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A raiz e o orgulho helvético no Rio Grande do Sul

Suíços do Rio Grande do Sul swissinfo.ch

Com uma alegre e calorosa racletteessen a reportagem da swissInfo.ch foi recepcionada em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, na última semana de abril.

O motivo: conhecer um pouco da Associação Valesana do Brasil (AVB) e da Sociedade Filantrópica Suíça do Rio Grande do Sul.

A primeira, completa duas décadas em junho próximo e está prestes a adentrar o mundo digital. A co-irmã, com mais de 80 anos de história, vive, em contrapartida, a busca por reestruturação para se manter na ativa.

A entrevista acontece em uma residência do bairro Cidade Baixa, o mais cultural e boêmio da cidade. Os donos da casa, Lineo e Doroti Chemello, não medem sorrisos e são anfitriões orgulhosos da herança helvética. 

Ele é ex-presidente da AVB. A esposa, atual secretária da entidade. Junto de ambos nos aguardam Maria Elisa Neis, presidente da AVB, Loni Edith Sassen de Araújo, presidente da Sociedade Filantrópica Suíça do RS, e Gernot Haeberlin, cônsul honorário da helvécia em terras gaúchas.

Sotaque suíço-francês na pampa gaúcha

Fundada em 7 de junho de 1992, a Associação Valesana do Brasil foi criada logo após um grupo de gaúchos-suíços visitar por 13 dias o país de Guilherme Tell, quando das comemorações dos 700 anos de fundação da Confederação Helvética. “Nos sentimos prestigiados na visita, repassamos e recebemos informações sobre nossos ancestrais e decidimos levantar a bandeira suíça em terras gaúchas”, conta Lineo.

Comemorando duas décadas em 6 de junho próximo, a AVB prepara uma grande comemoração que se estenderá por três dias de novembro próximo. O local escolhido é o município de Carlos Barbosa, de pouco mais de 25 mil habitantes e sede da entidade, na serra gaúcha.

A região foi berço, em 1875, do desembarque das primeiras famílias suíças vindas do Cantão de Valais e que tinham como destino a chamada Colônia Santa Maria da Soledade, hoje Carlos Barbosa. “O que vale frisar é a grande integração e interação que houve com os italianos e alemães”, assinala Lineo, um estudioso da história suíça no Rio Grande, assinalando que as etnias, literalmente, desbravaram as encostas e vales serranos, no que é hoje considerada a região mais pujante do RS.

Além da sede de Carlos Barbosa, a AVB está distribuída em outras duas coordenações: Caxias do Sul e Porto Alegre. Em todas, cerca de 130 filiados mantém vivos os costumes e a cultura helvética. Para elevar o nome da terra natal e fortalecer a relação dos descendentes suíços com as comunidades onde a Associação está inserida, Maria Elisa Neis conta que a entidade prepara para o próximo mês o lançamento de um site. “A ideia é que o portal conte a história suíça no Rio Grande do Sul e sirva de ponto de agregamento dos suíços que vivem em todo o Brasil”, assinala ela.

Em paralelo ao portal, e também como de enraizar ainda mais a história suíça na região, e sob uma forma mais pedagógica, estão sendo preparadas palestras para a rede pública de ensino de Carlos Barbosa, com apoio da Prefeitura local. “Pretendemos contar e falar do país de onde viemos e quem são os descendentes de hoje e de ontem”, relata a presidente da AVB, ao pontuar que o projeto deverá ser estendido à Caxias do Sul.

A expectativa que povoa o imaginário dos gaúchos-suíços é da chegada da representação helvética para os festejos que ocorrerão em novembro. Até o final deste mês a delegação que virá de Valais deve confirmar quem e quantos irão ao Rio Grande do Sul. “Esperamos com carinho por nossos irmãos e vamos recebê-los com entusiasmo”, assegura Maria Elisa. 

O desafio da reestruturação

Situada em um endereço nobre da capital gaúcha, no bairro Moinhos de Vento, a Sociedade Filantrópica Suíça no Rio Grande do Sul (SFS) foi criada no ano de 1928. Com 84 anos de história, vive há mais de uma década um ostracismo que nem de longe faz lembrar os tempos onde recursos arrecadados em eventos como chás e festas tinham por finalidade entidades beneficentes e assistenciais.

O momento de transição é, em parte, explicado pelo cônsul honorário da Suíça no RS, Gernot Haeberlin.  “A verdade é que envelhecemos enquanto associação, não conseguimos atrair mais os jovens e pagamos o preço de algumas administrações mal sucedidas”, assinala com transparência. Também secretário do Conselho Deliberativo da SFS, pondera que todas as sociedades de característica similar no Rio Grande do Sul passam por dificuldades de ordem financeira,  estrutural e de quadro social.

Presidente da Sociedade Filantrópica, Loni Edith Sassen de Araújo observa que em diferentes momentos dos últimos anos houve vontade de renovar a diretoria e garimpar “novos talentos”. Porém, o quadro manteve-se inalterado, com os integrantes mudando apenas de cargo, sem uma renovação mais consistente. “Tínhamos um clube de bolão, um restaurante e fazíamos festas e confraternizações. Hoje isso não atrai mais a juventude, precisamos reciclar nossa ação e nosso grupo”, reflete ela.

Alternativa para fugir ao risco do desaparecimento SFS pode residir numa prática comum aos conglomerados privados: as fusões e aquisições, mas sob outro prisma. “Trouxemos os valesanos para integrar a Sociedade e isso nos deu fôlego, nos renovou e motivou, pois também passamos a fazer parte da AVB. Talvez devamos seguir esse caminho nos associando a outras instituições, oferecendo nosso espaço e também usufruindo de outros”, sugestiona Haeberlin.

Até então acompanhando atenta a conversa, a sorridente e espirituosa Doroti Chemello acredita numa resolução coletiva para a questão. “Somos todos suíços, sem diferença desta ou daquela entidade. Por isso, podemos construir alternativas juntos. Talvez seja este o nosso maior desafio”, acredita Doroti.

É nesse clima de esperança e de unidade que a entrevista chega ao fim, com a reportagem a swissInfo.ch sendo convidada para as batatas assadas, queijos, bifes e saladas da racletteessen. Na comunhão da mesa, dos alimentos e do riso enxergoamos a irmandade e o orgulho dos descendentes suíços com sua história no Rio Grande do Sul. Orgulho que visibiliza também na bandeira e no mapa helvético que adornam a sala dos Chemello, em perfeita harmonia com o verde-amarelo da bandeira brasileira.

A colônia suíça no Rio Grande do Sul teve duas fases: a primeira em 1855, de colonos suíço-alemães provenientes da região de Berna. Depois, na segunda leva, em 1875. Ambas nas proximidades do município de Carlos Barbosa, na chamada Colônia Santa Maria da Soledade.

Na segunda fase, os colonos suíços de fala francesa vieram com apoio e coordenação do governo, e como eram em número reduzido, cerca de quarenta famílias oriundas do Cantão de Valais (valesanas), eram confundidas com outras etnias, em especial a francesa.

Absorvidas pelos grupos maiores, como os italianos, seus descendentes, em torno de 5 mil, apresentaram um fenômeno de dispersão comum entre os imigrantes, deixando a colônia inicial nas proximidades de Carlos Barbosa para levarem seus costumes também para as cidades de Farroupilha, São Vendelino, Garibaldi e Caxias do Sul. Com marcante espírito coletivo organizavam-se em mutirões para a construção de escolas, capelas e igrejas.

Bays, Bondan, Bruchez, Cottet, Denicol, Dupont, Gedoz, Reuse, Roduit, Sauthier, Vuadens, Burnier, Comby, Cornut, Coppex, Dagand, Delavy, Erpen, Genin, Guex, Joris, Lahne, Lazard, Levet, Mermoud, Michaud, Pignat, Primmaz, Rard, Sauthier, Thomas, Tornay, Vallet , Volluz, Volken.

Associação Valesana do Brasil

Porto Alegre

Rua General Lima e Silva, 1.382 – bairro Cidade Baixa
CEP. 90050-102 Porto Alegre – RS
Telefone: +55 (51) 3221-8740
e-mail: chemello@portoweb.com.br

Associação Filantrópica Suíça do Rio Grande do Sul

 

Rua Joaquim Caetano da Silva, 55 – bairro Moinhos de Vento

CEP. 90570-130 Porto Alegre – RS

Telefone: +55 (51) 3340-8379

Carlos Barbosa

 

Prefeitura Municipal – Rua Assis Brasil, 11 – Centro

CEP 95185-000 Rio Grande do Sul/BRASIL

Fone: +55 (54) 3461-8800 e-mail: prefeitura@carlosbarbosa.rs.gov.br

Livro

Os Suíço-Valesanos no Rio Grande do Sul: 125 anos, de Adonis Valdir Fauth , organizador. 2005. Edição: AVB

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