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Senador tem provas e indícios contra a CIA

Dick Marty acha que suas investigações provocaram o fechamento de centros da CIA na Europa. Keystone

O senador suíço Dick Marty diz que está provado que a CIA fez transitar pela Europa pessoas seqüestradas antes de serem "torturadas" em outros países.

Em relatório intermediário publicado terça-feira (24/01), o senador e investigador do caso para o Conselho da Europa reconhece que não há qualquer “prova formal” da existência de prisões secretas da CIA na Europa.

O uso do território europeu pelos serviços secretos estadunidenses (CIA) para transferir prisioneiros para os Estados Unidos e outros países chegou a uma dimensão tal que os governos europeus não poderiam ignorar, afirma Dick Marty.

“É simplesmente inverossímil que os governos europeus ou pelo menos seus serviços secretos não sabiam de nada”, acrescenta o senador suíço em seu relatório intermediários de 25 páginas, entregue terça-feira (24.01), Estrasburgo, na França.

“As restituições (transferência de prisioneiros para os Estados Unidos ou outros países) através da Europa atingiram mais de uma centena de pessoas nos últimos anos. Centenas de vôos de aviões fretados pela CIA passaram por numerosos países europeus”, acrescenta o senador.

Centros de detenção secretos?

Há tempos que os americanos são suspeitos de manter na Europa centros secretos de detenção e interrogatórios de prisioneiros.

O senador e antigo procurador geral do Ticino (sul da Suíça) reconhece, contudo, que na fase atual do inquérito “não há provas formais e irrefutáveis da existência de centros de detenção da CIA na Romênia, Polônia ou em qualquer outro país europeu”.

Referindo-se às declarações de funcionários estadunidenses, Dick Marty destacou, no entanto, que ter “numerosos indícios coerentes e convergentes de deslocalização e terceirização da tortura”.

No relatório, o senador escreve ainda ter recebido informações “detalhadas”, segunda-feira (23/01) da Eurocontrol (agência européia de tráfego aéreo) e imagens do Centro de Satélites da UE acerca de instalações em território romeno.

“Só posteriormente poderemos nos pronunciar acerca da importância dessas informações”, declarou Dick Marty.

Segundo um fax dos serviços secretos egípcios interceptado pelos serviços secretos suíços, um centro de interrogatórios foi montado pelos Estados Unidos na Romênia.

Um caso sério e inquietante

Publicado recentemente pelo jornal SonntagsBlick, de Zurique, esse documento revela que 23 iraquianos e afegãos teriam sido interrogados nessa base americana em solo romeno. Centros similares existiriam na Ucrânia, no Kossovo, na Macedônia e na Bulgária.

Em uma coletiva à imprensa em Berna, em meados de janeiro, Dick Marty disse que gostaria de obter uma cópia do fax egípcio. Qualificou o documento de “elemento significativo” porque provinha de “uma fonte diferente”.

Ao jornal Le Temps, de Genebra, na edição de terça-feira (23/01), o senador afirmou que “os elementos que tenho hoje demonstram que toda essa história é séria e inquietante. Politicamente, os indícios concordantes são tão sólidos que há motivos para agir.” Mas concluiu que “somente os governos podem esclarecer definitivamente toda essa história”.

A Suíça…uma autoridade moral

Ao que parece os vôos que transportaram priosineiros da CIA também transitaram pela Suíça. Berna pediu explicações a Washington mas não obteve resposta.

Dick Marty lamenta a falta de reação na Suíça. “Espera-se há meses uma resposta de Washington que não chega. Acho estranho que meus colegas não se alarmem com o fato de um país considerado como amigo não forneça as explicações solicitadas”, declarou o senador ao Le Temps.

Ele criticou ainda a reação do ministro suíço do Interior, Pascal Couchepin. “Acho desolador que um membro do governo afirme não somos o Vaticano dos direitos humanos. Nossa história, nosso estatutuo de depositário das Convenções de Genebra e país do Comitê Internacional da Cruz Vermelha é contraria essas afirmações. A Suíça tem um responsabilidade particualar, uma autoridade moral”, afirmou Dick Marty ao Le Temps.

Procedimentos «inaceitáveis»

Em seu relatório intermediário, Dick Marty – que inicou as investigações em dezembro – condena duramente mais uma vez os meios utilizados depois do 11 de setembro pela administração Bush para lutar contra o terrorismo, qualificando-os de “inaceitáveis”.

“Minha intenção declarada visa aumentar a pressão sobre os membros do Conselho da Europa, instituição que defende princípios que certos Estados parecem dispostos a abondonar sem escrúpulo”, declarou ao Le Temps.

Mas o relator do Conselho da Europa tem uma consolação: sua ação parece dar os primeiros resultados.

“Segundo minhas informações, centros de detenção foram fechados em algumas horas, em novembro. É um dos méritos da investigação. Se ela pudesse agora provocar uma verdadeira mobilização da sociedade civil, um passo adicional seria dado”, afirma Dick Marty.

swissinfo e agências

– O senador suíço Dick Marty é presidente da Comissão de Assuntos Jurídicos e Direitos Humanos da assembléia parlamentar do Conselho da Europa.

– Por isso foi encarretado de investigar as denúncias de prisões secretas da CIA na Europa do Leste, publicadas pela imprensa estadunidense. Terça-feira, 24/01, ele apresentou uma relatório intermediário das investigações.

– Nesse relatório, afirma que mais de uma centena de pessoas foram seqüestradas ilegalmente pela CIA, entre elas cidadãos europeus.

– O caso do imame de Milão, Abu Omar, é exemplar. Suspeito de terrorismo, ele foi raptado e Mião, enviado ao Egito e torturado.

– Outro caso que saiu na imprensa foi o de cidadão alemão Khaled Al Masri, seqüestrado e deportado no Afeganistão, onde foi torturado durante cinco meses antes que os serviços secretos dos Estados Unidos constatem que ele fora confundido com outra pessoa.

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