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A importância da Suíça no novo ciclo de vida de Sara Santana

Sara Santana no centro de Zurique, a maior cidade da Suíça. swissinfo.ch

Quando terminou o mestrado em Lisboa, Sara Santana encarou com naturalidade a possibilidade de se mudar para a Suíça. O seu namorado já se encontrava a viver no país e havia mais possibilidades para a sua carreira na indústria farmacêutica.

Em 2012, chegou a Basileia para iniciar a sua primeira experiência profissional, mas vive em Zurique desde 2014. swissinfo.ch encontrou-se com Sara num início de noite em Zurique para conversar e saber mais sobre esta reviravolta na sua vida.

Licenciada em Bioquímica, ingressa na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de LisboaLink externo em virtude do seu interesse pelas disciplinas de biologia e química, mas ainda um pouco indecisa em relação ao seu futuro. Frequenta depois o mestrado na mesma faculdade, onde decide direcionar-se para a biotecnologia. Mas esta opção não foi uma decisão fácil. A escolha foi ponderada em detrimento de maiores saídas profissionais, pois a sua preferência recaiu na área de investigação de suportes de purificação de fármacos.

Sara realizou um único estágio nos laboratórios da faculdade, estando toda a restante experiência de investigação relacionada com os requisitos da academia. Quando terminou o mestrado, encontrava-se um pouco indecisa em relação ao seu futuro: ficar em Portugal ou partir rumo à Suíça. O facto de ter o seu namorado a trabalhar na Suíça, naquele momento, tornou-se num forte argumento para a mudança, sempre com consciência de que “a Suíça era um sítio muito bom a nível de indústria farmacêutica e a nível de biotecnologia, empresas, startups. Há imensa coisa e foi um bocado vir à sorte”, salienta Sara.

Procura de emprego

Durante esse período, contactou diversas empresas sediadas na Suíça. Sara Santana assume que, nesse momento, tentou a sua sorte em todas as áreas relacionadas, desde programas doutorais até às empresas do seu ramo de atividade. A sua parca experiência profissional e o facto da universidade onde está não ter uma grande projeção internacional levaram a que nenhuma porta se abrisse.

No entanto, a sua busca não foi inglória e conseguiu um estágio na empresa Novartis que a levou para Basel em 2012. O estágio de introdução à indústria teve a duração de um ano e, quando o terminou, teve a oportunidade de substituir uma colega durante mais um ano. Dessa forma, integrou a equipa de downstream process development, ou seja, processos de purificação de biofármacos que consiste em isolar e purificar a substância que se pretende converter em fármaco das restantes substâncias que a circundam. Habitualmente, essas substâncias têm origem em fontes naturais, tais como plantas ou animais.

Mudança para Zurique

Passados dois anos, teve de ir em busca de uma nova colocação que a levou a mudar-se para Zurique. Na Molecular Parteners, empresa onde trabalha há cerca de três anos, Sara continua na área de purificação de biofármacos, monitorizando esses processos para, de seguida, enviar os fármacos purificados para as empresas que os produzem, assim como para serem efetuados os ensaios clínicos em pacientes. Esta empresa concentra-se especialmente nas áreas de tratamento oncológico e oftalmológico.

O trabalho de Sara consiste na utilização de técnicas definidas tais como, removal of insolubles, product isolation, product purification, product polishing, através das quais se procede ao isolamento do fármaco para, de seguida, ser enviado para as empresas que os produzem.

Sara compara o seu trabalho a uma linha de montagem devido ao facto de estar sujeito a diversas etapas até obter o fármaco puro. No final do processo, é possível obter-se um fármaco num estado de pureza que seja tolerado pelos humanos, e assim passar por uma fase de ensaios clínicos em pacientes. Este género de técnicas permite selecionar uma substância com a intenção de a utilizar num tratamento específico.

Apesar da complexidade das técnicas que utiliza no seu trabalho, Sara exemplifica uma técnica que tem estado a desenvolver: filtração de fármacos. Socorrendo-se da imagem do filtro de café, explica que essa filtração serve para impedir a passagem das impurezas contidas na solução líquida juntamente com a droga pretendida, ficando assim retidas no filtro. “É um exemplo, tentando ligar a realidade prática com a ciência”, diz Sara com um sorriso.

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Melhor empresa pequena

A empresa tem cerca de cento e vinte trabalhadores e Sara salienta que essa proximidade entre departamentos e colegas lhe permite receber notícias dos ensaios clínicos em pacientes e compreender, no terreno, como o seu trabalho pode ser útil para a vida das pessoas. Destaca que é importante para si ter esta utilidade social através do seu trabalho ainda que o acesso esteja mais disponível numa empresa pequena: “consegues ter mais noção do impacto que o teu trabalho tem”, do que num gigante da indústria farmacêutica como a Novartis, empresa onde trabalhou anteriormente, onde os investigadores estão mais distantes dessa realidade no terreno.

A investigadora reconhece que há muitas oportunidades na indústria farmacêutica no país helvético, particularmente por não fecharem as portas a quem não possui doutoramento. Na percepção de Sara, em Portugal ainda é determinante ser portador de um doutoramento e realça também que, em termos profissionais, a progressão ainda é limitada porque o tecido empresarial é reduzido.

Para a investigadora, trabalhar na indústria pode provocar um afunilamento das funções que o trabalhador exerce e corre-se o risco de se ficar limitado no conhecimento associado a outros processos científicos e tecnológicos. Por isso, Sara gostaria de ter um leque alargado de experiências em diversas áreas e empresas e assume que a Suíça é o local certo para isso, porque a indústria é pujante e procuram regularmente pessoas para áreas científicas recém-criadas. Por outro lado, é necessário estar disponível para as oportunidades e ter alguma mobilidade geográfica.

Idioma como barreira

Mesmo num local de trabalho onde a maioria dos colaboradores é oriunda de países onde o alemão é língua oficial – Suíça, Áustria, Alemanha –, a língua de trabalho é o inglês. Sara reconhece que em termos profissionais isso lhe facilita a integração, mas o facto de não falar fluentemente distancia-a da população em termos sociais. Por esse motivo, quando pretende fazer alguma atividade social ou cultural onde seja necessário o diálogo, a língua acaba por ser um travão.

O entusiasmo inicial de ir viver sozinha num país estrangeiro dissipou a dificuldade em se adaptar à vida quotidiana tanto em Basel como em Zurique. No entanto, reconhece que os primeiros meses até criar a sua rede de relações lhe custaram um pouco. Essas amizades surgiram através do namorado e através de pessoas que conheceu na universidade, aumentando consideravelmente a sua rede de amigos. Mesmo não se sentido totalmente inserida nos hábitos suíços, apaixonou-se pelo esqui e pelas caminhadas nas montanhas. Recorda que aquilo que mais a fascinou foi ver a neve cair, “é mesmo fascinante estares a trabalhar e veres nevar lá fora. Pareces uma criança fascinada”, sorri.

Saudades de Portugal

Ainda que a adaptação à língua alemã seja uma dificuldade, Sara procura não se limitar aos amigos portugueses. Reconhece que as associações portuguesas na Suíça têm um papel importante, mas o facto de serem imigrantes e falarem português não deve ser o único fator de união entre essas pessoas. Confidencia-nos que aquilo que não consegue abdicar de ter em casa são alguns produtos portugueses, como o azeite, e que procura estabelecimentos onde possa comer “um pastel de nata para matar as saudades”.

A falta que sente da família fá-la-ia regressar a Portugal se recebesse uma proposta de trabalho interessante, mesmo reconhecendo que as oportunidades na Suíça são melhores assim como a qualidade de vida que o país oferece. Por isso, a sua vida passará pelo país helvético mesmo que, no fundo, no seu pensamento esteja um regresso a Portugal.  

Você decidiu emigrar e veio para a Suíça? Como foi a experiência de se integrar no país? Contem-nos sua história.

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