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Suíça comemora 200 anos de Guilherme Tell

O "Rütli" visto de cima mostra o lago de Vierwaldstaettersee e o lugar onde nasceu a Suíça. Keystone

Em 1° de agosto, os suíços festejam seu dia nacional. Um dos símbolos do país, Guilherme Tell também é motivo de comemoração: o bicentenário da primeira encenação da peça do poeta alemão Friedrich Schiller.

O personagem mítico provavelmente nunca existiu, mas incorpora como ninguém o espírito do país dos Alpes.

Na faixa de terra coberta de grama e cercada de árvores, onde ovelhas e vacas pastam tranqüilamente, uma bandeira vermelha com a cruz branca no meio dança ao sabor do vento. Esse local sagrado, chamado de “Rütli”, é o berço da Suíça.

Localizado às margens do lago de Vierwaldstättersee, no cantão de Uri, esse é o campo onde os três representantes dos cantões históricos – Walter Fürst (do cantão de Uri), Werner Stauffacher (do cantão de Schwyz) e Arnold von Melchtal (do cantão de Unterwalden) – juraram amizade e proteção recíproca em 1o de agosto de 1291.

A partir dessa data surgia a confederação eterna dos chamados “Estados da Floresta”, o núcleo original de onde se desenvolveria o que viria séculos mais tarde ser mais tarde a Suíça moderna.

História e lenda

A história da Suíça também está intimamente ligada a Guilherme Tell. Esse personagem mítico foi popularizado através da peça escrita pelo poeta alemão Friedrich Schiller, cuja encenação ocorreu pela primeira vez em 1804 em Weimar, na Alemanha.

Se ninguém pode provar sua existência histórica, pelo menos a lenda do herói suíço continua a fascinar milhares de pessoas no mundo.

Ela conta que Guilherme Tell nasceu em Bürglen, um pequeno povoado no cantão de Uri. Ele era um exímio caçador, um bom chefe de família e também um excelente atirador.

Em 18 de novembro de 1307 Guilherme Tell visitava o vilarejo de Altdorf, quando ele atravessou a praça do mercado público sem dar atenção a um chapéu que estava pregado no alto de um poste.

O estranho objeto havia sido colocado no mastro pelo prefeito Gessler, um representante autoritário do império austríaco dos Habsburgos nessa região de montanhas e camponeses. Todos os passantes eram obrigados a reverenciá-lo, sob pena de morte ou confisco de propriedades.

Maçã na cabeça

A desobediência de Guilherme Tell foi descoberta pelas autoridades e ele terminou sendo preso. No dia seguinte, o herói seria punido em praça pública. Porém Gessler decidiu poupar a vida de Tell, se este conseguisse atirar uma flecha na maçã colocada sobre a cabeça do próprio filho.

Guilherme Tell conseguiu perfurá-la, graças às suas habilidades. Porém os guardas acabam descobrindo que a manga da sua camisa escondia uma outra flecha. Ela seria utilizada para matar Gessler, caso tivesse ocorrido um acidente durante a prova.

Condenado, Tell foi conduzido a um navio, que o levaria para a prisão no exílio. Porém uma forte tempestade obrigou a tripulação a libertá-lo para que ele, um exímio timoneiro, pudesse ajudar a salvar o barco. Ao se aproximar da costa, o guerreiro suíço pulou na margem e saiu correndo pela floresta.

No terceiro dia, Guilherme Tell reapareceu na estrada que une o Gotthard a Zurique. Nesse momento passava o prefeito Gessler. Tell decidiu vingar-se e, escondido atrás de uma árvore, atirou uma flecha contra o tirano, o assassinando.

Assim termina a lenda de Tell. A história da luta dos confederados pela independência continua nos séculos posteriores.

Pesquisas nos arquivos

Até hoje o maior desafio dos historiadores é descobrir se Guilherme Tell realmente existiu ou se ele foi apenas uma lenda.

Nesse sentido, pesquisadores de vários países continuam estudando incansavelmente arquivos como os de Viena, onde estão documentados os relatos sobre o império dos Habsburgos, e também os registros nas igrejas dos vilarejos de montanha na parte central da Suíça.

O esforço foi até agora em vão. Nada foi encontrado. Se esse herói existiu, é possível até que ele tenha tido um outro nome. Essa hipótese é considerada plausível, sobretudo levando-se em consideração a distância histórica e ao analfabetismo generalizado da época.

Em 1300 existia realmente uma família nobre chamada “vom Thal”. Porém seu chefe chamava-se “Conrad” e não “Guilherme” e pagava pontualmente os impostos para o poder local. Por isso, são grandes as dúvidas do seu parentesco com o herói nacional suíço.

A discussão em si não é importante. Se Guilherme Tell é apenas um mito, este simboliza para o povo suíço seu arraigado apego à liberdade e sua recusa de se subjugar a poderes externos.

200 anos da encenação de Tell

Para comemorar o bicentenário da encenação da peça sobre Guilherme Tell escrita por Friedrich Schiller, os atores do Teatro Nacional Alemão de Weimar prepararam uma apresentação especial da obra na Suíça.

Na última sexta-feira (23.07), mais de 2.500 espectadores estiveram presentes no gramado do Rütli, onde foi encenada a peça ao ar-livre. Até 29 de agosto ela pode ser assistida no local. Os ingressos custam 118 francos suíços, ou 93 dólares.

swissinfo, Daniele Papacella e Alexander Thoele

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