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Suíços precisam ser mais cautelosos no exterior

Retorno do casal de reféns suíços em15 de março, após nove meses de cativeiro no Paquistão. Keystone

O ministro das Relações Exteriores da Suíça quer evitar que os cidadãos do país se aventurem em regiões perigosas.

Para Didier Burkhalter, o ministério já está ocupado demais com a explosão das crises internacionais.

Na terça-feira passada, 27 de março, uma avalanche na Noruega causa a morte de quatro esquiadores suíços. Na quarta-feira, um terremoto no México. Na quinta-feira, um golpe no Mali. Uma semana movimentada, mas nem por isso diferente para Christian Dussey, responsável do Centro de Gerenciamento de Crises do Ministério das Relações Exteriores da Suíça, mas conhecido pela sigla em francês DFAE.

“Em cada crise, parto do princípio que possa haver vítimas suíças. A Suíça está entre os cinco países europeus com maior proporção de viajantes. Devemos estar preparados noite e dia para responder com agilidade, porque as primeiras horas são decisivas”, disse o embaixador Dussey, 46 anos, à swissinfo.ch.

Na semana anterior, dois reféns suíços haviam acabado de ser libertados após nove meses de cativeiro no Paquistão, enquanto um outro suíço, membro de uma ong, era sequestrado no Iêmen. A Suíça enumera ainda um refém nas Filipinas e um desaparecimento no México.

Denunciando a “indústria do sequestro”, o novo chanceler suíço Didier Burkhalter só pôde repetir o que já havia formulado em suas prioridades: “é preciso levar em consideração as responsabilidades de cada cidadão em matéria de segurança pessoal e os limites da intervenção do Estado”.

Em outras palavras, os irresponsáveis vão ter que pensar duas vezes antes de se aventurar pelas terras da Al Qaeda ou dos talibãs, já que o governo pretende cobrar por suas intervenções. Oficialmente, “Berna não paga resgate”, mas a assistência consular em si custa caro, mobilizando muitas pessoas dentro da administração, às vezes durante meses.

Aumento da mobilidade

Cada vez mais caro, pois a mobilidade dos suíços explodiu na última década. Existem 700 mil expatriados (10% da população) e os residentes no país fazem 16 milhões de viagens por ano.

Ao mesmo tempo, o mundo se tornou mais complexo. “Terrorismo, revoltas, desastres nucleares, tsunamis, reviravoltas políticas, gripe aviária, terremotos, primavera árabe, os acontecimentos se aceleraram desde 2008. A essas situações foi adicionado uma série de sequestros”, observa Christian Dussey.

“O que mudou é o fato de que as crises não são sequenciais mas simultâneas. Tudo está acontecendo muito rápido e as expectativas do público, assim como a pressão da mídia, aumentaram. Todos os países europeus estão enfrentando desafios semelhantes.”

Antecipar e prevenir

Foi para atender a esse novo contexto que foi criado o Centro de Gerenciamento de Crises em junho de 2001. O objetivo não é apenas reagir, mas antecipar as crises e prevenir os riscos.

No Ministério em Berna, na “sala de crise”, um “vigia” acompanha as notícias no mundo pela CNN, BBC, France 24 e Al-Jazeera. A cada mês, representantes de todos os departamentos relevantes do governo federal se reúnem na sala para discutir a segurança dos suíços do estrangeiro.

Isto permite aprimorar os Conseils aux voyageurs, as recomendações do país para quem pretende viajar ao exteriora, principal ferramenta de prevenção disponível no site do DFAE e no Twitter. Christian Dussey está bem determinado a mudar os hábitos de seus conterrâneos: “Na semana após o rapto dos dois cidadãos suíços no Paquistão, os pedidos de visto diminuíram radicalmente durante uma semana. Na semana seguinte, eles recomeçaram com tudo. Isto nos deixou perplexos”, disse.

Questão sensível

Em caso de problemas no estrangeiro, a Suíça só intervém como último recurso, depois do cidadão ter tentado tudo. Os casos são tratados pela assistência consular fornecida pelo DFAE. “Os expatriados conhecem os lugares e geralmente conseguem se virar sozinhos. O nosso principal problema são os turistas que não conhecem nada de um país e se aventuram em áreas perigosas”, ressalta o diplomata.

A questão dos reféns é extremamente sensível, pois há vidas em jogo e a cobertura da mídia aumenta ainda mais a pressão. “Nesses casos, a responsabilidade de resolver a crise cabe principalmente ao país onde o sequestro ocorreu. Atuamos apenas de forma subsidiária”, diz o responsável do Centro de gerenciamento de Crises.

swissinfo.ch falou, sob condição de anonimato, com um especialista envolvido em alguns casos de sequestro: “A primeira limitação para a Suíça é o tipo de colaboração possível e a percepção do caso pelo país em causa. É preciso identificar parceiros potenciais, avaliar o grau de confiança que lhes pode ser dado e em seguida, através de intermediários, começar a negociar”.

“Por definição, um país não pode dizer que pagou um resgate, mas em muitos casos os reféns voltam vivos, portanto, alguma coisa aconteceu para serem liberados. Mas nunca é simples, porque um país não pode pagar resgates sem passar pelo governo em causa, esta é uma questão de soberania. Também pode acontecer dos sequestradores falarem diretamente com as famílias. É bem o estilo do Abu Sayyaf nas Filipinas, onde a pirataria é uma velha tradição. Enfim, um Estado de direito como a Suíça também não pode fazer uma operação de resgate de reféns”, acrescentou o especialista.

Melhorar a competência

O Centro de Gerenciamento de Crises também quer melhorar a preparação do pessoal diplomático. “A crise maior é quando uma embaixada se torna um centro de emergência. Pode até acontecer que sua segurança seja ameaçada. Houve 15 crises em 2010 e 12 em 2011 onde foi necessário nossa intervenção”, explica o embaixador Dussey.

Uma rede de crise foi criada em todos os continentes, com equipes prontas a intervir imediatamente no local em 3-4 horas. Também organizamos cursos com testes de stress durante 24 horas.

As novas mídias desempenham um papel cada vez mais importante. “Tudo começou durante o terremoto no Haiti, em 2010, as famílias puderam se comunicar através do Facebook. Hoje, geralmente informamos os suíços em dificuldade através de torpedos”, diz Christian Dussey.

No final, “cada caso é uma experiência que nos permite aumentar nossa competência e eficácia”, observa o diplomata.

A Divisão de Assuntos Políticos VI do Ministério das Relações Exteriores da Suíça (DFAE) foi formada em 1999 após o atentado de Luxor de 1997.

Ela inclui os serviços para os suíços no exterior, a proteção consular e, desde 1° de junho de 2011, o Centro de Gerenciamento de Crises (KMZ, da sigla em alemão) e as recomendações para viagens.

O KMZ criou um sistema de monitoramento e de alerta da situação internacional e um pool de intervenção com 270 voluntários nos cinco continentes.

Em matéria de prevenção, o KMZ transmite pela internet e pelo as recomendações para viagens do DFAE sobre 157 países. O serviço dispõe de doze colaboradores e um orçamento de 400 mil francos por ano.

Criada em 1° de janeiro de 2011, a “Helpline DFAE” conta com 10 colaboradores, funciona 24 horas e recebe em média 2000 chamadas e e-mails por mês.

No caso de uma crise grave, uma “linha direta” com 16 voluntários pode ser estabelecida.

(Fonte: DFAE)

Adaptação: Fernando Hirschy

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