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As incríveis histórias dos suíços na Nova Zelândia

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Um grupo de garimpeiros em 1880. À direita está o guia Jakob Lauper Libreria nazionale, Wellington

O que levou milhares de suíços a emigrarem para o outro lado do mundo? Em seu livro “Swiss Settlers in New Zealand”, Joan Waldvogel, uma pesquisadora nascida na Suíça, vai atrás da história dos suíços instalados na Nova Zelândia.

O pintor John Webber, filho de um escultor bernês, foi o primeiro suíço a emigrar para a Nova Zelândia. James Cook contratou-o em 1776, durante a sua última expedição ao Pacífico. Milhares de outros suíços vieram depois. Em seu livro Swiss Settlers in New Zealand – a history of Swiss immigration to New Zealand, a socióloga Joan Waldvogel traça as vidas dos imigrantes suíços desde os anos 1860 até os dias de hoje através de 400 páginas.

swissinfo.ch: De todas as biografias que você estudou para esse livro, qual marcou mais você?

Joan Waldvogel: Gostaria de mencionar duas delas. A de Antonio Zala e Heinrich Suter, dois homens que correram atrás de seus sonhos durante toda a vida, para alcançar um modesto sucesso. Antonio Zala era do cantão do Ticino e emigrou para a Nova Zelândia no final dos anos 1860. Era um garimpeiro de ouro, pequeno em tamanho, mas com força hercúlea e grande coragem. Dizem que descobriu o veio de ouro do Lyell, na Ilha do Sul, não muito longe da costa oeste. Uma vila de garimpeiros até levou o seu nome: Zalatown, agora uma cidade fantasma.

Aqueles que, como ele, seguiram a corrida do ouro tiveram que lutar contra a natureza selvagem em áreas montanhosas difíceis de acesso. Antonio Zala passou sete anos intermináveis cavando um túnel de 1000 pés na rocha com uma picareta e uma pá para alcançar o filão. Quando, no final de 1893, um jornalista lhe perguntou como ele conseguia sobreviver sozinho em um lugar tão selvagem, ele respondeu que lia os poemas de Petrarca todas as noites à luz de velas e depois os cantava como uma canção para ninar. Apesar de todos os seus esforços, Antonio Zala não prosperou. Morreu na pobreza em 1902.

Já Heinrich Suter era um acadêmico…

Sim, Heinrich Suter emigrou em 1886 com sua esposa e seus sete filhos. Antes disso, formou-se em química e trabalhou na fábrica de seda da família, onde assumiu a gerência. Em meados de 1880, a empresa faliu. Heinrich Suter teve, então, que encontrar novas perspectivas. Ele emigrou para a Nova Zelândia, onde esperava ter sucesso graças ao seu grande interesse pela natureza, especialmente pelos moluscos.

Os Suter deixam estão o conforto de Zurique. A família abandona sua alta posição social e a mansão cheia de empregados. Para economizar dinheiro, eles viajam em terceira classe, misturando-se com pessoas comuns. A princípio, a família planejava viver de sua horta, enquanto Henry – como passou a ser chamado na Nova Zelândia – procurava um emprego em uma universidade ou museu. Mas a terra não é muito fértil. O cientista deve encontrar outra forma de alimentar a grande família. Embora tenha sido rapidamente reconhecido pela comunidade científica pelos seus estudos sobre os moluscos, ele só consegue trabalhos esporádicos. Em 1913, pouco antes de sua morte, Henry Suter publicou um livro sobre os moluscos da Nova Zelândia.

Com o fim da corrida do ouro, as razões para a emigração mudaram. O que motiva os suíços a se estabelecerem na Nova Zelândia?

De 1870 até à Primeira Guerra Mundial, muitos suíços quiseram adquirir suas próprias terras, um sonho tão grande como o do ouro. Durante este período, os suíços se estabeleceram principalmente na região do vulcão Taranaki. O primeiro, Felix Hunger, veio do cantão dos Grisões e se estabeleceu lá em 1870. Ele volta à Suíça para buscar sua esposa e retorna à Nova Zelândia em 1875 com outros 24 compatriotas para fundar a primeira comunidade suíça. Seguem-se muitos outros que, por sua vez, atraem outros parentes e conhecidos.

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A partir de 1870, muitos emigrantes suíços se estabeleceram na região do vulcão Taranaki (fotografado aqui em 1969) Libreria nazionale, Wellington

Nos últimos 150 anos, milhares de suíços emigraram para a Nova Zelândia. Como é que eles ajudaram a construir o país?

Apesar de nunca terem formado um grande grupo, a sua contribuição foi muito importante. Nos primeiros anos da colonização, as empresas pioneiras de alguns suíços abriram novos caminhos em regiões inacessíveis. Jakob Lauper, por exemplo, foi encarregado de encontrar uma passagem que ligasse a costa leste à costa oeste da Ilha do Sul. Além disso, as primeiras ascensões das montanhas mais altas da Nova Zelândia têm o nome de imigrantes suíços. Eles também desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento da indústria de laticínios na região de Taranaki.

E qual foi a contribuição dos suíços no pós-guerra?

A partir dos anos 60, muitos agricultores emigraram. A chegada deles incentivou o desenvolvimento da pecuária na Nova Zelândia, em especial de bovinos e ovinos. Outros promoveram o setor do turismo, abrindo hotéis e restaurantes. A Nova Zelândia também se beneficiou da excelente experiência dos artesãos e comerciantes suíços, transmitida à população local através das empresas que fundaram. Cientistas, escritores e artistas suíços também deixaram um legado precioso, como o livro de Henry Suter, ainda hoje considerado a mais importante publicação sobre moluscos na Nova Zelândia.

Em 1886, quase metade dos 393 suíços da Nova Zelândia já tinha se estabelecido na Ilha do Sul. Em 1916, 89% dos 670 suíços viviam na Ilha do Norte, quase metade deles em Taranaki. Atualmente, a maioria dos suíços (78%) reside na Ilha do Norte, principalmente em áreas urbanas. As pessoas de origem suíça representam atualmente 0,07% da população total (quase 5 milhões de habitantes).


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Adaptação: Fernando Hirschy

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