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Censo da Suíça muda de estratégia

Uma família suíça completando o formulário do censo em 1950 RDB

Já nos tempos bíblicos, as pessoas eram contadas para efeitos de governo. Mesmo a história do Natal envolve um censo.

De acordo com o evangelho de Lucas, José teve que ir se registrar em Belém, sua cidade natal. Foi durante essa viagem que Maria deu à luz a Jesus – em um estábulo humilde, pois todas as hospedarias de Belém estavam lotadas com os outros participantes do censo.














Felizmente, os cidadãos de hoje em dia não têm que passar pelo o que a Sagrada Família passou. Tradicionalmente, os recenseadores é que vêm até eles.

Esse foi o caso na Suíça de 1850 a 1990, quando os entrevistadores iam de porta à porta uma vez a cada dez anos. Desde então, a Secretaria Federal de Estatísticas passou a pedir que os lares enviassem pelo correio seu questionário preenchido.

Mas este sistema está prestes a ser relegado ao passado da Suíça. A partir de 31 de dezembro de 2010, a Secretaria de Estatística vai realizar o censo federal de uma maneira nova. Ao invés de fazê-lo apenas uma vez por década, este passará a ser anual.

Pode soar como sendo mais trabalhoso, mas, na verdade, espera-se que o novo método poupe tempo e dinheiro, de acordo com o Diretor da Secretaria de Estatísticas Jürg Marti. Ele também irá cobrir uma gama variada de temas.

Quem conta?

Apenas uma pequena proporção da população (cerca de 5%) será interrogada, por escrito ou por telefone. Para aliviar a carga sobre a população, a maioria das informações será elaborada a partir de registros municipais e complementada por inquéritos por amostragem.

A cada ano, cerca de 200 mil pessoas serão escolhidas aleatoriamente para preencher um questionário fornecendo mais informações sobre a família, emprego, habitação, educação, língua e religião.

Além disso, 10 a 40 mil pessoas serão entrevistadas por telefone em temas como “saúde”, “mobilidade e transportes”, “educação e formação”, “famílias e gerações” e “língua, religião e cultura”. Os temas individuais serão abordados em rotação – em outras palavras, uma vez a cada cinco anos.

A Secretaria de Estatística também deve questionar outras 3 mil pessoas por ano sobre assuntos da atualidade para ver como elas respondem a questões políticas ou científicas.

“A Suíça está obtendo um sistema moderno de estatística, o que torna possível observar de forma contínua as estruturas e o desenvolvimento da população e das famílias, bem como dos prédios e habitações”, declarou a Secretaria de Estatísticas em um comunicado divulgado na terça-feira.

Um instrumento de planejamento

O censo gera estatísticas demográficas relativas à idade, o número de estrangeiros na Suíça, o mercado de trabalho, deslocações, comportamento e muitos outros fatores.

Os dados servem para ajudar os setores políticos, econômicos e sociais a desenvolver estratégias para o futuro. Nos municípios e cantões, os números são usados no planejamento de infraestrutura, tais como escolas e asilos.

“Graças a este novo censo, as mudanças rápidas de hoje na economia e na sociedade podem ser analisadas com muito mais eficácia. Ao mesmo tempo, cerca de 100 milhões de dólares podem ser economizados em comparação ao censo tradicional”, explicou a Secretaria.

As mudanças estruturais no censo são uma tarefa complexa que requer dos 3 mil municípios suíços, 26 cantões e do governo federal reforço e harmonização dos seus registros.

Uma lei de harmonização dos dados está em vigor desde janeiro de 2008, criando as condições para o bom intercâmbio dos registros.

Para o censo de 2010, a Comissão Econômica da ONU para a Europa (UNECE) e o Serviço de Estatística da União Europeia (Eurostat) aprovaram recomendações para simplificar a comparação internacional dos recenseamentos da população e da construção. A Suíça também é regida por essas diretrizes.

A contagem das cabeças do país também era feita nos dias da República Helvética. O censo de 1798/1799 já determinava o número de habitantes, fornecendo uma imagem das comunidades urbanas e seus nomes.

Foi em 1850 que a Suíça moderna realizou seu primeiro censo federal. O instigador foi o ministro do Interior Stefano Franscini (1796-1857).

A Secretaria Federal de Estatísticas, em Neuchatel, é a responsável pelo censo. Em 1860, tinha quatro funcionários e um orçamento anual de 20 mil dólares. Hoje, são 760 pessoas e um orçamento de 160 milhões.

Em 1990, muitos boicotaram o recenseamento após um escândalo envolvendo o uso dos dados do censo pelas autoridades para efeitos de investigação da Guerra Fria. As pessoas que se recusaram a participar, em 1990, tiveram que pagar uma multa.

Em 2000, a maioria (97,3%) colaborou. A partir desse ano, as pessoas passaram a ter a possibilidade de completar o questionário pela internet. 4,2% da população responderam dessa forma.

Por razões de custo e eficiência, muitos países estão repensando a maneira como conduzem seus censos. Uma tendência é o uso de dados existentes. Por exemplo, os países do norte da Europa têm trabalhado a partir de registros de outros anos.

A partir de 2011, Itália, Espanha e outros irão usar métodos mistos, como fazem países como Suíça, Alemanha e Holanda. Esses países vão complementar os dados com levantamentos de campo.

A França tem realizado um censo complexo desde 2004, os resultados são o produto de uma média de cinco anos que é atualizada a cada ano.

Desde 2004, os Estados Unidos utilizam um método que combina um censo curto a cada 10 anos com um estudo anual de uma parcela da população.

20 países europeus ainda utilizam o método tradicional – a enumeração dos residentes no terreno e através de um formulário de informação.

Este é o caso na Grã-Bretanha, Irlanda, Grécia e Portugal.

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