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Sistema Galileu tem seus dois primeiros satélites

Foguete Soyouz parte pela primeira vez da Guiana, levando os dois primeiros satélites do sistema Galileu Keystone

Até 2015, a Europa terá seu primeiro sistema de navegação por satélite. Sexta-feira (21) um foguete russo Soyouz lançou os dois primeiros satélites do sistema Galileu a partir da base de Kouru, na Guiana.

O programa – contestado pelos custos mas considerado incontornável – tem muita tecnologia suíça.

Quem atualmente pode dispensar o GPS? Seja nos caminhos de montanha, pescador, bombeiro ou simplesmente motorista, a navegação pelo Global Positioning System tornou-se indispensável. Os usuários são tantos que quase se esqueceu o uniforme. Portanto, o GPS – como o GLONASS russo e o Baïdu-Compass que os chineses estão instalando – é um instrumento militar. Em caso de crise, o Pentágono poderia perfeitamente alterar a precisão para os civis, como fazia até maio de 2000.

“Se a Europa quer garantir um acesso independente à localização por satélite, por meio de um sistema civil de maior fiabilidade que o GPS, embora complementar, ela precisa de Galileu”, afirma Kamlesh Brocard, chefe assessor de comunicação do Domínio de Assuntos Espaciais, em Berna, capital suíça. Na Suíça, país cuja indústria vai tirar proveito de Galileu (ler na coluna à direita), o credo não mudou desde o início do programa. Não foi o caso em todos os países europeus.

Gestação laboriosa

A ideia de um “GPS europeu” surgiu no final do século 20. Em 2001, a União Europeia tomou uma decisão de princípio, apostando em na parceria público-privada. Em 2005, foi lançado o primeiro satélite de teste e um segundo em 2008. Entretanto, as rivalidades entre Estados e o fracasso do plano inicial de financiamento ameaçaram acabar com o projeto, que tem cinco anos de atraso.

Em Bruxelas, a Comissão Europeia decide então de financiar todo o projeto e obtém, em abril de 2008, o aval do Parlamento Europeu para um custo total de 3,4 bilhões de euros. Dois anos depois, a fatura subir mais quase 2 bilhões. Pretende-se então reduzir a dimensão e passar de 30 para 18 satélites. A Alemanha pede cortes de 500 a 700 milhões de euros.

Apesar de todas as dificuldades, os promotores de Galileu não desistem. De fato, a rede de satélites será a primeira infraestrutura comum produzida e financiada pela União Europeia, que também será a proprietária. Os comissários e os Estados estão persuadidos que o investimento vale a pena. Calculam que o mercado de serviços de navegação por satélite vai passar de 130 bilhões de euros atualmente a 240 bilhões em 2020. Galileu pode ganhar uma boa parte desse bolo.

Foguete russo na linha do Equador

Enquanto isso, Bruxelas teve que pensar duas vezes antes de enviar para o espaço os milhões dos contribuintes. Daí a opção de foguete russo Soyouz, menor do o francês Ariane 5, embora maior do que o novo foguete Veja, concebido para satélites menores e que entrará em serviço dentro de alguns meses.

Descendente direto dos mísseis da época da Guerra Fria e das engenhocas que colocaram em órbita os primeiros homens no espaço, o foguete ex-soviético continua a ser um dos mais seguros do mundo, mesmo se um deles caiu em agosto passado. Mais acostumado aos invernos glaciais e aos verões tórridos do Cazaquistão, o foguete opera pela primeira vez em Kouru, base de lançamento da ESA, na Guiana.

Essa nova parceria interessa às duas partes. Os europeus dispõem de um lançador confiável de tamanho médio a um preço sem concorrência; os russos abrem um novo mercado para sua indústria espacial. Tem mais: decolando perto da linha do equador, o foguete tem um impulso máximo devido à velocidade de rotação da Terra. Isso significa que Soyouz pode levar uma carga de 3 toneladas ao invés de 1,7 tonelada quando decola de Baïkonour, onde a Terra gira mais devagar.

Mas preciso do que o GPS

Depois desse primeiro lançamento, é o mesmo foguete russo que colocará em órbita os dois próximos satélites, em 2012. O ritmo vai se acelerar posteriormente para chegar a 18 satélites em 2015. Galileu poderá então entrar em serviço, mas será preciso esperar até 2020 para que sistema seja completo, com 30 satélites, se a Europa votar o financiamento necessário no plano orçamentário 2014-2019.

Trinta satélites é seis a mais do que o GPS americano. Além do número, a maior vantagem de Galileu é que seus satélites são mais modernos e ficarão em órbita a 22,222 km de altitude contra 20.200 km para o sistema americano. É sabido que quando mais alto se olha, mais longe se vê. Por isso Galileu cobrirá melhor as regiões do norte do globo e seu, sinal, descendo mais verticalmente, passará melhor nas cidades onde os edifícios altos podem perturbar a recepção. Quando completo, Galileu promete uma precisão de um metro, enquanto a do GPS é de 3 a 8 metros.

Os dois sistemas não serão grandes concorrentes. Em 2007, Bruxelas e Washington firmaram um acordo prevendo compatibilidade técnica entre Galileu e GPS. Os receptores poderão receber os sinais dos dois sistemas. Se um tiver uma avaria, o outro faz a conexão.

Evidentemente, Europa e Estados Unidos manterão seus canais reservados a atividades estratégicas. Galileu, mesmo sendo um sistema civil, também terá canais reservados aos militares.

Os satélites do GPS (e mais tarde os de Galileu) emitem todos um sinal contínuo para a Terra, que indica sua posição e hora de emissão. O receptor no solo tem na memória as coordenadas das órbitas de todos os satélites. Quando recebe o sinal, ele calcula o tempo que este levou para chegar. Cruzando os dados de três satélites (e mais um para a altitude), ele pode deduzir a distância que os separa, portanto a posição). Como os sinais viajam à velocidade da luz, a precisão dos relógios atômicos embarcados nos satélites é primordial

30 milhões d’euros. É a contribuição da Suíça para o programa Galileu até agora, como participação ordinária à Agência Espacial Europeia (ESA). Essa soma voltará integralmente ao país através das encomendas industriais.

Computadores de comando, mecanismos de orientação de painéis solares, eletrônica de navegação, mas também chassis de fixação dos dois satélites ao topo do foguete: tudo isso vem da empresa suíça RUAG Space. Só falta a cobertura do foguete que a empresa de Zurique já fornece aos americanos, mas ainda não aos russos.

Relógios atômicos. É o coração de Galileu. Eles vêm da Spectratime, em Neuchâtel, e são reputados como os mais precisos jamais utilizados no espaço: um segundo de variação em três milhões de anos. Isso não é um luxo, porque um erro de um milionésimo de segundo dá uma diferença de 30 centímetros no solo. Um segundo de erro lhe manda praticamente para a Lua.

 Plataforma de tiro. A empresa suíça APCO Tecnologias (de Aigle, oeste) tem uma equipe permanente na base de Kouru, encarregada da manutenção e da preparação dos satélites. Ela também participou da instalação da nova plataforma de tiro reservada aos foguetes Soyouz.

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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