas ações no Brasil e no cantão de Friburgo. Na Suíça, procuramos participar de outras manifestações para chamar a atenção para os 200 anos de Nova Friburgo. Participamos em fevereiro, por exemplo, do “Carnaval des Bolzes”, em março, do festival de cinema de Fribourg, depois participaremos do festival de música de Fribourg Les Georges, no verão no Open Air Festival de Estavayer-le-Lac, Os Encontros Folclóricos de Fribourg, a descida dos Alpes das vacas na região de Gruyère, a festa de São Nicolau. São todos grandes eventos que atraem muita gente. Assim, em todos estes eventos terá alguma coisa com as cores brasileiras para lembrar os 200 anos. No Brasil, nos associamos com o Consulado da Suíça no Rio de Janeiro em outros eventos, como uma troca de DJs entre Fribourg e Nova Friburgo e outros artistas também, como escultores, fotógrafos.

swissinfo.ch: Como são as relações entre Nova Friburgo e a Suíça?

R.F.: Essa pergunta é um pouco delicada, porque gostaríamos de manter relações frequentes com o poder local, a prefeitura municipal de Nova Friburgo. O problema é que a cada 4 anos o prefeito muda e com ele todas as secretarias, então quando temos projetos conjuntos é muito difícil ter uma continuidade, o que significa que há muitos projetos que foram lançados e depois abandonados. Em seguida, há um acordo de cooperação oficial entre o cantão de Friburgo e a prefeitura municipal de Nova Friburgo, é um acordo de cooperação cultural que foi assinado em maio de 98. O problema é que ele só funciona em um sentido, o cantão de Friburgo faz bastante coisa e de volta os serviços da prefeitura não fazem nada. Nosso parceiro nesta troca não tem sido o poder executivo local, mas a Aliança Francesa, que trabalha regularmente há 15 anos em um intercâmbio de jovens.

É uma pena que as relações de governo a governo não sejam frequentes e fortes, e no entanto, organizamos vários encontros, os brasileiros acolhem extraordinariamente bem, cada vez que uma delegação oficial vem ela é muito bem recebida, os abraços são fortes e depois voltamos e nos esquecemos por um tempo. São muitos discursos bonitos, muitos sinais de afeição, mas pouca coisa concreta atrás disso tudo.

Veja abaixo a chegada da delegação suíça a Nova Friburgo:

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