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Matemática mostra a fórmula do sucesso

Os alunos suíços têm equipamentos de última geração à sua disposição. Keystone

Como é que os adolescentes suíços se tornaram os melhores alunos em matemática do mundo ocidental, como acaba de ser revelado pela última avaliação internacional? swissinfo.ch foi até a Escola Rietwis, no cantão de Zurique, para ver como funciona uma instituição de ensino básico da Suíça.

Muitas escolas do país são exclusivamente para alunos de nível primário ou secundário. Esta instituição, por acaso, tem crianças do jardim de infância até o fim da escolaridade obrigatória e algumas delas participaram do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA), em 2012, organizado pela Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE).

Enquanto as crianças jogam bola ou pingue-pongue durante o recreio, correndo no pátio central do pequeno prédio da escola, os alunos mais velhos se reúnem para aulas particulares.

Nos últimos seis anos, os alunos da sétima à nona série da escola tiveram duas aulas “formais” de matemática a menos por semana, para compensar, eles estudam sozinhos ou em grupos, com o apoio dos professores.

Os últimos resultados do PISA não passaram despercebidos aqui, mas a escola prefere continuar com seus próprios objetivos, ao invés de colocar muita ênfase nos testes.

“Eu acho que é ótimo, mas talvez isso mude na próxima vez… mas estamos contentes, é claro”, diz Jürg Knecht, um dos professores de matemática da escola. “Não mudamos por causa do PISA. Continuamos fazendo o nosso trabalho como antes”.

A única diferença importante dos últimos anos é um novo livro didático usado nas salas de aula. Ao invés de usar diversos livros para as diversas classes, a escola usa agora um livro que inclui exercícios para os diferentes níveis.

Jürg Knecht explica que era difícil reunir os diferentes alunos em uma sala para estudar com diferentes livros, porque eles acabavam tratando a matemática de diferentes maneiras.

“Eu acho que agora é mais fácil para os alunos e há mais informações para eles, o que é completamente diferente.”

Comparações

“Eu acho que orgulho é a palavra errada”, diz Ueli Roempp, o diretor da escola. “Estamos satisfeitos por termos melhorado nossos resultados…”

Para o diretor da escola, a comparação de países pode ser útil para os governantes, mas não para as escolas, que só podem implementar mudanças que estão realmente relacionadas com seus alunos e métodos.

Nos testes do PISA, 40 pontos equivalem aproximadamente a um ano de escolaridade. A pontuação média para um aluno suíço foi de 531 em matemática, 37 pontos acima da média geral.

“Normalmente, a Suíça é um dos poucos países europeus acima da média da OCDE que consegue se manter nesse nível”, diz Francesco Avvisati, analista da OCDE.

“Só isso já é notável, porque muitos outros países europeus costumam diminuir o desempenho. A Suíça manteve a sua posição em termos absolutos. Ela sempre foi um país forte em matemática”, comenta o analista.

Os últimos resultados do PISA podem ser vistos abaixo, junto com a evolução do desempenho dos testes desde 2000.

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Alunos independentes

A escola Rietwis trabalha com o instituto de formação de professores da Universidade de Zurique (PH Zurique) em seu programa para alunos de nível secundário.

Ela incentiva seus alunos a começar a tomar responsabilidade pelos seus estudos e o futuro deles, dois anos antes do que a maioria das outras escolas.

Na prática, isso significa que as aulas de matemática desta escola costumam ser bem ativas, com muita discussão e troca de ideias.

Os alunos definem as tarefas para as suas sessões de aprendizagem independente. A maneira de como eles vão estudar fica por conta deles.

“Eu acho isso muito legal. Posso terminar meu dever em casa e posso estudar para as provas com minhas amigas”, diz Lorena, uma aluna de 15 anos.

Os alunos dos três níveis secundários se sentam em mesas diferentes em uma grande sala para estudar por conta própria.

Alguns se sentam ao lado de uma janela com vista para o jardim, enquanto outros se reúnem em torno de mesas reservadas para o trabalho em grupo.

Se alguém tiver uma pergunta, eles colocam um cartaz com um ponto de interrogação sobre ele. Um professor que supervisiona o grupo vem, então, ajudar o aluno em um canto.

“Eu acho que isso é uma coisa muito boa, porque podemos perguntar quando não entendemos alguma coisa e isso nos ajuda muito”, comenta Kristina, outra aluna da escola.

Desafio

Quando os resultados do primeiro estudo PISA saíram, em 2000, houve um choque geral com os resultados decepcionantes dos alunos suíços. Entre outras coisas, os resultados revelaram que apenas um quinto dos jovens de 15 anos conseguia ler um texto simples.

A pontuação média suíça para leitura melhorou de forma constante desde então.

“Estamos mais focados na leitura e temos novos livros de matemática, mas não planejamos muito bem como poderíamos melhorar esses resultados do PISA”, conta Ueli Roempp.

“Tomamos algumas medidas para melhorar o foco na leitura e na matemática, mas não desenvolvemos um programa especial.”

Esforços para melhorar a prática da leitura e da compreensão de textos estavam sendo feitos antes dos resultados do PISA, mas a escola concorda que isso tem sido feito de forma mais consciente depois da avaliação de 2000.

Em uma sala de aula do segundo andar, a professora Marianne Voegeli está trabalhando em um projeto com alguns alunos, reunidos em torno de uma tela de computador enorme.

“Eu tenho que explicar mais para as classes mais fracas, mas também é muito interessante como esses alunos exprimem suas ideias e como procuramos incentivá-los à leitura”, diz a professora.

“Eles já leram mais de dez livros durante esses três anos, agora eles podem ficar bastante orgulhosos do resultado.”

O diretor da escola e a OCDE concordam que os professores têm um papel fundamental a desempenhar no final das contas.

“As escolas tendem a achar que é difícil conseguir professores qualificados, especialmente em matemática”, disse Avvisati.

“O desafio para a Suíça é, certamente, continuar tendo uma profissão de professor atraente e ser capaz de atrair os melhores alunos para essa profissão.”

Adaptação: Fernando Hirschy

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