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Reforma do FMI também é preocupação suíça

Os ministros Joseph Deiss (à direita) e Hans-Rudolf Merz estão em Washington no final de semana. Keystone

Nos debates do final de semana em Washington, a Suíça apoiará a idéia de uma melhor representatividade dos países emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na Assembléia Geral também será discutida a reforma do Banco Mundial (BM). O curioso é que não são mais os países credores que estão em crise mas o própio FMI.

A Suíça, que lidera um grupo de voto de oito países no FMI e no BM, está na diretoria executiva das duas instituições.

Para os ministros presentes em Washington, Hans-Rudolf Merz (Finanças) e Joseph Deiss (Economia), é a oportunidade de analisar os problemas econômicos atuais – especialmente o déficit dos Estados Unidos – com seus homólogos.

Na pauta das discussões está a nova estratégia do FMI, proposta por seu diretor-geral, Rodrigo Rato. A instituição quer reforçar sua vigilância sobre as taxas de câmbio – uma de suas missões básicas.

“É uma tarefa difícil devido a sensibilidade dos mercados financeiros, mas a Suíça apóia essa perspectiva. Aumentar a transparência e reforçar a vigilância é importante”, afirma Paul Inderbinen, chefe da seção FMI e finanças internacionais no Ministério das Finanças, em Berna.

“Em contrapartida, somos contra a publicação das taxas de câmbio que o FMI consideraria depreciadas”, acrescenta o suíço. A idéia foi lançada pelos Estados Unidos para pressionar a China e reduzir o déficit colossal americano (mais de 200 bilhões de dólares, em 2005) na balança comercial entre os dois países.

Um mandato para Rato

Na discussão da estratégia, os ministros abordarão também a resolução de crises. Os países emergentes querem obter apoio financeiro mais facilmente.

“Somos céticos, afirma Paulo Inderbinen. Frente aos mercados financeiros, sempre assinalamos a importância de limites claros para os créditos do FMI. Essa discussão vai levar tempo.”

Embora não esteja na agenda, será debatida a delicada questão da cota de participação dos países emergentes. China, Coréia do Sul, Cingapura e outros poderiam ter uma representatividade maior no FMI. Rodrigo Rato deverá receber um mandato da Assembléia Geral para apresentar um projeto de reforma.

“Sobre o princípio, a Suíça está aberta a uma ampliação seletiva, explica Paulo Inderbinen. O funcionamento da instituição é baseado na legitimidade e, portanto, na representatividade adequada dos países (mas mantendo a fórmula atual de cálculo).”

FMI em crise

Além da questão da legitimidade, o FMI está com dificuldades financeiras, parodoxalmente por excesso de dinheiro em caixa (162 bilhões de dólares), nos cálculos que o jornal suíço Le Temps publicou sexta-feira (21/4).

Com uma conjuntura mais favorável, grandes credores tradicionais como Brasil (15,5 bilhões de dólares) Argentina (9,9 bi) e Rússia (3,3 bi) pagaram suas dívidas. Outros como Ucrânia, Paquistão, Indonésia e Uruguai anunciaram que não solicitarão mais créditos.

Com o reembolso das dívidas, os juros que entram no caixa do FMI cairam de 90 bilhões de dólares (abril de 2004) para 31 bilhões (janeiro de 2006).

Acontece que os custos de funcionamento da instituição (1 bilhão de dólares) provém dos juros dos empréstimos. Só do Brasil, este ano, o FMI deixará de ganhar 60 milhões de dólares, em juros.

“O FMI está na situação do bombeiro que não tem mais incêndio para apagar”, afirmou ao Le Temps o professor do Instituto de Estudos Internacionais de Genebra, Charles Whyplosz.

Controvérsia no Banco Mundial

Quanto ao BM, os ministros tratarão de um conjunto de medidas acerca de energia e do clima. Deverão também dar o aval à iniciativa para redução da dívida de 19 países, lançada no ano passado.

Abordarão ainda o 3° relatório das medidas tomadas até aqui para atingir os Ojetivos do Milênio da ONU (redução da pobreza), discutido no contexto controvertido do estilo administrativo do novo presidente do Banco Mundial.

“O esforço atual de Paul Wolfowitz de lutar contra a corrupção é importante mas deve ter um conceito estratégico aplicado a todos os países e não apenas pontualmente”, afirma Pradeep Itty, da Direção de Desenvolvimento e Cooperação (DDC), órgão do governo suíço.

“O respeito dos direitos humanos e das convenções internacionais tem a mesma importância”, precisa Itty. Centenas de milhões de dólares de créditos foram anulados nos últimos meses pelo BM, sob pretexto de corrupção.

Esse estilo voluntarista do conservador Wolfowitz suscita crispações dentro e fora da instituição. Pradeep Itty diz “que é preciso regras claras, discutidas e aceitas pelo conselho de administração do BM”.

swissinfo

– A Suíça é membro do Banco Mundial (BM) e do Fundo Montetário Internacional (FMI), participação aprovada em votação popular.

– Está no diretório executivo das duas instituições e lidera um grupo apelidado de Helvetistão (Azerbaijão, Uzbequistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomênia, Polônia e Sérvia-Montenegro).

– O Banco Mundial dá empréstimos, presta assistência técnica e conselhos institucionais.

– O FMI incentiva a cooperação monetária, a estabilidade financeira e a prevenção de crises.

As reuniões de primavera do FMI e do BM ocorrem em Washington, dias 22 e 23 de abril.
A delegação suíça é chefiada pelo ministro das Finanças Hans-Rudolf Merz.
O ministro da Economia, Joseph Deiss, e o diretor do Banco Central Suíço (BNS), Jean-Pierre Roth, também participam dos debates.

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