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Das montanhas portuguesas para as montanhas suíças

Filipe Carvalho fotografa uma paisagem.
Ivo Lopes gosta de fotografar quando está viajando através da Suíça. swissinfo.ch

Ivo Lopes chegou em setembro de 2015 à Suíça, após a sua companheira ter encontrado lugar como enfermeira na região de Lausanne. A busca de emprego não foi simples principalmente porque não falava a língua e era sempre eliminado por isso. Por fim, encontrou o seu lugar como engenheiro de telecomunicações e informático numa empresa de telecomunicações em Lausanne.

Ao fim de cerca de um ano a trabalhar, e quase dois anos a viver na Ville de Morges, Ivo Lopes partilhou com a swissinfo.ch esta sua experiência suíça e os seus projetos futuros.

Ivo Lopes nasceu e viveu na Covilhã, próximo da Serra da Estrela. Na sua cidade natal, frequentou a Universidade da Beira Interior e licenciou-se em Engenharia Informática. Fez o seu mestrado fez na área de redes multimédia. Na tese de licenciatura desenvolveu um programa para detectar quedas e poder fazer assistência remota às pessoas idosas. A sua tese de mestrado consistiu em criar uma aplicação para android onde se poderia colocar o peso e a altura. O programa calculava o índice de massa corporal, aconselhando uma dieta mais equilibrada nos casos de excesso de peso. Essa aplicação pode ser adquirida no Google Play. “O meu percurso foi essencialmente: aplicações móveis, viradas para a saúde”, conta-nos.

Durante cerca de três anos, Ivo manteve a sua ligação à academia pela via da investigação. O grupo que integrou na universidade intitulava-se NETGNA, Next Generation Networks and Applications Group. Nesse período, esteve sempre envolvido em projetos com diversas universidades em Portugal e empresas como Sapo, Microsoft ou Siemens. No último ano em que foi bolseiro, participou num projeto pioneiro no território português de ajuda a idosos, intutitulado Ambient Assisted Living for All.

Graças à instabilidade que os bolseiros sofrem, decidiu abandonar a investigação e rumar a Lisboa para ser android developer numa startup que se dedicava à área de eventos, e permaneceu um ano nessa empresa. Nesse momento, a sua companheira encontrou um lugar de enfermeira na região de Lausanne. Por isso, Ivo decidiu aproveitar a oportunidade e rumar com ela para a Confederação Helvética.

Os meses sem trabalho

Quando aterrou na Suíça, não pensou que pudesse estar diversos meses sem encontrar um emprego na sua área. Cedo compreendeu que a língua era um fator decisivo para os empregadores não o contratarem. Para além disso, habitualmente as empresas não valorizavam a sua experiência de investigação na academia, ficando apenas restrito a um ano de experiência profissional e às aplicações que tinha criado e conseguido disponibilizar para venda online.

Durante esses meses de busca ativa de emprego, inscreveu-se numa escola de ensino de francês e começou a sentir-se mais bem preparado para enfrentar as entrevistas. Ao longo desse período, Ivo não abandonou os seus projetos pessoais relacionados com as aplicações para smartphone.

A admissão na empresa

Após várias entrevistas sem sucesso, Ivo Lopes fez uma abordagem através de correio eletrônico e teve duas entrevistas pessoais na Amodus. O processo de seleção foi mais rápido do que esperava. No final do processo de seleção, alcançou o lugar de engenheiro informático e de engenheiro de telecomunicações, dividindo-se um pouco nesta fase por essas duas posições.

O seu trabalho

A empresa dedica-se à implementação de antenas de telecomunicações para vários operadores. A Amodus efetua todo o processo, desde a construção, implementação, cálculo, desenho de antenas, entre outras áreas. Na empresa trabalham cerca de oitenta pessoas de diversas nacionalidades. No departamento de informática trabalham duas pessoas e no de engenharia seis.

As funções de Ivo no departamento de telecomunicações consistem maioritariamente em efetuar cálculos das emissões de cada antena, que tem de cumprir o regulamento entregue pelo estado federal. Cada antena instalada na Suíça emite um máximo de cinco volts enquanto nos países da União Europeia podem chegar até ao cinquenta.

Quando um operador deseja implementar uma nova antena necessita de uma licença de construção. A antena pode ser colocada num terreno ou num prédio e depois “é feita uma visita ao local, em que nós medimos os nossos pontos e a equipa de design tira notas para desenhar a antena para aquele local”. Este processo demora cerca de seis meses e a validação pela operadora e pelas autoridades cantonais demora mais cerca de dois ou três meses. Após esta fase segue-se a construção e a implementação, “Sensivelmente demora entre um a dois anos. É um longo processo”, desabafa.

No departamento de informática, Ivo Lopes tem estado a desenvolver “uma aplicação que nos ajuda a tirar as notas dos pontos que queremos e faça logo os cálculos necessários, as fotografias, tudo junto”. Neste momento, a forma de armazenamento ainda assenta em tabelas de Excel com “dois a três mil linhas com informação e muitas colunas. É assim que tem funcionado, mas isso tem de mudar”, sorri.

As rotinas e hobbies

Para si, enquanto informático, está habituado a ter horários tardios. Por isso, ter de começar a trabalhar às oito horas da manhã foi algo que lhe custou a adaptar-se. No final do dia, sabe que se necessitar de ir ao supermercado, terá de sair do trabalho diretamente para lá porque corre o risco de apanhá-lo fechado, quando estava habituado “a ir depois do jantar fazer compras”.

No entanto, costuma jogar futsal com os seus colegas de trabalho, e por vezes, encontram-se para almoçar ao fim de semana. Para Ivo, a fotografia é uma forma de registar momentos e de ter um motivo para passear. Conta-nos que a fotografia mais bonita que tem na Suíça foi na região de Montreux, “subimos num comboio elétrico e ficámos por cima das nuvens. Ficaram muito bonitas essas fotografias”.

Ivo Lopes
Para Ivo, a fotografia é uma forma de registar momentos e de ter um motivo para passear. swissinfo.ch

Ivo Lopes e a sua companheira procuram viajar um pouco pela Suíça. Na sua opinião, a região italiana foi aquela que mais lhe agradou, “o café é melhor. E o café é importante”, sorri. Assume que, para além do café, os hábitos de socialização lhe recordam Portugal e, por isso, contribui para a sua preferência.

A vida: os prós e contras suíços

O facto de lhe terem proposto um contrato sem termo e um salário que lhe permite fazer planos para a sua vida no médio-prazo é algo que lhe transmite conforto e estabilidade na Suíça. Conta que alguns colegas seus não conseguem ter salários e estabilidade profissional em Portugal que lhes permita fazer planos. “Na Suíça, tens o ordenado e rapidamente consegues construir uma vida. Consegues ter uma casa, um carro, consegues viajar e poupar algum dinheiro. Essa parte é interessante, sem dúvida”.

Por outro lado, os contras que encontrou também influenciam a vida quotidiana. “A vida aqui acaba muito cedo. Há muitas regras. Mesmo o trânsito torna-se um pouco estressante, em Portugal pode-se andar um pouco mais rápido”. A facilidade com que se denuncia vizinhos por barulho ou algo semelhante também lhe causou estranheza. Ivo confidencia-nos que sente falta de ver crianças, idosos, todo o tipo de pessoas, nas ruas até tarde como pode acontecer nos países mediterrânicos.

A Suíça com Portugal no horizonte

Nos próximos anos, Ivo Lopes pretende continuar na Suíça para evoluir profissionalmente e organizar a sua vida antes de regressar a Portugal. O grande objetivo seguinte que tem, passa por aumentar a família. Assume que gostaria que as crianças fizessem o ensino em Portugal, mas é um plano em aberto. Apesar de ter vontade de regressar a Portugal, não pretende regressar para a Covilhã sem nenhum emprego estável no horizonte.

Neste momento, a sua vida é no país helvético e sente-se realizado. No futuro será Portugal. Contudo, não procura viver apenas esse sonho de regressar sem aproveitar o tempo que irá passar na Suíça.

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