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Secretário-geral da ONU expressa preocupação com decisão do governo da Nicarágua

(Arquivo) O escritor e ex-presidente da Nicarágua Sergio Ramírez afp_tickers

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, expressou preocupação com a decisão do governo da Nicarágua de retirar a nacionalidade e os bens de 94 opositores, entre eles os escritores Sergio Ramírez e Gioconda Belli, informou seu porta-voz nesta quinta-feira (16).

“O secretário-geral estava alarmado de ver a decisão do governo da Nicarágua de privar 94 de seus cidadãos de seus direitos civis e políticos, em particular a nacionalidade e o direito à propriedade”, disse Guterres por meio de seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

“O direito à nacionalidade é um direito fundamental. Não deve haver perseguição ou represálias contra os defensores dos direitos humanos ou pessoas que expressam opiniões críticas”, acrescentou.

“Cabe lembrar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que toda pessoa tem direito a uma nacionalidade, e que ninguém deve ser privado da mesma arbitrariamente”, recordou.

Os 94 opositores exilados foram declarados pelo governo Ortega “traidores da pátria”. O presidente da Nicarágua enfrenta críticas da comunidade internacional devido ao autoritarismo crescente de seu governo .

Guterres “pede a esse governo que liberte as pessoas que ainda restam nas mesmas condições, sem privá-las de sua nacionalidade”, disse Dujarric.

– “A Nicarágua é o que sou” –

O escritor nicaraguense Sergio Ramírez, de 80 anos, dissidente e ex-sandinista, respondeu hoje à retirada de nacionalidade dele e de outros 93 dissidentes pelo governo Ortega.

“A Nicarágua é o que sou e tudo o que tenho, e que nunca deixarei de ser, nem deixarei de ter”, tuitou. “Quanto mais Nicarágua me tiram, mais Nicarágua eu tenho”, acrescentou o vice-presidente de Ortega em seu primeiro mandato (1985-1990), que hoje tem nacionalidade espanhola e reside naquele país.

Além de Ramírez, entre os nicaraguenses afetados está a escritora Gioconda Belli, de 74 anos, que recorreu no Twitter a um poema seu para responder à decisão: “Eu te conto contos no canto do meu travesseiro, eu te aconchego e cubro seus olhos para que você não veja os carrascos que chegam para cortar sua cabeça”.

Em entrevista concedida à AFP em Madri em setembro passado, por ocasião do lançamento de seu último livro, Ramírez confessou que achava difícil retornar a seu país algum dia: “No momento não vejo nenhuma possibilidade. Temos na Nicarágua um sistema repressivo muito enraizado nas estruturas do Estado”.

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