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Igrejas ainda atraem multidões no Natal

Fiéis celebrando a missa da meia-noite em uma igreja católica de Berna. Keystone

O Natal continua tendo uma forte conotação religiosa para muitos suíços. É o que mostra uma pesquisa de opinião: mais de um terço dos entrevistados declarou que irá participar de um culto cristão.

Ao mesmo tempo, um número crescente de pessoas reflete sobre não ser mais membro de alguma das religiões oficiais do país, como declarou mais de um quarto das pessoas. swissinfo.ch realizou sua própria pesquisa para descobrir mais sobre essas tendências.

De acordo com uma pesquisa de opinião realizada em todo o país pelo Instituto Link a pedido da Aliança Evangélica Suíça, nove de dez entrevistados – 87,8% – afirmaram que estarão celebrando o Natal com suas famílias.

E dentre as 1.003 pessoas que participaram da pesquisa, 36.4% – a maioria mulheres – afirmaram que pretendem participar de algum culto natalino na Igreja ou em outra cerimônia religiosa durante o período de festas.

Em outra questão, 53% dos entrevistados declararam acreditar em Jesus Cristo, mas completaram afirmando que “a história do Natal não ocorreu da maneira como foi contada na Bíblia”. Um em cinco – 22,1% – acreditam no relato natalino do livro sagrado, enquanto 13,3% dos entrevistados negaram completamente a existência de Jesus.

Aproximadamente 80% das pessoas que participaram da entrevista demonstraram estar geralmente felizes com a forma como a história e a cultura do Natal são transmitidas nas escolas suíças, enquanto 30,2% concordam integralmente.

Nas ruas

Nas ruas de Genebra e Lausanne (oeste) cobertas de neve em pleno inverno, a maioria das pessoas encontradas por swissinfo.ch afirmaram também que iriam a um culto de Natal em 2011.

“Sou cristão e sempre vou à igreja no Natal. Se eu não for para o turno da noite no trabalho, pretendo ir ao culto à noite”, revelou Ângela Aebi, que trabalha como enfermeira no Hospital Universitário de Genebra.

“O Natal é um período de amor, pois é quando nasceu Jesus Cristo. E como nossa família está espalhada entre a Suíça e a França, é uma oportunidade para juntar todos nesse dia.

“Por que o Natal precisa ter essa conotação religiosa? Esse dia é apenas um grande jantar e um encontro de pessoas”, pondera Youssef Tanane. “Francamente eu nunca entendi as religiões. Todo esse amor que Jesus e Maomé pregaram nunca conseguiu alcançar nada no mundo. Isso apenas levou às guerras. Penso que precisamos de uma mudança completa de direção.”

Apoio valioso

Em todo caso, muitas pessoas consideram que a religião oferece um valioso apoio, especialmente nos tempos de hoje.

“As pessoas veem que o mundo está mudando. Elas veem a crise econômica e o valor do dinheiro. Os jovens estão começando a pensar em outros valores, talvez alguns mais espirituais”, considera Cristina, originária de Friburgo.

“Penso que precisamos acreditar em algo e ter alguém para nos dar fé e nos ajudar a avançar”, replica Elena Guglielmone. “Mas hoje é muito diferente do tempo dos nossos avôs, quando todos iam à missa. A mentalidade mudou, o que é uma vergonha.”

Cristina Brava, de Lausanne, revela à swissinfo.ch que irá à missa com sua família na Espanha neste ano, mas confessou também sentir que as celebrações “perderam um pouco do seu sentido religioso”.

Michel Christian, habitante da cidade de Bienne, disse que ainda está indeciso sobre seus planos para o Natal, mas disse também sentir que o período de festas está se tornando “cada vez mais comercial” e “perdeu certos valores”.

Muitos outros entrevistados confessaram não serem de forma nenhuma religiosos e que não irão a nenhum culto, mas não são contra o ensino da história de Natal na escola.

Manter-se à distância

Um estudo realizado com fundos públicos revelou em março último que a população suíça sente ter-se distanciado do Cristianismo organizado assim como da espiritualidade tradicional nas últimas décadas.

Atualmente, os protestantes representam 32% da população, seguidos de perto pelos católicos (31%). Aproximadamente 12% são membros de religiões não cristãs. O restante (25%) não pertence a nenhuma religião. Esses números variam um pouco do último censo nacional, realizado em 2000 (ver na coluna à direita).

Quarenta anos atrás, apenas 1% da população suíça não tinha nenhuma afiliação religiosa. Em 2000 esse grupo já correspondia a 11% da população.

Outra pesquisa de opinião realizada em junho pelo instituto GFS-Zurique para a revista semanal da Igreja Reformada Protestante mostrou que um em cinco jovens membros, com idades de 18 a 39 anos, das igrejas Católicas e Protestantes estavam considerando abandonar a sua afiliação religiosa.

No total, 62% dos questionados afirmaram pertencer à religião por uma questão de hábito e não ter nenhuma razão especial para isso. E quanto maior a idade do entrevistado, maior essa percentagem.

Klara Obermüller, professora da teologia na Universidade de Zurique, considera que muitas pessoas já não veem nas igrejas o lugar onde elas podem encontrar respostas às suas questões mais prementes. “Por outro lado, muitos continuam considerando as missas de meia-noite e outros cultos tradicionais no Natal como importantes experiências coletivas”, acrescenta a docente e escritora. 

“Muitas igrejas subestimam o valor desses símbolos que têm um impacto emocional muito forte. As tradições criam continuidade e mantém a sociedade coesa“, declarou ao jornal Sonntag.

“Na época de Natal estamos particularmente suscetíveis a esse tipo de experiências.”

O Natal ou Dia de Natal é um feriado comemorado anualmente em 25 de dezembro (nos países eslavos e ortodoxos cujos calendários eram baseados no calendário juliano, o Natal é comemorado no dia 7 de janeiro), originalmente destinado a celebrar o nascimento anual do Deus Sol no solstício de inverno (natalis invicti Solis), e adaptado pela Igreja Católica no terceiro século d.C., para permitir a conversão dos povos pagãos sob o domínio do Império Romano, passando a comemorar o nascimento de Jesus de Nazaré.

O Natal é o centro dos feriados de fim de ano e da temporada de férias, sendo, no Cristianismo, o marco inicial do Ciclo do Natal que dura doze dias. (Texto: Wikipédia em português)

– Católicos romanos: 41,8%

– Igrejas protestantes oficiais: 33%

– Ortodoxos: 1,8%

– Judaísmo: 0,2%

– Islã: 4,3%

– Budismo: 0,3%

– Sem religião: 11,1%

(fonte: censo de 2000)

Adaptação: Alexander Thoele

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