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Suíça aposta na modernização da Rússia

A Rússia é cobiçada por empresários suíços. Reuters

O ministro suíço da Economia, Johann Schneider-Ammann, está na Rússia acompanhado por uma delegação de representantes da economia.

O objetivo é preparar o terreno para um aumento dos intercâmbios comerciais entre os dois países.

Desde 2005, a prioridade da política externa suíça é aumentar o intercâmbio com os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). É neste contexto que se insere a viagem do ministro da Economia à Rússia e, provavelmente também ao Brasil, ainda este ano.

O ponto alto dos quatro dias na Rússia será o encontro com o presidente Dimitri Medvedev. A presidente da Suíça, Micheline Calmy-Rey, também estará presente.

A  conversa deve girar em torno do acordo de livre-comércio atualmente em preparação e um novo compromisso da Suíça com o movimento de modernização da Rússia. A Suíça anunciou que “os dois ministros assinarão uma declaração comum de cooperação na modernização da economia”.

A Rússia é considerada como um mercado de primeira linha para o comércio suíço pelo tamanho (142 milhões de habitantes) e pela sua necessidade urgente de melhorar as infraestruturas, em particular no setor de produção de energia.

“As negociações relativas a um acordo de livre-comércio entre os países da Associação Europeia de Livre Comercio (AELE, da qual a Suíça faz parte) e os membros da união alfandegária entre a Rússia, a Bielorrúsia e o Cazaquistão foram abertas em novembro de 2010; outras rodadas de negociações ocorrerão este ano”, afirma o governo suíço através de uma comunicado.

Competência suíça

Entre os vinte empresários da delegação suíça, Urs-Peter Wepfer dirige uma empresa de assessoria e logística, presente na Rússia desde 1999.

De acordo com ele, a Suíça poderia tirar proveito dos esforços da Rússia para melhorar sua indústria energética, suas estradas, ferrovias e portos. A Rússia também está acelerando sua modernização com vistas aos Jogos Olímpicos de Sotchi em 2014, o Mundial de hóquei no gelo em 2016 e a Copa do Mundo de futebol em 2018.

“O potencial para os investidores e exportadores estrangeiros é enorme porque os custos da modernização são garantidos pelo governo russo”, explica Urs-Peter Wepfer.

“Os russo precisam de equipamentos de alta qualidade e de conhecimento em alta tecnologia, ferramentas de precisão, da construção de máquinas e das ferrovias; o conhecimento suíço é procurado porque temos experiência de problemas que ocorrem em condições topográficas e climáticas similares”, acrescenta Urs-Peter Wepfer.

Mercado enorme

Grandes empresas suíças já estão estabelecidas na Rússia. O fabricante de cimento Holcim vai inaugurar  uma nova fábrica perto de Moscou na próxima semana. A Novartis decidiu investir 420 milhões de francos no desenvolvimento de seu mercado na Rússia, nos próximos cinco anos. A Sulzer abriu uma nova fábrica no ano passado.

A Sulzer, especialista em bombas industriais, e a Oerlikon, que produz equipamentos de energia solar, estiveram recentemente nas páginas dos jornais quando foram compradas pela Renova, empresa instalada na Suíça do milionário russo Viktor Vekselberg.

Segundo Vladimir Kuznetsov, executivo próximo de Viktor Vekselberg na Renova e membro do conselho de administração, para entrar no mercado russo é preciso tempo, perseverança e escolher a estratégia certa”.

Ele explica que “a Rússia é um enorme mercado, mas não se ganha dinheiro facilmente. Não existe uma chave mágica para abrir portas e as empresas têm de lutar para dar certo. É importante começar pela base como falar russo, formar uma equipe local para produzir, garantir a manutenção e os serviços, com centros baseados na Rússia”.

O problema da corrupção

Segundo Urs-Peter Wepfer, são necessários aproximadamente dois anos e meio milhão de francos suíços de capital de investimento para que uma empresa estrangeira comece a ter lucro na Rússia. Os especialistas recomendam também aos investidores terem um plano de saída para evitar perdas ulteriores, se a estratégia não der certo em três anos.

Outro grande problema é a corrupção. Apesar da luta para reduzir a influência do governo nas empresas, a Rússia é classificada 154ª posição em 178 no índice 2010 da Transparência Internacional, em que o último da lista é o de maior corrupção.

Isso não impede a delegação de ter um programa intensivo durante quatro dias. “Na capital russa haverá uma mesa redonda sobre inovação em que empresários russos apresentarão projetos inovadores a se realizarem em Skolkovo, perto de Moscou, onde será instalado o centro de desenvolvimento e de comercialização de novas tecnologias”, conforme comunicado do governo suíço.

Como essa futura “Silicon Valley” russa, o Technopark de Zurique e a Escola Politécnica Federal (EPFZ) já assinaram uma carta de intenções em 2010.

Quanto à antiga ministra da Economia, Doris Leuthard, hoje ministra dos Transportes, Comunicações, Energia e Meio Ambiente, tinha prolongado o plano de cooperação com a Rússia até 2013. Johann Schneider-Ammann vai se encontrar com sua homólga russa, Elvira Nabioullina, para assinar um novo acordo de cooperação.

A Suíça e a Rússia mantém contatos regulares desde o século 18. No século 19, a Rússia fazia parte das grandes potências que garantiam a neutralidade suíça.

Nos séculos 19 e 20, a Suíça atraiu numerosos artistas russos, estudantes e dissidentes, entre eles Lênin, que passou vários anos como exilado na Suíça. Depois da Revolução Russa de 1917, a Suíça rompeu relações diplomáticas (1918). Foram restauradas somente em 1946.

Entre o final dos anos 1990 e 2007, as relações entre os dois países foram tensas. A queda de um avião emÜberlingen, com a morte de 71 pessoas, a maioria russas, no espação aéreo controlado pela Suíça, esfriou os contatos entre Berna e Moscou.

A prisão do antigo ministro russo da Energia Evgeny Adamov em Berna em 2005 e a decisão de extraditá-lo para os Estados Unidos piorou ainda mais as relações. Finalmente, Evgeny Adamov foi extraditado para seu próprio país.

O processo contra Viktor Vekselberg, acusado de compra ilícita de ações da OC Oerlikon em 2008, mas absolvido em 2010, também foi acompanhado com atenção na Rússia.

As relações diplomáticas voltaram ao normal recentemente, com a mediação suíça entre a Rússia e a Geórgia, depois da breve guerra entre ambos, em 2008. 

 

A Suíça também apoia a adesão da Rússia à Organização Mundial do Comércio (OMC), bloqueada justamente pela Geórgia.

As trocas comerciais entre a Suíça e a Rússia aumentaram depois da crise econômica.

Em 2010, as importações da Rússia (1 bilhão de francos, +41% em relação ao ano anterior) e as exportações para a Rússia (2,6 bilhões de francos, +26% comparadas ao ano anterior) vem crescendo constantemente.

 O volume de investimentos diretos suíços na Rússia totalizam 6,2 bilhões de francos no final de 2009 (2008: 5,3 bilhões)

As empresas suíças empregam cerca de 75 mil pessoas na Rússia.

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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