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Suíça faz bonito na Semana Verde de Berlim

Rita Barth é fazendeira e promove seus produtos na feira. swissinfo.ch

Uma das maiores feiras de agropecuária, horticultura e alimentação do mundo, a Grüne Woche ("Semana Verde" em português), abriu suas portas ao público no último dia 18, na capital alemã Berlim, com uma marcante presença da Suíça.

O país helvético é este ano nação-parceira da feira e expõe pela primeira vez produtos de todos os seus 26 cantões.

Além dos queijos e chocolates cuja qualidade já conquistou renome no mundo inteiro, o estande suíço surpreende com outros produtos lácteos, carnes, massas e alguns pratos e bebidas típicas: vinhos de Vaud, Tessin e Valais; absinto de Neuchâtel; carnes defumadas de Berna e Argóvia; iogurtes de Lucerna… A lista se estende a uma centena de produtos e saborosas opções em comes e bebes, para o deleite dos visitantes. Sob o lema “Grüezi Berlin”, aliás, a Suíça não apenas reitera a importância da confiança e da qualidade na alimentação, como também aproveita para mostrar a quantas andam sua agricultura e pecuária, como lida com suas florestas e recursos naturais e de que maneira fomenta seu desenvolvimento agrário.

“Com a qualidade como estratégia, nosso objetivo é manter ou até mesmo ampliar o já alto índice de consumo interno de alimentos nacionais, assim como angariar boa reputação para as especialidades e os alimentos elaborados da Suíça no mercado internacional”, resumiu o representante federal das diretorias cantonais ligadas à agricultura Lorenz Koller, durante coletiva de imprensa realizada no próprio estande suíço.

Cenário rural é restrito, porém privilegiado

A tarefa não é tão fácil quanto parece. “Nossas estruturas são pequenas, nosso terreno é em parte acidentado, temos um alto nível salarial e rígidas condições para o manuseio de animais e da natureza. Além disso, a agricultura suíça sente-se cada vez mais pressionada devido à crescente abertura do mercado agrário dentro da Organização Mundial do Comércio”, afirmou Koller, “Isso tudo atua de forma negativa para a Suíça no que diz respeito à concorrência global”.

De fato, menos de 4% da população suíça trabalha no campo, menos de ¼ do território nacional é usado para a agricultura e os produtos agrícolas representam uma parcela ínfima na balança comercial do país – sem falar dos altos preços da Suíça, um dos países mais caros do mundo, onde os alimentos custam em média 30% a mais do que no restante da Europa, por exemplo.

Ainda assim, a agricultura local atende cerca de 60% da demanda por alimentos na Suíça e conquista, sobretudo na Alemanha, cada vez mais consumidores preocupados com uma alimentação saudável. E isso não é nada irrisório.

“Com 459 milhões de pessoas, a União Européia é o mercado mais interessante para as especialidades alimentares da Suíça”, disse Hansjörg Walter, o presidente da Associação Suíça de Agricultores durante a Grüne Woche, enfatizando que os europeus – especialmente os alemães – representam uma camada consumidora que ganha bem, dá valor para qualidade e não se importa com o preço do produto em primeiro lugar.

Custe o que custar

A ministra Doris Leuthard, membro do Conselho Federal Suíço e responsável pelas pastas do governo ligadas à Economia, esteve em Berlim para inaugurar o estande do país na feira e reforçou a mensagem: os suíços não devem jamais abrir mão da qualidade em nome da quantidade. Ela defendeu processos limpos no campo e lembrou que a segurança sobre a origem dos alimentos, bem como a certeza de uma produção e elaboração com alta qualidade, são fundamentos básicos para conquistar – para sempre – a confiança do consumidor.

“A política agrária do governo suíço intensificou, nos últimos anos, a competência e o poder do país no mercado mundial da agricultura e alimentação. No verão passado, o Parlamento votou os rumos da política agrária para o período de 2008 a 2011 e deferiu um crédito no valor de 13,65 bilhões de francos suíços a fim de garantir um desenvolvimento ecológico e sustentável da agricultura”, salientou a ministra.

Ela esclareceu: “Temos que assegurar a nossos agricultores o acesso aos mercados, reconhecendo quais deles apresentam chances reais para nós. No momento, a União Européia nos oferece as melhores possibilidades. Mas nós não queremos esperar até que tenhamos que abrir nossas fronteiras. Queremos estabelecer de modo ativo um amplo comércio livre nos setores agrícola e alimentar da UE.”

E assim está sendo. Desde a metade de 2007, por exemplo, o mercado de queijos está 100% liberalizado dentro do bloco. Também para outros produtos suíços, como o vinho, as barreiras alfandegárias estão caindo. Uma vantagem para a agricultura helvética, afinal cada vez mais consumidores europeus exigem produtos qualitativos e biológicos, que venham de processos transparentes e seguros. “São atributos que os alimentos suíços já oferecem hoje”, acrescentou Leuthard, “Por isso vejo a quebra de barreiras junto à UE como um grande potencial para nossos agricultores e para nossos alimentos”.

Consciência e orgulho quando o assunto é qualidade

O clima confiante no diferencial do setor agrícola da Suíça não se restringe somente à esfera política, como também foi retratado pelos próprios agricultores do país. Pelo menos durante a Grüne Woche na capital alemã.

“Na Suíça acabam entrando muitos produtos baratos através da União Européia, contudo os consumidores não sabem dizer com certeza de onde eles vêm, de que forma foram cuidados e tratados até chegarem às prateleiras dos mercados”, falou o monge Karl Balbinot enquanto trabalhava com um pequeno instrumento denominado girolle sobre um autêntico “Tetê de Moine”, o lendário queijo da região de Bellelay na fronteira entre Berna e Jura. “Essa incerteza não ocorre com a imensa maioria dos produtos suíços. Somos mais caros, mas também somos especiais”, concluiu Balbinot oferecendo para a degustação do público as finas fatias em formato de flor feitas com o queijo.

Já a agricultora Rita Barth, que administra uma pequena fazenda produtora de leite, frutas e cereais em Mülligen na Argóvia, veio a Berlim como representante da associação suíça “Férias no Sítio” a fim de divulgar o chamado agroturismo e está, conforme suas palavras, muito feliz em poder trabalhar na zona rural da Suíça. “Há 20 anos, mais de 250 chácaras hospedam pessoas de férias ou à procura de lazer e descanso em nosso país. O campo é o melhor lugar para vivenciar de forma singular a natureza, os animais e a mudança das estações, além de ser ideal para se constatar de perto a forma com que lidamos com os plantios e com os bichos”, explicou Barth, que também se responsabiliza pelos cuidados com os hóspedes em sua fazenda. “Vislumbro um bom futuro para nosso ramo, sobretudo se os agricultores forem treinados para pensar como empreendedores”, comentou.

Atrás do balcão Schweizer Fleisch (“Carne Suíça”), o açougueiro Peter Schneider, de Berna, enfatizou que “o melhor que há em se trabalhar com produtos agrícolas na Suíça é a garantia da origem. A gente sabe onde foi produzido, quem produziu e como produziu”. O profissional acredita que “a confiança é o quesito mais importante quando se fala em alimentos” e ainda afirmou com naturalidade: “A situação do setor agrícola não se difere muito da dos demais setores da economia suíça. Os preços estão bons, não há sobras nem desperdício. Acho que os produtores e agricultores precisam se adaptar. No futuro, as grandes empresas se tornarão ainda maiores e as pequenas só terão chances se forem especializadas ou orientadas com excelência a certos nichos.”

Presença marcante

Representando a pequena fábrica de chocolate Stella na feira berlinense, a suíça Susan von Känel opinou de maneira semelhante a seus compatriotas. Atenta às dificuldades, a chocolateira se revelou otimista com relação ao futuro do setor agrícola do país: “Os grandes são muito poderosos. Por isso boas chances para as pequenas fábricas de chocolate estão nos segmentos especializados, por exemplo o diabético.” Ela contou que o seu objetivo ali não era divulgar as várias marcas famosas de chocolate da Suíça, mas sim expandir os negócios de muitas fábricas menores que ainda são desconhecidas pelo público internacional. “Nós queremos promover os produtos das pequenas unidades fabris, que também produzem com extrema qualidade”, resumiu.

Entre raridades e notoriedades, enfim, a Suíça e os suíços fazem bonito sobre exatos 1.116 metros quadrados divididos entre 17 mini-estandes, um restaurante e dois bares no centro de convenções “Messe Berlin”, numa mistura ideal de tradição e modernidade, até 27 de janeiro, quando termina a Semana Verde na Alemanha. E apesar de a feira estar prestes a acabar, motivo para pressa não há: enquanto existir clientela antenada à alta qualidade e ao consumo consciente de alimentos, haverá espaço para os produtores e os produtos suíços. Afinal, quem confia no seu taco, e faz por merecer, vai realmente longe.

swissinfo, Bianca Donatangelo, Berlim

A agricultura helvética em números:
– a população rural da Suíça compreende cerca de 260.000 pessoas, o que representa cerca de 3% da população total. Há três anos, uma mulher a cada dois homens deste grupo trabalhava com agricultura;
– em 2005 foram contabilizados 64.000 empresas agrícolas ocupando 10.651 km² de terra, o que significa em média 16,7 hectares por empresa. Cerca de 33% do território agrícola da Suíça pertence a empresas que ocupam áreas de 30 hectares ou mais;
– pouco mais que 1/3 do solo suíço pode ser aproveitado pela agricultura. O restante se divide entre florestas, terreno impróprio para agricultura e áreas urbanas;
– em 2006, a área agrícola aproveitada constituía-se de 1,06 milhão de hectares, sendo que 96% deste aproveitamento ocorre segundo padrões ecológicos reconhecidos;
– em 2005, a Suíça possuía 1.555.000 cabeças de gado, 1.609.000 suínos, 446.000 ovinos, 74.000 cabras e 8.117.000 frangos;
– em 2006, a Suíça produziu mais de 3,9 milhões de toneladas de leite de vaca. Desta quantia, a produção de queijo e manteiga consumiu cerca de 210.000 toneladas;
– no mesmo ano, o país produziu 103.100 toneladas de carne bovina, 243.300 toneladas de carne suína, 51.700 toneladas de carne de frango, 635 milhões de ovos e 3.700 toneladas de mel;
– a produção de cereais na Suíça perfez em 2005 um total de 1.054.500 toneladas;
– neste mesmo ano a Suíça produziu aproximadamente 292.600 toneladas de frutas, legumes, hortaliças e nozes;
– as exportações de produtos agrícolas geraram em 2006 aproximadamente 185 milhões de francos para a Suíça, representando assim pouco mais de 1% do total de 184,9 bilhões exportados pelos suíços no período. Ainda em 2006, as importações de produtos agrícolas para a Suíça custaram cerca de 177 milhões de francos suíços. Neste ano, a produção agrícola geral rendeu ao todo 9,722 bilhões de francos suíços para o país;
– a agricultura nacional atende cerca de 60% da demanda por alimentos na Suíça, sendo que nos casos da batata, das carnes, do leite e da manteiga consumida no país praticamente não há necessidade de importação.
Fonte: Serviço de Informação Agrícola (LID) e Associação Suíça de Agricultores (SBV), 2008

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