Suíça mantém um tom firme com Israel

Segunda feira (19/4) o embaixador suíço não compareceu à inauguração de uma rua com o nome de um cidadão suíço, em Jerusalém-Leste, território ocupado por Israel.
Domingo, Berna já havia condenado a “execução” do chefe do movimento Hamas, Abdelaziz Rantissi, pelas forças de segurança israelenses.
Em carta endereçada em 18 de março, o profeito israelense de Jerusalém, Uri Lupolianski, convidava o embaixador suíço, Ernst Iten, a comparecer a uma cerimônia “para honrar uma pesonalidade suíça que, em plena consciência, mostrou-se disposto a sacrifícios pessoais para ajudar a salvar numerosos judeus perseguidos.”
De fato, o comandante da polícia de St-Gallen, perto da fronteira com a Alemanha, realmente salvou centenas de refugiados judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar do fechamento das fronteiras, ele os acolheu mesmo contra as diretivas do governo suíço da época.
A inauguração de uma rua com seu nome fazia parte da “Jornada da Shoa”, comemorativa do genocídio de judeus perpetrado pelos nazistas.
Autoridade não reconhecida
Mas o embaixador suíço recusou o convite. Em sua resposta de 31 de março, Ernst Iten explicava sua recusa ao prefeito de Jerusalém nesses termos: “Não será possível estar presente a uma cerimônia que ocorrerá fora do território de Israel reconhecido internacionalmente”.
O novo bairro onde se encontra a Rua Paul-Grüninger foi construido entre Jerusalé-Leste, anexada por Israel em 1967, e um zona agrícola próxima, também ocupada pelo Estado hebreu. A autoridade de Israel sobre esses territórios nunca foi reconhecida pela comunidade internacional.
“Ficamos felizes que Paul Grüninger seja honrado e que seus méritos sejam reconhecidos dessa maneira mas, na ausência de um estatuto definitivo para Jerusalém, a presença do embaixador da Suíça a essa inauguração da placa de rua em Givat Zeev era impossível”, explicou o embaixador em entrevista à agência de notícias suíça ATS.
O prefeito de Jerusalém tentou em vão convencer o embaixador suíço até o último momento.
A midia israelense criticou abertamente a decisão do embaixador suíço, e aproveitou da ocosião para lembrar o papel ambíguo da Suíça durante a Shoa. Criticaram ainda a intervenção da diplomacia suíça no conflito do Oriente Médio através da Iniciativa de Genebra, em que personalidades palestinas e israelenses se comprometeram a resolver o conflito de maneira pacífica.
Sem eliminações ilegais
Esse incidente ocorreu um dia depois da condenação pela Suíça da eliminação pelo exército isralense do novo chefe do movimento palestino Hamas, Abdel Aziz al-Rantisse, um mês depois da execução do cheik Assine, fundador do Hamas.
Para o Ministério suíço das Relações Exteriores (DFAE), tal execução é ilegal e só o respeito do direito internacional humanitário (DIH) pode frear “o clico fatal da violência”.
O DIH proibe tanto “as execuções extrajudiciais” isralenses quanto “os atos terroristas do Hamas”, precisa o comunicado do Ministério. Berna conclama as partes a retomarem o “diálogo e a negociação”, única maneira para “uma solução eqüitativa e durável do conflito”.
“Condenamos esse ato com base no padrão jurídico claro e definido que é o direito humanitário internacional estabelecido nas Convenções de Genebra”, precisa Paul Fivaz, responsável da divisão política para o Oriente Médio no Ministério das Relações Exteriores.
“A base do direito humanitário internacional é adaptada à realidade e à necessidade de segurança de Israel e é isso que gostaríamos de ver aplicado. É por essa razão que tomamos posição publicamente”, acrescenta Paul Fivaz.
Judeus da Suíça são favoráveis
Essa condenação oficial suíça não agradou em Israel. “Lamentamos a reação da Suíça e esperávamos mais compreensão de um país que havia declarado o Hamas como uma organização terrorista”, declarou o porta-voz do governo israelense.
“Trata-se de uma guerra, da sobrevivência de um Estado contra inimigos ferrenhos, afirmou Avi Pasner. E não se faz uma guerra com meios legais mas militares.”
As ações do exército isralense têm apoio de certos judeus da Suíça. Mesmo o presidente de honra da comunidade israelita de Zurique, Sigi Feigel, conhecido por suas posições moderadas, justificou a operação.
“O Hamas conclama todo dia à destrução de Israel”, o que constitui uma “grave violação do direito internacional”, escreveu, acrescentando que nos terrritórios autônomos palestinos não existe ninguém para “proibir ou punir” tais discursos.
Quando Israel aplica seu direito à autodefesa eliminando os instigadores de atentados, “o mundo lhe dá uma lição”, lamenta Sigi Feigel. Mas, segundo ele, “ninguém é tão crítico com os palestinos”.
Boas relações, apesar de tudo
Esses dois incidentes ocorrem depois de várias fricções entre os dois países, entre eles o caso das contas inativas desde a Segunda Guerra Mundial, o papel da diplomacia suíça na Iniciativa de Genebra ou a condenação pela Suíça o muro de separação entre Israel e os territórios ocupados.
As relações dos dois países, no entanto, são qualificadas de “boas” pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Carine Carrey.
swissinfo e agências.

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