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Sonho da volta ao Brasil pode se tornar pesadelo

Se adaptar de novo ao Brasil nem sempre é fácil e muita gente retorna à Suíça. Keystone

Se você mora fora do Brasil e pensa em voltar, preste atenção: o tão sonhado regresso pode se transformar em pesadelo. Denominado pelos psicólogos de “síndrome do retorno”, o fenômeno acomete muitos imigrantes e pode levar desde à sensação de falta de identidade até a depressão.

Comuns a quem volta à terra natal, os sintomas acontecem simplesmente porque o estresse de se readaptar à antiga cultura pode ser, pela surpresa, pior que a dificuldade em se adaptar  a um país estrangeiro. Desavisado, o viajante é tomado de sentimentos como solidão, arrependimento, decepção e de não pertencimento àquela sociedade outrora tão conhecida.

Como a cultura é dinâmica, não surpreende os psicólogos interculturais que o retorno mostre um cidadão e um país totalmente diferente daquele do passado. No entanto, quem toma o avião de volta geralmente ignora essa premissa.

Lembranças boas

A expectativa do retorno e da felicidade junto aos seus simplesmente esconde o fato de que depois de algum tempo, ninguém e nenhum lugar permanecem o mesmo. De acordo com Andrea Sebben, diretora da empresa de consultoria Equipe Andrea Sebben Psicologia Intercultural, a saudade colore o país natal e faz com que as lembranças boas fiquem ainda melhores.

“A readaptação do retorno costuma ser mais custosa do que a da ida. Os seus horizontes se alargaram, mas quem ficou, não teve essa oportunidade. Por isso, a pessoa se sente incompreendida e sozinha no problema” , explica Andrea Sebben, que oferece serviços de Educação, Psicologia e Treinamento Intercultural.

Liliana Tinoco Baeckert

Síndrome do Retorno

A nostalgia ao contrário – a tristeza por estar longe do país estrangeiro em detrimento da felicidade por ter voltado  – tomam lugar rápido na vida dos recém chegados. Segundo a psicóloga Sylvia Dantas, coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Orientação Intercultural da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) reitera : “A incapacidade de readaptação gera a sensação de isolamento social. A saudade colore, mas a volta ao local que um dia foi familiar e se tornou estranho é um grande custo emocional.”

Acredita-se que a Síndrome do Retorno, que os psicólogos preferem chamar de estresse de aculturação de retorno para não ter conotação de doença, possa ter sido agravada devido à crise dos países desenvolvidos nos últimos anos, fazendo um maior número brasileiros voltarem e alguns em situação financeira desfavorável. 

O Ministério das Relações Exteriores reconhece o problema, mas ainda não chegou ao cerne da questão. Com o intuito de reintegrar os brasileiros, o Itamaraty lançou o Guia de Retorno ao Brasil. Distribuído nas embaixadas e disponibilizado na página de internet do Ministério, o documento traz várias dicas sobre serviços e programas de acolhimento em áreas como educação, assistência financeira, serviços de assistência médica, além de outros. O Guia, no entanto, não menciona diretamente a questão do desencontro cultural.

Quem ficou não compreende

A psicologia intercultural e os estudo de questões referente ao tema é algo muito recente, com no máximo 30 anos. De acordo com Sylvia Dantas, é preciso que a sociedade tome conhecimento dessa problemática para que os efeitos sejam minimizados e haja menos casos de sofrimento extremo.

“É importante que o imigrante saiba que ele pode ter problemas para se readaptar ao Brasil. Há relatos de pessoas que dizem não entender como não conseguem se adaptar ao país que idealizaram por tantos anos. E os amigos e a família que ficaram não compreendem o problema”, explica.

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Como prevenir

A depressão pode ser tratada e os efeitos da aculturação reduzidos com o tempo, mas o importante é que as pessoas sejam preparadas para trilhar um caminho internacional. Segundo a Dra. Sylvia Dantas, cada indivíduo vai lidar com essas mudanças de forma diferente. A influência da aculturação vai depender tanto de fatores internos – como cada um lidará com a experiência – quanto externos, que seria o que vai encontrar quando voltar. Mas tomar ciência de que isso é um processo natural vivenciado por todos nessa situação ajuda muito. Para prevenir os efeitos, as duas profissionais recomendam a participação em workshops específicos sobre educação intercultural, o treinamento intercultural ou até a psicoterapia, em alguns casos especiais.

Para quem se interessar, o Núcleo de Atendimento  Intercultural da Unifesp oferece serviços gratuitos em atendimento e orientação individual, grupal (familiar), workshops à população e asseessoria a organizações públicas e privadas.  O trabalho na Unifesp está se estruturando para atender pela internet, ainda sem data definida.  A Equipe Andrea Sebben Consultoria oferece basicamente os mesmos serviços.

Telma Reis (carioca de Niterói)

 

“Quando vamos ao Brasil de férias, só vemos as coisas boas. Após 18 anos morando na Alemanha, decidi voltar por uma questão de doença. Na segunda semana, já percebi que ali já não era mais o meu país. Me choquei com a desorganização, com os preços e, principalmente, com a desonestidade de algumas pessoas. Quando eu reclamava do sistema, as pessoas não entendiam, porque para elas isso já é normal. A verdade é que ninguém reencontra o Brasil que deixou. Isso é um erro. Sonhamos em voltar, mas temos que nos preparar para ver um outro país, com pessoas diferentes daquelas que deixamos quando partimos. “

 Mariana Andrade (mineira de Belo Horizonte)

“Eu sofri na pele a decepção de voltar ao Brasil e me arrepender no terceiro mês. Depois de passar sete anos sofrendo de saudades da pátria, consegui convencer o meu marido suíço em tentar a vida com nossos filhos em Belo Horizonte.  Só que o retorno foi uma experiência negativa em todos os sentidos. Como meu sonho sempre foi retornar, achei que sofria de infelicidade. Não me adaptava em nenhum país. Depois de morar na Suíça, eu mudei muito e não me dei conta disso. Só fui descobrir quando comecei a me irritar com alguns aspectos da cultura brasileira. Além disso, eu tinha medo o tempo todo. A minha cidade já não era segura para os meus filhos. O fator principal, no entanto, foram os salários baixos praticados no Brasil. Infelizmente, eu já tinha ido embora e me desfeito da minha casa. O sonho colorido de terras mais quentes não durou mais que dois anos. Agora aprendi a aceitar a Suíça como o melhor lugar para nossa família.”

– Menor índice de depressão e ansiedades

– Melhor adaptação ao país de origem

– Mais estímulo para comunicação e desenvolvimento linguístico

– Melhor entendimento de comportamentos diferentes

– Desenvolvimento de competência intercultural

– Compreensão dos sentimentos envolvidos no processo de adaptação.

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