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Imigrantes de 2ª geração querem sobrenomes suíços

Nomes terminados em "ic" não abrem as portas na Suíça. Keystone

"O que seria se Petrusic se chamasse Glarner?". Com esse slogan a associação Secondo Plus da Argóvia lançou uma campanha nacional.

Os imigrantes de 2ª geração apresentam um projeto de lei para facilitar a mudança de sobrenome durante o processo de naturalização.

As pesquisas mostram: as pessoas com sobrenomes estrangeiros que procuram um apartamento precisam se esforçar mais do que aqueles com nomes tipicamente suíços. Também na procura de trabalho os sobrenomes estrangeiros mais fecham as portas do que as abrem.

Apesar de serem suíços, os sobrenomes estrangeiros são para os naturalizados geralmente um obstáculo, sobretudo quando estes vêm dos países balcânicos.

A associação “Secondos Plus” do cantão da Argóvia exige por isso a possibilidade de modificação dos sobrenomes durante o processo de naturalização. O objetivo do projeto: melhor igualdade de chances para estrangeiros.

Adaptação

Será que já basta transformar Suntharalingam, Ismajlovic, Petkovic em Müller, Meier ou Küenzli? Não seria melhor combater em primeiro lugar os preconceitos contra estrangeiros?

“O projeto não é um solução final para as questões de integração”, afirma Ivica Petrusic, assistente social e presidente da Secondos Plus Aargau.

A idéia vem de círculos mais pragmáticos. Naturalizados com sobrenomes longos de origem asiática ou aqueles com os sobrenomes balcânicos teriam comunicado seus desejos, ou seja, adaptar-se ao contexto cultural da Suíça.

“Migrantes que encontraram sua identidade na Suíça veem uma contradição nos seus sobrenomes originais ou na sua grafia”, explica a Secondos Plus.

Computador não reconhece

Petrusic, que até os 14 viveu na Bósnia, tem dupla-cidadania suíça e croata. Seu sobrenome tem uma grafia diferente no passaporte suíço do que no croata. As letras finais “ic” que deveriam estar no final do sobrenome não constam em seu passaporte suíço.

Na polícia de habitantes disseram-lhe que as letras não existiam no sistema de computador. “Se o meu nome chega a ser mudado pelo computador, então preferiria faze-lo eu mesmo”, explica Petrusic.

Dessa forma deveria ser possível transformar um “ic” em um “itsch” ou deixar essa terminação simplesmente de lado.

Para Petrusic a mudança de sobrenome “não tem nada a ver com a perda de identidade”. Para as mulheres, que normalmente adotam o nome dos seus maridos, essa questão não existe.

“O nome me pertence. Com ele fiz um caminho”, ressalta Petrusic. Porém ele não considera tão fácil assim ter de repetir frequentemente seu sobrenome ou soletrá-lo. Há quatro anos ele é membro do conselho de habitantes, mas até hoje as pessoas ainda não conseguem pronunciar seu sobrenome. “Eu não quero que o meu sobrenome sempre seja um tema”.

Na procura de moradia ele já chegou até a utilizar o sobrenome da namorada.

Ato complicado

Se no passado a mudança de sobrenome era um procedimento simples na Suíça, a partir do século XIX seu emprego se tornou obrigatório. Desde 1907 está em vigor na Suíça uma lei relativa à modificação de sobrenomes (Art. 30 ZGB).

Ao contrário dos Estados Unidos, onde existem regras simples de adaptação de sobrenomes, na Suíça esse procedimento é extremamente penoso. A única exceção são nomes vergonhosos. Segundo jurisprudência do Tribunal Federal, sobrenomes que sejam “ridículos, feios ou repelentes” ou aqueles que sempre são “quebrados” podem ser modificados. O cantão tem poder de decisão nessa quetão.

Porém o Tribunal Federal também ressalta que a modificação do sobrenome não pode levar ao desaparecimento das origens.

O temor de que o sobrenome possa ser um empecilho para a vida não é considerado um motivo suficiente para justificar a mudança. No caso de duas meninas, que viviam com a mãe separada, mas mantinham o sobrenome do pai, O TF argumentou a impossibilidade de aceitar que uma grande parte da população se deixe influenciar negativamente por um sobrenome de sonoridade balcânica.

Comparado com Mörgeli

Petrusic, que irá se candidatar a deputado estadual na eleição de 8 de março próximo, afirma que a discussão em torno da problemática dos sobrenomes é importante, apesar de ser ainda muito polarizadora.

Ele recebe apoio da esquerda como da direita, mas também muita crítica. Devido a proposta, muitos o comparam ao deputado federal Christoph Mörgeli, da União Democrática do Centro (UDC, na sigla em francês, a direita nacionalista conservadora).

A associação Secondos Plus pleiteia que a questão da mudança de nome para estrangeiros seja também um tema de debate nacional.

Hans Stöckli, deputado federal do Partido Social-Democrata e prefeito de Bienne (centro da Suíça) pretende lançar um projeto de lei a respeito na Câmara dos Deputados.

Falsos incentivos

Sobretudo jovens estrangeiros que procuram vagas para formação profissional têm grandes dificuldades. Suas chances melhoram consideravelmente se ocultam o sobrenome nos currículos enviados às empresas. O fenômeno foi provado pelo projeto “Smart Selection” da Federação Suíça de Empregados do Comércio (KV, na sigla em alemão). Através de uma portal na Internet mais de seis mil jovens podem procurar uma vaga de formação de forma anônima.

Segundo Andrea Ruckstuhl, gerente do grupo jovem da federação KV, a ideia dos Secondos não traz solução para o problema. “Esse é um falso incentivo, que luta contra as causas e não contra o verdadeiro problema”, analisa. O problema básico, que algumas pessoas na Suíça têm preconceitos contra não suíços, não é solucionado.

“As pessoas que discriminam estrangeiros continuam a fazê-lo, não importa se a pessoa continua a se chamar mais ou menos Danovic”, conclui Ruckstuhl.

swissinfo, Corinne Buchser

Secondos Plus é uma organização voluntária, cujo principal objetivo é dar voz a pessoas de origem estrangeira.

Ela exige mais direitos para migrantes na política e na economia, uma política transparente de naturalização, igualdade de chances na escola e no trabalho e introdução do direito de voto e elegibilidade para estrangeiros.

Seções do Secondos Plus funcionam nos cantões de Berna, Zurique e Argóvia.

Segundo as últimas estatísticas disponíveis, no final de abril de 2008 viviam 1,6 milhões de estrangeiros na Suíça, o que corresponde a 21% da população.

Esse é o ponto alto da imigração. O grupo que mais cresceu foi o de alemães.

Sobretudo a imigração originária dos países da União Européia e do EFTA aumentou. Seu número cresceu 7,7% para mais de 990 mil pessoas. A imigração originária de países fora da União Européia cresceu apenas meio por cento.

A maioria dos estrangeiros na Suíça é originária ainda da Itália, totalizando 290 mil pessoas. Logo depois vêm os alemães (215 mil) e portugueses (188.000).

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