Setor do cimento espera alta nas vendas em 2024 após 2ª queda consecutiva em 2023
Por Alberto Alerigi Jr.
SÃO PAULO, 9 Jan (Reuters) – A indústria do cimento no Brasil estimou nesta terça-feira crescimento de cerca de 2% nas vendas do insumo neste ano, uma recuperação da queda de 1,7% sofrida no ano passado que contribuiu para um aumento do nível de ociosidade do setor.
A previsão decorre da expectativa de andamento mais firme do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, reformulado ano passado após anos de paralisação; aceleração de obras vinculadas a grandes leilões de saneamento realizados desde 2021; e a retomada de obras de infraestrutura, segundo avaliação do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic).
Os cerca de 2% de crescimento de vendas estimados para este ano representam apenas 1,1 milhão de toneladas adicionais sobre o volume vendido em 2023, mas podem marcar uma interrupção na tendência de baixa do setor após duas quedas seguidas, disse o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna.
“Imaginamos que entramos neste ano em um ciclo de crescimento, com reorganização dos programas de habitação, de saneamento e PAC”, disse o executivo. “O ambiente está mais positivo”, acrescentou, citando ainda a queda nos juros.
Apesar disso, o endividamento elevado das famílias, que prejudica o consumo de cimento voltado a reformas e pequenas obras, seguirá pressionando para baixo a demanda pelo insumo, avaliou o executivo. Chamado de “autoconstrução”, o segmento representa cerca de 30% a 40% do consumo de cimento no Brasil.
Segundo Penna, o setor encerrou 2023 com uma capacidade ociosa de 34,1%, ante 32,9% em 2022. As vendas do ano passado somaram 62 milhões de toneladas, com dezembro ficando praticamente estável ante o desempenho de um ano antes.
“Perdemos mais de 3 milhões de toneladas em vendas nos últimos dois anos”, disse o presidente do Snic, citando que o volume vendido em 2023 marca um retorno ao desempenho de 2011.
CARBONO
O setor tem investido em redução de emissões de carbono, principalmente por meio de coprocessamento de resíduos nos fornos de produção de cimento, e aguarda com ansiedade a regulamentação do mercado de carbono. A previsão de investimento na área é de 3,5 bilhões de reais até 2030.
A Câmara dos Deputados aprovou no final de dezembro o projeto de lei que regulamenta o mercado de carbono no Brasil, instituindo um sistema de comércio de emissões de gases do efeito estufa com base em limites de emissão a empresas do chamado mercado regulado. O projeto aguarda apreciação do Senado.
O coprocessamento, atividade responsável pela transição energética substituindo o combustível fóssil por resíduo industrial, comercial, doméstico e biomassas, alcançou 30% de participação na matriz energética do setor, antecipando a meta do setor prevista para 2025.
Penna comentou que a média mundial de emissões da indústria cimenteira é de 610 quilos de CO2 por tonelada produzida de cimento, enquanto no Brasil ela é de 560 quilos. A expectativa do setor, disse o presidente do Snic, é finalizar em novembro deste ano um plano de neutralização de emissões até 2050.
DEZEMBRO
A indústria de cimento no Brasil teve vendas de 4,5 milhões de toneladas do produto no mês passado, oscilação positiva de 0,3% sobre o mesmo mês de 2022. Por dia útil, a venda cresceu 7,5% no período.
No acumulado do ano todas as regiões do país, com exceção do Nordeste, tiveram queda de vendas, em um desempenho influenciado ainda pelas mudanças climáticas que causaram fortes chuvas no Sul e Sudeste, enquanto no Norte houve seca dos rios que prejudicou a distribuição.
“Esperamos um primeiro semestre mais seco este ano”, disse Penna.