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Suíça à primeira vista

Sandra Kaufmann, Designer, Strada del Sole swissinfo.ch

A visão suíça do mercado internacional de óculos foi mostrada por onze empresas do país presentes na maior feira mundial do setor, a Mido de Milão.

A importância da indústria helvética ganha visibilidade através de uma gama de novidades em lançamento.

A Suíça é um dos países que praticamente domina toda a cadeia produtiva dos óculos, dos aparelhos de exame de vista ao design e aos equipamentos  de fabricação das lentes e das armações, passando por produtos químicos de limpeza e complexas operações de logística e de distribuição. “Mesmo sendo um mercado pequeno, o país tem ilhas de excelência como a produção de lentes e a criação de estilos”, disse para a swissinfo, Vittorio Tabacchi, presidente da Federação Europeia da Indústria da Ótica.

Por trás do par de um óculos esconde-se um mundo de tecnologia e de pesquisa. Durante a Mido, o visitante podia visitar e ver de perto todo o processo de criação de uma lente de contato e de uma armação. Complexas máquinas robotizadas substituem as mãos dos homens, em boa parte do processo. Mas tudo começa com um exame de vista. E se depender de um dos aparelhos da pioneira suíça Haag-Streit AG, presente na Mido, o diagnóstico vai ser claro e sob a luz de LEDs.

Ver os equipamentos oftálmicos e as máquinas industriais em ação é impressionante pelo nível de precisão e sofisticação. Ao final, são eles os responsáveis pela alta qualidade. “O consumidor quer produtos com detalhes interessantes e de grande qualidade, mais ou menos como um relógio suíço”, diz à swissinfo.ch, Sandra Kaufamann, designer da grife Strada del Sole, de Zurique

Técnicos e designers andam juntos e olham na mesma direção. O estilo dita as regras de mercado e, curiosamente, vice-versa: existe a cobrança dos clientes por materiais de maior leveza, muita resistência, além de um desenho criativo e original. Para encontrar espaço num mercado tão disputado e globalizado, é necessario queimar as pestanas em projetos insólitos.

Lentes de aumento

O segredo é estar atento aos anseios do mercado. Sandra Kaufamann desenvolveu uma linha capaz de fazer frente à distração mais comum do usuário: o esquecimento do par de óculos no bolso da calça e que acaba  sentando em cima. “Criamos uma armação flexível, assim, os óculos não quebram”, diz ela.

Por caminhos semelhantes trilha o suíço Svev Götti, da homônima grife. Ele colocou uma lente de aumento no mercado e identificou o desejo universal  de quem usa óculos de poder guardá-lo sem maiores problemas. O designer desenvolveu uma haste curvílinea capaz de alterar de forma ao ser fechada.

Com um giro sobre o próprio eixo a haste se torna paralela ao desenho da armação. Assim, o conjunto em “repouso” ocupa menos volume e espaço. “ Desde o começo usamos o titânio como material. Mas todos os anos tentamos fazer óculos melhores, mais bonitos, que fiquem bem no rosto, não é apenas uma questão de moda”, disse ele à swissinfo.ch.

Já a marca suíça Colani foi buscar na terra do sol nascente o design de vanguarda, assim como a produção de armações para óculos de vista e lentes para os de sol. Além das própria grife, ela representa o engenheiro nipônico Ken Okuyama, ex-diretor de design da Pininfarina, que desenhou uma linha de óculos para a casa suíça.

 Ela é totalmente produzida no Japão. Algumas peças são em blocos inteiros de alumínio, outras em fibra de carbono e titânio, materiais leves, resistentes e ecléticos. Não importa qual das três a matéria-prima seja escolhida, a ousadia e a agressividade dos desenhos estão presentes em cada centímetro quadrado dos óculos e em cada grama.

Os pequenos detalhes fazem a diferença numa guerra pelo mercado e pela fidelidade à marca. “Sentimos muito pouco a crise. Os nossos clientes são fiéis e compram os nossos produtos. Percebemos sim, uma diferença grande de preços entres os diferentes mercados. Esperamos que eles se regularizem”, disse à swissinfo.ch, Sven Götti.

Moda

Mas quanto custa um par de óculos? Com tanta tecnologia e uma ampla gama de materiais de primeira qualidade, eles podem valer “os olhos da cara”. Em muitos casos, os óculos são comprados como se fossem uma jóia.

O casamento entre os óculos e a moda acrescenta valor ao produto final. A fabricante italiana de roupas de “cachemere”, Loro Piana, lançou um par de óculos de sol ao custo de 800 euros. A guerra das marcas não poupa esforços para desenvolver as lentes mais finas (até dois milímetros de espessura, 1,8mm em caso extremo). E nesta área, a indústria suíça de nanotecnologia ganha grande importância, com muita inovação.

O mercado exige ainda lentes mais polarizadas, mais fotocromáticas, em armações mais sofisticadas com penduricalhos que elevam os custos , com diamantes e cristais incrustrados nas hastes, como um par da suíça Chopard, cravejado de pérolas.

No campo do design, a Itália segue imbatível. O país anfitrião da Mido é responsável por 80% da fabricação das marcas de grife. Mas, a sombra da ilegalidade ofusca o sucesso dos produtos genuínos. A proporção do mercado falso é grande. E para não fazer vista grossa sobre o problema, a Mido abriu um balcão para denúncias de contrabando e clonagem dos produtos.

Se por um lado a falsificação aumenta a visibilidade do produto, por outro, arranha a imagem da marca. No compasso do mercado, a indústria do falso segue à risca a moda do momento, naturalmente lançada na Itália.

O país é uma espécie de guru da tendência. A produção italiana abastece o mercado com óculos usados pela geração da década de 60. A forma pode ser “vintage”, mas as cores são vivas, diferentes das do passado. Eis a reinterpretação de desenhos clássicos que ganham ar de moderno.

Ecologia

O risco de uma pessoa se tornar uma vítima da moda é sempre grande. O melhor consultor é o bom senso e, claro, o espelho. E se a moda aponta para os óculos redondos – como aqueles usados por John Lennon e, mais atrás ainda, por Camillo Benso, o conde de Cavour, personagem da história italiana – é bom, olhar para si próprio.

”Temos uma tendência ao burlesco, às formas cônicas meio de gato,  detalhes ricos em cristal, lentes maiores e coloridas. Mas é preciso estar atento à própria forma do rosto para não exagerar”, alerta Silvia Paoli, consultora de moda que pisca os olhos para um belo par de óculos com armação e acabamento de madeira.

Ou seja, ver nos óculos um exercício de saudável demonstração de personalidade é um ato de inteligência. Mas, cuidado, as aparências enganam. E, por por trás de um par de óculos de intelectual pode estar alguém incapaz de se comunicar bem. Melhor se, pelo menos, a armação for ecológicamente sustentável.

 “O material deve ser eco-compatível, orgânico, até mesmo de papel reciclado, madeira de origem controlada. As lentes não devem esconder o olhar, devem dar um aspecto natural”, afirma Silvia Paoli. E no campo do respeito ao meio ambiente, a Suíça está bem representada. A empresa EMS lançou uma armação criada a partir do óleo de mamona. O par de óculos “biodegradável” está apenas no começo.

A aventura de conquistar novos gostos e mercados vai premiar quem conseguir enxergar mais longe.  E todo o cuidado é pouco: os óculos viraram um cartão de visitas à primeira vista.

A Suíça  é  o país líder em inovação, segundo relatório da União Europeia. O depósito de brevês é o ponto forte nesta alvaliação.

A Mido contou com a presença de 1.100 expositores de 44 países.

Os visitantes somaram 42 mil, um aumento da ordem de 5%,  com relação ao ano passado.

A Itália detém 80% da produção das grifes mundiais.

Uma pesquisa da Brand Value apurou que entre 6 mil consumidores de marcas nos Estados Unidos, Japão, Itália, França, China e Rússia, o valor médio para a compra de um par de óculos vai de 78 a 318 euros.

Os mercados que mais crescem são os da América Central, da América do Sul e da Ásia.

Segundo os fabricantes, 90% dos casos de catarata nos adultos poderiam ser diminuídos se eles tivessem usados óculos de sol desde criança.

Milão

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