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Viajando para encontrar o amor

Turismo afetivo-conjugal, fenômeno ainda ignorado pelo mercado, é mais comum do que se imagina. Brasil é grande exportador de esposas, inclusive para a Suíça.

Viajar tem sido uma solução eficaz na hora de encontrar um amor. A prática já tem até nome: turismo afetivo-conjugal. Pode ser explicado como querer conhecer alguém durante a viagem a um outro país, seja ocasionalmente ou propositalmente, ou após conversar pela internet.

Artigo do blog “Suíça de portas abertas” da jornalista Liliana Tinoco Baeckert.

Ao contrário do que acontece no turismo sexual ou no de grupos de Gays, Lésbicas, Transgêneros (LGBT), as agências ainda não descobriram o filão. Pelo menos é o que aparece nas entrevistas e pesquisas feitas por Maria Eduarda Rittiner, cientista social que vem estudando os casamentos entre estrangeiros com mulheres brasileiras há 20 anos. 

Ao elaborar dissertação de mestrado e tese de doutorado sobre o assunto, Rittiner encontrou números interessantes que dão uma noção do novo conceito. Ao comparar os países emissores de turistas para a Suíça e os de origem das esposas estrangeiras com quem os suíços mais se casam, verifica-se que cinco nações, inclusive o Brasil, estão entre as dez preferidas no quesito lugares de onde vêm as mulheres com que os suíços mais se casam. Isso significa que o Brasil está entre os locais de maior importância, tanto como exportador de esposas como de emissor de turistas para a Suíça. ´

Rittiner mostra, em seu estudo, que as dez nações que mais se uniram a suíços entre 1987 a 2011 são: Brasil, Espanha, Portugal, Filipinas, países da ex-Iugoslávia (seis repúblicas e duas províncias autônomas), Tailândia, Reino Unido, Estados Unidos, Países Baixos e Polônia.  

Em quase 20 anos de pesquisa e mais de 50 entrevistas qualitativa com casais mistos, a professora da Universidade Joaquim Nabuco (UninabucoLink externo), em Pernambuco, tem se debruçado em estudar os homens suíços, que se casam com mulheres estrangeiras.

Embora o turismo afetivo-conjugal utilize-se das viagens de pessoas a outros países com o intuito de aproveitar o momento e conhecer alguém, utiliza também a infraestrutura de hotéis e agências de viagem. Trata-se de uma oportunidade de negócio. A tendência ainda não é muito conhecida ou usada pelo mercado. 

A própria pesquisadora, também integrante de uma família intercultural – ela é portuguesa, vive no Brasil com seu esposo suíço – se disse surpresa com a descoberta. “A luz acendeu quando o amigo do marido perguntou se poderia vir passar as férias em sua casa, no Brasil, e se seria possível apresentar ele mulheres de família. A ideia era iniciar um relacionamento sério”, conta Rittiner. 

“Esse comentário me veio à memória anos depois e me fez perceber que os nossos amigos e mesmo familiares estavam contando conosco, como casal, para lhes facilitar acesso a uma possível esposa. E isso ficou mais claro quando um deles se virou para o meu marido e disse: se você conseguiu, por que não eu?”, diz a pesquisadora. 

Dessa maneira, ao começar a estudar as famílias formadas entre homens euro-americanos e mulheres brasileiras e, mais tarde, suíços e brasileiras, Rittiner denominou o fenômeno como Turismo Afetivo-Conjugal. Mas é importante destacar a diferença entre esse e o Sexual. No Afetivo, a intenção é viajar com a intenção de formar uma família com mulheres dos países do destino turístico. O Sexual é exatamente o que o Brasil deseja evitar: homens que visitam o país para explorar sexualmente menores de idade ou somente para prostituição. 

O trabalho de Rittiner destaca que há homens, inclusive, que viajam com o intuito de passear no país estrangeiro, mas acabam por conhecer a esposa durante as férias. Paulo, um dos entrevistados pela doutora para sua tese, foi ao Brasil com um amigo para turismo cultural e conheceu sua mulher. Durante o tempo em que namoraram, cruzaram o Atlântico várias vezes para se ver, tornando- se turistas afetivos. 

A pesquisadora diz que, no caso do estudo, os entrevistados (do sexo masculino e feminino) buscavam um par ideal que correspondesse a um tipo de casamento mais coeso, estável, diferente do que os homens pesquisados descrevem como sendo o casamento atual entre suíços, na Suíça. 

Embora não haja pacotes comerciais para esse fim, existem redes de ajuda para facilitar o encontro desses casais, como as de amigos, agências matrimoniais e os sites de relacionamentos virtuais, que conectam antes de chegar ao destino. Então, se quer encontrar um amor, faça as malas e vá para o mundo. 

Férias: temporada de romance 

Além de criar oportunidades para novos amores, as férias também fazem pessoas se apaixonar e influenciam na frequência sexual tanto dos solteiros quanto dos comprometidos. Um estudo publicado em 1997Link externo, do pesquisador e professor da Universidade Stony Brook de Nova Iorque, Dr. Arthur Aron, comprova que as pessoas se apaixonam mais facilmente quando no exterior. 

De acordo com o pesquisador, conhecer alguém em uma ponte suspensa assustadora eleva a chance de se olhar para o outro como se estivesse em um lugar mais seguro. Então, se uma pessoa está fisicamente agitada de alguma forma, como no caso do experimento da ponte, e na presença de alguém que é razoavelmente atraente, corre o risco de interpretar isso como amor ou atração romântica. 

– Exatamente o que acontece quando se conhece alguém em viagens. Ambiente novo provoca excitação” – explica o professor. 

Viajar também aumenta o interesse por sexo, dizem os estudos. Segundo o alemão Fabian, quando ele viaja, gosta de conhecer gente diferente. “Não é que nessas horas eu procure um relacionamento, mas estou mais feliz, acabo me abrindo mais. Quando estou em casa, meu foco é no trabalho”, revela. 

Sair da rotina e da cidade onde mora torna as pessoas mais desinibidas. Para isso contribuem fatores como estar fora da zona de conforto, não ter horários para nada ou não precisar dar satisfações a ninguém.

Mulher sentada em cadeira
“A natureza é um convite à conversa e abertura para o novo…”, afirma Sharon Eriksson. swissinfo.ch

Hikings em Zurique para encontrar a cara-metade

A natureza é uma grande conectora de pessoas e formadora de pares. Com esse conceito, a israelense e coach de relacionamento Sharon ErikssonLink externo organiza, há um ano e meio, hikings (caminhadas em inglês) com homens e mulheres acima de 40 anos que queiram conhecer pessoas ou até encontrar um amor. 

Os passeios acontecem sempre na área de Zurique, aos domingos. Sharon foca na comunidade de expatriados que vive na Suíça. Bem-sucedidas profissionalmente, essas pessoas sofrem para fazer amizade ou flertar. O inglês é a língua do programa, apesar dos participantes serem de diferentes nacionalidades. 

Programas ao ar livre são ideais para tirar as pessoas da zona de conforto, segundo a organizadora. De acordo com Sharon, ela utiliza o modelo de conversa ao ar livre também com seus clientes masculinos, que geralmente são mais fechados e difíceis de falar sobre sentimentos. 

“A natureza é um convite à conversa e abertura para o novo. É impressionante como as pessoas removem barreiras quando estão em contato com o verde. O ambiente tem a capacidade de desligar o lado racional e ativar o lado do coração. Dessa maneira, conseguimos ativar a conexão”, explica. 

A caminhada faz parte da estratégia de criar oportunidade para que seus clientes conheçam outros pretendentes. Durante o passeio, após apresentar os participantes, a coach dá as boas-vindas e divide os grupos para que todos os participantes tenham a oportunidade de desenvolver as tarefas e conversar com cada um, pelo menos uma vez. Sharon diz que já formou vários pares. Se algum relacionamento avançou para algo mais sério, ela não sabe dizer. 

Mas para quem quer arrumar namorado, vale a dica da coach: saia literalmente de casa.

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