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“Queremos receber mais turistas estrangeiros”

O ministro do Turismo, Vinicius Lages, durante a entrevista no seu gabinete em Brasília. swissinfo.ch

O Brasil recebe menos de seis milhões de turistas estrangeiros por ano e a Suíça, mais do que o dobro. O ministro brasileiro do Turismo, Vinicius Lages, confessa que existem problemas na formação profissional e também na infraestrutura do país, mas promete melhoras. Um modelo seria o uso racional do patrimônio natural na Suíça.

Vinicius Lages tomou posse no ministério do Turismo somente há menos de dois meses. Todavia o alagoano se doutorou em economia do desenvolvimento na França com uma tese sobre estratégias comparadas de desenvolvimento entre a Índia e o Brasil e já atuou vários anos em conselhos nacionais e internacionais na área de turismo.

Ao receber swissinfo.ch no seu gabinete em Brasília, Lages comparou a situação dos dois países, ressaltando especialmente o potencial do Brasil para atrair turistas estrangeiros.

swissinfo.ch: A Suíça é um país com vários centros de excelência em formação no turismo e gastronomia. O que falta para o Brasil ter um César Ritz College ou École hôtelière de Lausanne?

Vinicius Lages: Sim, de fato esse é um grande desafio para o nosso país, mas não só no setor do turismo. Hoje o maior peso do PIB está no setor terciário e também onde o maior número de pessoas está empregado. Efetivamente é o setor aonde iremos ainda pagar um preço por um bom tempo devido à insuficiência de investimentos na formação profissional e educacional.

O Brasil tem uma escolaridade média baixa em relação a outros países, até mesmo com um nível de desenvolvimento abaixo do nosso. Até hoje as pessoas entram no setor terciário sem a devida qualificação. Um exemplo: você vai ao supermercado e compra dois secadores de cabelo, umas tesouras e cadeiras e já abre um salão de beleza. Em outras partes do mundo isso já não é possível. Você precisa de uma certificação profissional e normas para regulamentar as profissões. No caso dos cabelereiras, elas trabalham com produtos químicos que têm efeitos sobre a pele e o cabelo. Também a reciclagem dos resíduos é uma questão…

swissinfo.ch: E no caso do turismo?

V.L.: É um setor que tem 52 segmentos como condutores de táxi, guias turísticos, pessoal dos serviços de hotel, funcionários de agências de viagem e outros. Neles as barreiras de entrada no Brasil ainda são muito baixas, o que faz que você possa estar empreendendo sem ter uma devida formação. Temos instituições como o SENAI, o SEBRAE e algumas escolas privadas, mas elas ainda estão muito aquém das necessidades de uma sociedade que evoluiu, que é mais exigente, especialmente a classe média, que entrou fortemente no mercado de consumo do turismo.

O Brasil já não pode ter mais um divertimento com circo de lona, mas sim tem de ser “Cirque du Soleil”, e isso mesmo para quem entrou recentemente no mercado. A sociedade está mais complexa, diversificada e exigente. Mesmo que, materialmente, ela está muito melhor do que antes, mas há um sentimento de questionamento permanente de que tudo deve melhorar, especialmente a gestão pública e a infraestrutura.

Vinicius Lages

O Brasil já não pode ter mais um divertimento com circo de lona, mas sim tem de ser Cirque du Soleil.

swissinfo.ch: A Suíça teria inspirado o Brasil de alguma forma na questão da qualidade de serviços e formação de mão-de-obra especializada?

V.L.: É um país que eu adoro. Tive lá algumas vezes. Conheço quase todas as regiões linguísticas do país. É um padrão excepcional, que reflete um investimento de longo prazo na qualificação profissional e de excelência do ensino, seja fundamental até universitário. É um país com uma cultura de qualidade e precisão, que se vê em todos os setores. Não é só no turismo que ela tem excelência, mas também nos serviços ligados às finanças e à saúde. Penso também nas grandes escolas de negócio como a IMD business school.

swissinfo.ch: Existem paralelos entre os dois países?

V.L.: A certa autonomia dos cantões reflete em uma situação como a do Brasil com as nossas unidades federativas. Nelas você tem que ter uma negociação permanente. Não é possível adotar verticalmente uma posição. É preciso construir e pactuar com os estados para construir uma política para o turismo.

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swissinfo.ch: O setor do turismo na Suíça aproveita do patrimônio natural do país, comercializando-o intensamente e protegendo, ao mesmo tempo. Como o Brasil quer se desenvolver no setor?

V.L.: Vemos na Suíça um grande cuidado com o patrimônio natural. Mas lá você tem também a possibilidade de uso e concessões em áreas que são protegidas. São várias evoluções dos modelos que o Brasil precisa adotar para aproveitar o que hoje é o maior patrimônio do turismo brasileiro, ou seja, o patrimônio natural, como já foi apontado pelo Fórum Econômico Mundial. Porém o patrimônio natural é a matéria-prima. Um rio, uma paisagem, uma floresta, um mangue ou as praias são a matéria-prima e não um produto turístico. Temos de sair com ações que transforme isso num produto precificado, com logística.

O contexto suíço beneficia-se também, ao contrário do Brasil, de uma proximidade com mercados de um poder de renda muito elevado. A Suíça está integrada em uma economia regional que facilita muito. Já o Brasil está distante dos centros emissores, inclusive alguns que mais crescem como a Ásia. Temos de nos preparar para sermos mais competitivos, inclusive do ponto de vista de custo, onde essa variável da logística tem um peso muito grande.

swissinfo.ch: No ano passado a Suíça recebeu aproximadamente 200 mil turistas do Brasil, em grande parte de renda elevada. Que tipo de turista o Brasil quer atrair?

V.L.: Por um lado você tem de entender que o Brasil é um grande mercado turístico para o próprio Brasil. Hoje temos mais de 80% do fluxo turístico formado por brasileiros. Nós queremos aproveitar isso e evitar que essas pessoas tenham vontade de conhecer outros países antes mesmo de conhecer o Brasil. E aqueles que já foram, já estão acostumados a viajar, que explorem e aproveitem o potencial do nosso país.

Nós temos uma oferta muito diversificada e para isso estamos investindo, inclusive em os novos grupos de turistas da terceira idade através do programa “Viaja mais, melhor idade”, para estimular o período de sazonalidade. O governo acredita que existe ainda um grande potencial de crescimento no mercado interno.

swissinfo.ch: Porém o Brasil ainda é muito fraco no mercado externo em comparação com outros países, até de menor porte…

V.L.: Temos menos de seis milhões de turistas estrangeiros. Por isso, a meta no plano nacional de turismo é de avançar com esses números. Nós podemos atingir sete ou oito milhões em um espaço de tempo não muito distante se tivermos a capacidade de implementar as políticas e os programas – e ter uma capacidade de promover o destino Brasil – a altura desses desafios. Isso implica numa informação melhor trabalhada sobre os nossos destinos.

A EMBRATUR está repensando essas estratégias diante desse novo turista internacional. Por exemplo, buscar em alguns mercados onde ainda tem um volume muito pequeno em comparação com o potencial como os Estados Unidos, pouco mais de 700 mil. A gente poderia dobrar isso através de medidas como facilitação de visto, desburocratização, possibilidade de obtenção de visto via internet e ações de reciprocidade.

swissinfo.ch: E a questão do turismo sexual, que ainda mancha de certa forma a imagem do Brasil?

V.L.: Quanto a essa preocupação isso não é turismo, mas sim crime. O Código Penal brasileiro tipifica isso como crime. Nós também fazemos trabalhos de prevenção e informação. Temos outros países no mundo com desafios semelhantes. Mas aqui no Brasil todo o governo trabalha com ações preventivas e dissuasivas para combater o problema.

swissinfo.ch: A expectativa é que mais de cinco mil turistas suíços estarão no Brasil para assistir os três primeiros jogos da sua seleção. Que recado o senhor daria para eles?

V.L.: Eu tive na Suíça um acolhimento sempre muito atencioso, seja em Genebra, Zurique ou Berna. Eles vão ter no Brasil o acolhimento que merecem. É um país muito alegre, mais informal e que pode, para alguns, parecer ter outro jeito de ser. Mas será uma oportunidade de estar próximo de um povo que sabe celebrar.

Segundo dados oficiais, a Suíça recebeu 16,8 milhões de turistas em 2013. Porém o número inclui só aqueles que se registraram nos hotéis. Outra parte não contabilizada é de turistas que estão em passagem.

Duração média de permanência na Suíça: 2,1 (hotéis), 3,2 (camping) e 2 (albergues da juventude).

Número de hotéis, pensões e outras formas de acomodação para turistas: 4.662.

Turismo como setor econômico: segundo as estatísticas oficiais, turistas do exterior gastaram 15 bilhões de francos em 2012. O setor correspondeu a 4,8% das exportações em 2012. Despesas de suíços no exterior: 13 bilhões. Saldo: 2 bilhões.

Em 2011, o turismo era responsável por 144,7 mil empregos diretos a tempo integral.

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