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Sigilo bancário não teria futuro

Ministro Villiger não tem convencido colegas europeus Keystone Archive

O sigilo bancário é uma das marcas registradas da Suíça. Mas por quanto tempo? As pressões européias nunca foram tão fortes...

A Suíça defenderia o sigilo “para ganhar tempo”, escreve o jornal “dimanche.ch”, de Genebra.

A Suíça negocia uma segunda série de acordos com a União Européia para compensar seu isolamento nesse bloco de 15 países (com perspectivas de alargamento a 10 outros a médio prazo).

“O sigilo bancário não é negociável”

A Suíça vem esbarrando nos últimos meses no sigilo bancário, um verdadeiro tabu no País. Os negociadores da União Européia (UE) têm cobrado com crescente insistência que a Suíça abra mão desse sigilo. Acontece que a União perde somas espantosas com evasão fiscal de cidadãos que escondem suas fortunas nos super-discretos bancos suíços.

(A lembrar que a Suíça distingue fraude fiscal, tido como crime, da evasão fiscal que não considera crime).

Oficialmente a atitude suíça é a que expôs há vários meses o ministro das Finanças, Kaspar Villiger, de que o sigilo bancário não é negociável. A única colher de chá que deu à UE é proposta de cobrar na fonte impostos sobre juros, sem revelar o nome do depositante.

O Grupo dos Quinze procura elaborar até o fim do ano uma norma comum – aplicável a partir de 2011 – um sistema de informação, talvez mesmo automático, entre as diferentes administrações fiscais, “dos territórios associados e dependentes”. Aplicação da norma significaria enterrar o sigilo bancário.

Pressão se acentua

Até há pouco tempo permanecia esse chove-não-molha, mas as pressões aumentaram neste mês de outubro.

Reagindo a essas pressões, no fim de semana, o jornal “dimanche.ch”, de Genebra, saiu com esta manchete: “o governo não sabe o que custaria o abrandamento” (do sigilo). Os banqueiros seriam incapazes de fornecer cifras coerentes e apontar conseqüências claras sobre a supressão desse verdadeiro tabu.

Para o jornal, para os grandes bancos, uma “adaptação” do sigilo não teria conseqüências catastróficas, até porque a gestão de fortuna “é parte ínfima das atividades desses bancos”.

Já os bancos privados, em particular os de Genebra, “dependem essencialmente do sigilo bancário”. E avança cifras: “Sete (desses) estabelecimentos gerenciam em Genebra 230 bilhões, dos 1.4 trilhões de francos administrados para a clientela privada”.

Ganhar tempo

As dificuldades enfrentadas pelos bancos do País se explicariam pela incompetência e falhas no gerenciamento. Os bancos teriam dormido no ponto, apoiados no sigilo bancário, sem realizar reestruturações necessárias, como ocorreu em outros países. Para compensar o atraso, a Suíça vem defendendo a unhas e dentes o sigilo bancário.

O jornal observa ainda que a atratividade dos bancos suíços diminui na Europa onde os impostos baixaram, a inflação é mais bem controlada e onde reina estabilidade política.

E se exclui sanções européias contra a Suíça, estima que, com a manutenção do statu quo, o preço a pagar seria alto. Um preço político e econômico. A Suíça seria relegada à condição de Mônaco ou de Andorra.

Consciente disso, o País estaria, portanto, esperando apenas a tempestade passar para negociar com calma.

swissinfo/J.Gabriel Barbosa

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