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Suíça é um supermercado de armas (I)

Pistola Desert Eagle, calibre 500 Action Express à venda por internet na Suíça. www.waffenmarti.ch

A lei sobre armas na Suíça é uma das mais liberais da Europa. Venda de pistolas, fuzis e metralhadoras é praticamente livre entre particulares. Mercados estão até na internet.

Apego às armas é fruto de tradições suíças como o exército de milícia.

Uma notícia teve destaque na imprensa há poucas semanas. “Da prisão para a escola de recrutas” era a manchete publicada no jornal “Tagesanzeiger”, em dois de abril de 2003. A reportagem contava a história de P.M, um jovem suíço de 23 anos que havia entrado num bordel e baleado uma massagista com seu fuzil.

O fato não teria repercussão, se não fosse um detalhe picante: cinco anos antes, P.M havia atirado com uma metralhadora contra três policiais, ferindo-os. Condenado, ele cumpriu quatro anos de prisão. Ao ser libertado, M. foi convocado a servir o exército, onde ele aprendeu o manejo de armas leves e pesadas. O fuzil que quase matou a prostituta em Zurique era do exército e, como é de costume na Suíça, estava guardado na casa do autor do crime.

Atualmente o exército e outros orgãos governamentais discutem para saber quem teve responsabilidade no caso. Possivelmente, uma nova lei será criada para impedir que o incidente se repita.

A história é verdadeira e mostra uma faceta pouco conhecida da Suíça. O país esconde um grande arsenal que é encontrado não só nos quartéis ou postos policiais, mas também em grande parte dos lares.

Armas fazem parte do dia-a-dia e é muito fácil comprá-las. Para entender a grande tolerância e contato dos suíços com fuzis, metralhadoras e pistolas, é preciso relembrar um pouco da sua história.

Tradição do exército de milícia

Apesar da conhecida neutralidade, a Suíça está longe de corresponder à sua imagem pacífica e bucólica. Nos seus setecentos anos de história, o país passou por fases de guerras expansivas e seus habitantes já foram conhecidos pela ferocidade nos campos de batalha. Quando não estavam guerreando em combates internos, soldados suíços vagavam por toda Europa lutando em troca de salários como mercenários para exércitos estrangeiros.

Ao mesmo tempo a Suíça sempre foi o pequeno país, cercado de grandes potências como a Alemanha, França e Áustria. Durante a sangrenta história européia de guerras, a pequena nação foi muitas vezes envolvida nos conflitos, chegou a ser invadida e aprendeu a se defender. A neutralidade existe, mas é armada.

Ao contrário de muitos países ocidentais, a Suíça dispõe desde um sistema de forcas armadas de milícia. Isso significa que grande parte dos cidadãos masculinos no país tem uma vida militar paralela à vida civil. Os jovens suíços são convocados a servir o exército a partir dos 20 anos e só são liberados completando 42 anos. Depois da formação inicial, eles treinam em turnos de três semanas por ano. Suas armas de uso pessoal – pistolas, fuzis de assalto e uma lata contendo 24 balas – são guardadas em casa, no porão ou na dispensa. As balas devem estar em locais diferentes das armas, para evitar acidentes ou roubos. Essa tradição é antiga: em 1851 uma lei já mencionava essa prática.

Nem governo sabe quantas armas estão em circulação

De acordo com estatísticas de 2002 do exercito suíço, existem atualmente 841.250 fuzis e pistolas guardadas por soldados da ativa e da reserva nas suas casas. Os reservistas ganham, depois de dispensados do serviço militar, suas armas.

Além desse grande arsenal, existem as armas que são adquiridas no mercado livre por colecionadores, caçadores e desportistas. Devido ao sistema federativo e sua administração descentralizada, a Suíça não dispõe de nenhum registro de armas para todo o país. Nenhuma autoridade federal ou estadual sabe exatamente quantos fuzis, pistolas ou metralhadoras estão em circulação.

Um grupo de trabalho denominado “The International crime victim surveys”, formado por diversas organizações internacionais, calcula que, em um de cada três lares suíços, exista uma arma de fogo. A grande parte delas é militar. Cerca 13% dos lares possuem uma ou mais armas privadas.

Outras fontes, como o respeitado jornal de Zurique, “Neue Zürcher Zeitung”, calculam que existam mais de um milhão de armas na Suíça, fora as militares. Porém esses números são estipulados.

reportagem continua na 2a. Parte. Clique aquiLink externo.

swissinfo, Alexander Thoele

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