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A Suíça cada vez menos tranquila

Keystone

O barulho é um subproduto da vida moderna, mas será esse o preço a pagar por uma maior mobilidade e um alto desenvolvimento? Urs Walker, da Secretaria Federal do Meio Ambiente da Suíça, diz à swissinfo.ch que a verdadeira batalha contra o barulho está apenas começando.

Um em cada seis habitantes da Suíça está exposto a níveis de barulho prejudiciais em sua vida diária, um índice equivalente à média europeia. O país vem realizando alguns progressos na redução do barulho, que continua sendo um dos problemas ambientais mais graves e subestimados de nossa época.

De acordo com as autoridades suíças, cerca de 1,3 milhão dos 8 milhões de habitantes da Suíça está exposto a muito barulho.

Urs Walker, responsável pelo serviço de redução de ruído da Secretaria Federal do Meio Ambiente, acredita que é hora de reconhecer a paz e a tranquilidade como um recurso valioso para a nossa vida, sem as quais não poderíamos existir.

swissinfo.ch: Já que não podemos frear o progresso, não deveríamos apenas aceitar o barulho como o preço a pagar por ele?

Urs Walker: O barulho é muitas vezes considerado como um subproduto da civilização, que deve suportá-lo como um resíduo que acompanha a mobilidade. Mas o barulho pode ser prejudicial para a nossa saúde quando os níveis são muito altos por muito tempo. Não é algo que podemos nos acostumar. Podemos achar que estamos acostumados, mas o corpo não vai se acostumar com isso. O organismo vai reagir a essa carga de ruído e, portanto, eu acho que é errado aceitar níveis excessivos de ruído como um mal necessário. Precisamos fazer algo contra isso.

O barulho provoca estresse e pode deixar uma pessoa doente. Cada ruído perturbador coloca o corpo em estado de alerta, causando a liberação de hormônios do estresse, como cortisol e adrenalina, o coração bate mais rápido, há aumento da pressão arterial e a respiração se torna mais rápida.

Outros efeitos incluem:
Ansiedade
Problemas de concentração
Desempenho reduzido
Problemas cardiovasculares
Perturbação do sono
Depressão
Pressão alta
Fadiga
Problemas de comunicação

(Fonte: Secretaria Federal do Meio Ambiente da Suíça)

swissinfo.ch: Ainda é possível encontrar paz e sossego na vida cotidiana, na Suíça?

UW: Eu acho que ainda existem oásis de calma na Suíça, especialmente nas florestas e montanhas, mas há cada vez menos. Isso significa que há cada vez mais barulho e que ele está indo tão distante quanto os vales alpinos.

O silêncio é um bem invisível. Sem calma não poderíamos existir. Eu não estou falando de um silêncio mortal no meio do deserto, mas de um nível natural de som da paisagem circundante que é importante para o nosso bem-estar como pessoa. Precisamos disso nos campos alpinos, mas também perto de onde vivemos e trabalhamos.

swissinfo.ch: O barulho se tornou um problema social, levando a casos que acabam nos tribunais. Como isso pode ser resolvido?

UW: Esse é um dos principais desafios para o futuro. Por exemplo, há pessoas que querem se divertir à noite nas boates das cidades, enquanto que outras, que moram perto das boates, querem dormir. É difícil conciliar essas necessidades diferentes, mas temos que encontrar soluções.

O outro problema é que os valores tradicionais de quando se deve ficar quieto não são mais compartilhados. Jovens e idosos estão cada vez mais distanciados sobre esta questão.

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Suíços preocupados com barulho das crianças

Este conteúdo foi publicado em No ano passado, a Alemanha mudou a lei para proteger o barulho das crianças e colocar um fim a uma onda de queixas legais contra parques infantis e creches. Militantes suíços estão pedindo uma reforma semelhante na Suíça. Em novembro do ano passado, uma associação infanto-juvenil de Zurique lançou uma campanha para proteger na lei…

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swissinfo.ch: E o que fazer com o barulho das crianças?

UW: Há queixas de barulho de crianças, mas não gosto de usar o termo barulho quando se fala de crianças. Houve casos na justiça sobre esta questão que deram origem a uma certa prática. O barulho de crianças brincando não faz parte da legislação de proteção ambiental contra ruído. Mas, naturalmente, as instalações esportivas e os grandes parques infantis, estes sim, devem cumprir a lei de proteção contra o ruído.

É interessante notar que na Alemanha a lei foi alterada para isentar o barulho das crianças. Eu não acho que isto seja necessário na Suíça, porque a lei de proteção contra o ruído é bastante flexível na medida em que só se aplica quando há instalações reais que foram especialmente construídas para as crianças, como os playgrounds.

swissinfo.ch: O que foi alcançado na proteção contra o barulho nos últimos anos?

UW: Podemos destacar duas ou três coisas. Uma delas é que desde meados da década de 1980 todos os projetos envolvendo estradas ou vias férreas levam automaticamente em conta a proteção contra o barulho. Isso significa que proteção contra o barulho é examinada e implementada para cada autorização de construção. O governo federal investiu 1,3 bilhão de francos em um programa de obras contra o barulho das ferrovias. Este programa deve continuar, ele aguarda apenas a aprovação do parlamento.

No âmbito deste programa, os vagões também foram equipados com freios mais silenciosos. Nas estradas, foram instalados muros antiruídos, uma pavimentação silenciosa e a velocidade também foi reduzida.

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swissinfo.ch: O que ainda pode ser melhorado no futuro?

UW: Nós podemos fazer muita coisa. No lado técnico, precisamos começar com as principais fontes de barulho, os veículos, as estradas e ferrovias. Os carros podem ser mais silenciosos, os pneus também. Começamos uma campanha de informação sobre o assunto. Como consumidor você também pode comprar um motor eléctrico em vez de gasolina. E temos a intenção de adicionar incentivos econômicos para que os produtores possam oferecer produtos mais silenciosos e os consumidores escolher esses produtos.

Nos prédios, a posição dos edifícios, dos cômodos e a escolha dos materiais fazem uma diferença na propagação das ondas sonoras. As vias de acesso e de passagem também devem ser integradas no planejamento. Há um grande potencial para reduzir as queixas de barulho nesse ponto.

O DALY é um indicador que procura medir simultaneamente o impacto da mortalidade e dos problemas de saúde que afetam a qualidade de vida dos indivíduos.

O DALY mede os anos de vida perdidos seja por morte prematura (YLL –Years of Life Lost – Anos de vida perdidos por morte prematura) ou incapacidade (YLD – Years Lived with Disability – Anos de vida vividos com incapacidade) em relação a uma esperança de vida ideal cujo padrão utilizado foi o do Japão, país com maior esperança de vida ao nascer do mundo (80 anos para homens e 82,5 anos para mulheres).

(Fonte: Organização Mundial da Saúde)

Swissinfo.ch: A poluição sonora é o maior problema ambiental da Suíça?

UW: O barulho é um problema ambiental generalizado e estimamos que cerca de 1,3 milhão de pessoas estejam expostas a muito barulho na Suíça. Mas se isso faz com que seja o maior problema ambiental é difícil de dizer. É um problema particularmente comum nas áreas construídas, mas eu não gostaria de compará-lo com outros riscos e problemas ambientais.

swissinfo: Quais são as consequências do barulho para a saúde?

UW: As pesquisas realizadas até o momento revelam principalmente problemas de pressão alta, o que acaba incluindo os ataques cardíacos. Outro problema é o distúrbio do sono. Uma pesquisa recente descobriu que as crianças que vivem em áreas afetadas por barulho mostram um atraso no desenvolvimento cognitivo. Nós também avaliamos quantos DALYs (Disability Adjusted Life Years- Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade) são perdidos, usando métodos da Organização Mundial da Saúde. Chegamos à conclusão que 47 mil anos de vida são perdidos anualmente devido à exposição ao barulho, o mesmo nível de impacto que as partículas finas na atmosfera.

Adaptação: Fernando Hirschy

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