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Show de Scolari apresentado por Roberto Leal

Filho de Roberto Leal entrega a Felipão a guitarra com que gravou o hino de Portugal. Keystone

A primeira aparição de Luiz Felipe Scolari diante da imprensa desde que chegou a Viseu não foi para falar de futebol, com exceção de um recado para Cristiano Ronaldo.

Foi para receber homenagens do presidente Lula, de Pelé e da comunidade portuguesa no Brasil, trazidas pelo cantor luso-brasileiro Roberto Leal. Dava a impressão que era o “dia do fico” para Felipão, mas ele se esquivou e disse que “um dia tudo acaba”.

O tom era de confissões familiares, mensagens de amizade e estímulo e teve até presentes. Roberto Leal, no papel de “embaixador”, presenteou Scolari com um vaso e ambos ergueram como se fosse uma taça. O filho de Roberto Leal deu uma guitarra de presente ao técnico, que saiu com ela a tiracolo, com pinta de roqueiro.

Quase inacreditável

Tudo como se a Eurocopa não fosse começar dentro de quinze dias. A assessoria de imprensa da Federação Portuguesa de Futebol já havia advertido que não se deveria falar de futebol com o técnico da seleção.

A cerimônia também deveria ser breve para que não se perdesse o horário do almoço, às 13h, na concentração. Os jornalistas apinhados na sala para a entrevista coletiva ainda esperavam que Felipão falasse de futebol. Enganaram-se.

A única exceção foi um comentário de Scolari sobre o pênalti perdido por Cristiano Ronaldo na final da Liga dos Campeões. O treinador disse que a lição era que “um não pode carregar vinte [jogadores], mas vinte podem carregar um”. É provável que a mensagem seja integrada às preleções habituais de motivação do grupo.

Motivar o grupo

Outro elemento que já está integrado ao cotidiano da equipe são canções de Roberto Leal, que o “Mister”, como o chamam os jogadores – os jornalistas portugueses, nos bastidores, dizem “Sargentão” – coloca no ônibus para os jogadores ouvirem. Roberto Leal não resistiu e cantou umas estrofes de “Uma Casa Portuguesa”. Felipão ajudou a batucar na mesa, referindo-se à versão com o Oludum que o cantor fez do clássico do folclore português.

O técnico e o cator dizem que são amigos há cinco anos. Logo que Scolari chegou a Portugal, Roberto Leal lhe falou das dificuldades de integração num país estrangeiro, já que ele tinha vivido a situação inversa no Brasil. O treinador disse que ele e sua família sempre foram muito bem tratados em Portugal e que um de seus filhos namora uma portuguesa. Confessou que teve oportunidade de voltar ao Brasil, mas que sua família não quis.

Foram muitos os elogios ao técnico que injetou “mentalidade de vencedor na seleção portuguesa” e ao “homem além do técnico”. Scolari, aparentemente um pouco surpreso, reiterou várias vezes que não sabe qual será seu futuro (o contrato termina dia 30 de junho), que vida de técnico de futebol é assim mesmo. Ele reclamou que a construção civil em Portugal está muito cara e que, por isso, ainda não comprou uma casa no país.

Futuro incerto

No final da tarde, Felipão voltou às funções habituais, dirigindo um treino sem presença do público, em pleno feriado religioso. Muitos adeptos, como são chamados os torcedores em Portugal, reclamaram por não poder ver o treino em que se ouvia claramente as ordens do treinador.

A verdadeira multidão estava na procissão de Corpus Christi, gente humilde de Viseu, que lotou a esplanada entre as igrejas da Misericórdia e a catedral da Sé, na parte histórica da cidade. Ao entardecer, os jogadores já estavam recolhidos ao isolamento da concentração, preparando-se para os próximos encontros, mais terrenos, do Euro 2008.

swissinfo, Claudinê Gonçalves, Viseu

Na cerimônia em homenagem a Scolari foram lidas mensagens do presidente Lula, de Pelé, do ministro dos Esportes do Brasil, Orlando Silva, do presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo e do Cônsul-Geral do Brasil em Lisboa.

“É com muita satisfação que junto minha homenagem à que está sendo prestada, muito justamente, ao respeitado e competente treinador Luiz Felipe Scolari.

Felipão, como todos carinhosamente o chamamos, já demonstrou capacidade em várias ocasiões. Conduziu a seleção brasileira ao pentacampeonato e, na última Copa do Mundo, o selecionado luso à colocação que surpreendeu a própria nação portuguesa. É evidente que, no Brasil, estamos torcendo por Portugal e por Felipão.

Desejamos ao homenageado e à seleção portuguesa muito sucesso, exceto em confrontos diretos com o Brasil, vocês hão de convir”.

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