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Educação sexual para proteger as crianças

Irmã e irmão podem tomar banho juntos? imagepoint

Os pais deveriam falar de sexualidade o mais cedo possível com seus filhos. Seria uma boa maneira de protegê-los contra a violência. Uma brochura acaba de ser publicada na Suíça com a intenção de orientar os pais.

A publicação “Educação sexual para as crianças e prevenção contra a violência sexual” foi apresentada em Berna (em alemão) pela Fundação Suíça pela Proteção da Infância e pelo Conselho para Mães e Pais. As versões em francês e italiano estão previstas para 2011.

A sensibilização crescente à violência sexual contra as crianças criou uma grande insegurança nos pais. Estes questionam cada vez mais como proteger seus filhos e ao mesmo tempo dar-lhes liberdade suficiente para que façam suas próprias experiências e descobertas.

Muitos pais também se sentem desamparados com tudo o que é divulgado pela mídia em torno da sexualidade. É melhor falar com os filhos ou manter-se reservado?

Tarefa difícil

“É uma questão difícil para que tem filhos”, afirma Jacqueline Fehr, presidente da Fundação para a Proteção da Infância e deputada federal socialdemocrata, ao apresentar a brochura. Há exemplos do cotidiano, por exemplo, de um menino de quatro anos.

“Benjamim gostaria de brincar de médico com uma amiguinha, mas os pais não deixam. Ao dar banho em Tim, sua mãe denomina as diversas partes de seu corpo, mas não fala dos órgãos genitais porque se sente constrangida. Na creche, todas as crianças tomam banho nuas, mas Selma e Gian devem usar maiô e calção, conforme a vontade de seus pais. Quando Samuel anda nu pelo apartamento e brinca com seu pênis, seus pais lhe dizem que não é para fazer aquilo, que é inconveniente.”

“Os pais ainda estão muito inseguros pelos numerosos relatórios e enquetes indicando que é dentro da família que as crianças sofrem mais frequentemente abusos sexuais”, afirma Ursula Dolder, presidente do Conselho para Mães e Pais.

“Como posso proteger concretamente meu filho? Como lhe falar de sexualidade com naturalidade? Para esse tipo de questionamento os pais precisam de orientação, até porque, geralmente, não se fala nada”, acrescenta a especialista.

Dar segurança e proteger

“Quando eles abordam essas questões com seus filhos, muitos pais transmitem incerteza, incômodo ou mesmo falta de conhecimento. Assim, eles dão sinais negativos e correm o risco de impedir que os filhos descubram que o corpo é precioso”, explica Jacqueline Feher.

A nova brochura possibilita uma atitude diferenciada. Isso deverá ajudar os pais que desejam orientar seus filhos e dar-lhes mais segurança e proteção. Permite ainda encorajar a colaboração com os jardins de infância, creches e babás. “Queremos favorecer uma rede interdisciplinar”, afirma Ursula Dolder.

Incluir as famílias de migrantes

A educação social, como aliás a sexualidade em geral, é um tabu cultural para numerosos migrantes na Suíça. É por essa razão que é importante sensibilizar esses meios, segundo Ursula Dolder.

“Sempre tratamos esses temas com famílias de migrantes de cultura e língua muito diferentes. Sempre fazemos vistas a domicílio. Para traduzir o tema da educação sexual em sua própria cultura, é importante saber exatamente de onde vêm, qual é seu contexto cultural e mental, especialmente em matéria de sexualidade.”

Os maus-tratos mais frequentes

Na semana passada, o hospital infantil de Zurique divulgou novos dados de maus-tratos a crianças, no período 2003-2006. A maioria dos casos era de caráter sexual, ou seja, quase 40%.

Isso não surpreende o pedagogo Bruno Wermuth, coautor da brochura em questão. No entanto, no estudo divulgado em Zurique, ele se surpreende que os autores de agressões sexuais sejam alheios à família.

“Uma explicação possível é que a sociedade está mais sensível também a outros tipos de agressão, como entre crianças da mesma idade, que passam a ser computadas. Isso talvez contribua a modificar os dados, afirmando que não acontece somente nos círculos próximos.”

O problema do excesso de sexualização

A presença quase cotidiana do tema sexualidade na mídia é problemática para as crianças, mas também para os adultos.

Para Bruno Wermuth, é importante tomar uma certa distância para se proteger dessa oferta abundante. Cada um também dever ter consciência da maneira como percebe a sexualidade e da maneira como deseja vive-la. “Ela deve ser vivida na esfera íntima.”

Em resposta a essa grande midiatização da sexualidade, pode-se questionar se é preciso discuti-la na mesa familiar. “Eu acho que não; prefiro estimular as pessoas a dar sinais claros frente a essa inflação e manter uma certa discrição”, opina Bruno Wermuth.

O pedagogo conclui que, por isso, é importante que essa brochura mostre o que podemos exigir dos filhos e onde estão os limites.

Jean-Michel Berthoud, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)

Publicada em alemão, as versões em francês e italiano estão previstas para 2010.

Ela mostra a relação entre educação sexual e proteção das crianças contra a violência sexual e propõe aos pais e educadores informações práticas sobre o desenvolvimento das crianças e o papel dos pais.

Propõe ainda respostas às questões frequentes do que se pode admitir ou não e os limites que devem ser fixados.

Segundo dados publicados pelos Hospital Infantil de Zurique relativos a 1484 caos de maus-tratos de crianças registrados entre 2003 e 2006, 54% foram cometidos por homens adultos.

E acrescentados os 20% considerados maus menores, 74% dos delitos são atribuídos a homens.

As agressões são sobretudo de ordem sexual, ou seja, 38,3% dos casos denunciados. A maioria é cometida por pessoas alheias à família. Até agora pressupunha-se geralmente que as agressões vinham da própria família.

Especialistas supõem que esses dados sejam induzidos pelo fato de que as vítimas de agressões dentro da família não são forçosamente levadas ao atendimento hospitalar.

Os maus-tratos ocorrem em todas as camadas da população. Contudo, as agressões de tipo sexual tendem a ser mais frequentes nas camadas superiores, enquanto as violências corporais são mais numerosas nas camadas inferiores.

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